segunda-feira, 23 de abril de 2018

Plano B, transferência de votos e palanques estaduais


Jaldes Meneses

A ideia de “Plano B” é um equívoco, tanto pela maneira que foi articulado, nitidamente visando rebaixamento programático pós-golpe e o retorno a um acordo com uma burguesia perdida, como também por não corresponder ao anseio presente da militância de esquerda (ver a interessante entrevista, que serve como pesquisa qualitativa, publicada ontem na Folha de S Paulo, com 10 eleitores de Lula, escolhidos aleatoriamente). Essa militância, bem como os eleitores mais fieis, estão focados nas lutas e campanhas pela saída de Lula da cadeia. Para esses, por bons motivos, só existe “Plano L”.



No entanto, certamente mais tarde, quando a candidatura Lula for impugnada no TSE, chegará a hora de passar o bastão da candidatura a um novo nome. As pesquisas demostram a capacidade de transferência de votos de Lula. Não vou repetir números, nem os prognósticos de políticos e pessoas experientes em campanha. Apenas gostaria de observar que, conquanto a capacidade de Lula transferir votos, sem dúvida, ser elevada, ele não é mágico. Seria ingênuo pensar que transfere votos para qualquer um de qualquer jeito. Transferência de votos se dá, em primeiro plano, por indicação de liderança carismática. Mas também, mesmo no plebiscitário presidencialismo brasileiro, por mediação de lideranças e estruturas políticas (especialmente os partidos).



A transferência de votos só será crível se o discurso do novo candidato mantiver firmeza na crítica ao programa neoliberal do governo Temer. Fazer essa crítica agora, inclusive, está mais fácil em função da colheita de péssimos resultados. Até os escribas da grande imprensa, radicais na defesa do programa econômico de Temer, jogaram a toalha. Começa a haver um consenso que a economia brasileira estagnou.



Em que pese diferenças de ênfase, ou mesmo dificuldade de formulação de um programa econômico com começo, meio e fim, todos os candidatos situados entre o centro e a direita (de Marina a Bolsonaro, passando pelo desidratado Alckmin), apoiaram o golpe do Impeachment de Dilma - que se mostrou um grave retrocesso -, como deram sustentação às diretrizes do programa econômico “Uma ponte para o futuro” - que mergulhou o Brasil na estagnação. Esses são os principais responsáveis pela situação do Brasil. Alguns pretendem se esconder nas vestes diversionistas de “novos”, outsiders. Repetidores encabulados do programa de Temer, serão desmascarados, por não terem, de fato, respostas para o Brasil sair da crise.



O novo candidato precisará de capacidade de aglutinar alianças políticas e palanques amplos, principalmente vinculando a candidatura presidencial a candidatos competitivos a governador no espectro da esquerda e centro-esquerda. Neste aspecto, o nordeste é um laboratório importante. A "frente antigolpe”, especialmente no nordeste, pode - e deve - ser ampliada no sentido de impor uma derrota nacional global ao centro e à direita política, vencendo a eleição presidencial, dos governadores e contribuindo com a ampliação da bancada de deputados de esquerda.



Oito governadores do nordeste, mais um da região norte, estiveram em Curitiba visitando Lula na primeira semana da prisão. Manter esses governos, aliados e do próprio PT - a maioria dos quais de inegáveis resultados democráticos e populares -, impõe-se na condição de tarefa de primeira ordem, visando contribuir para a vitória nacional da esquerda.



Cada Estado deve ser analisado na sua particularidade. Exatamente por isso seria crasso erro de análise confundir linearmente alianças regionais e estaduais amplas, ainda mais nos estados periféricos, pura e simplesmente com alianças estratégicas com o grande capital, tipo o acordo de cúpula com o capital financeiro, expresso pela “Carta ao povo Brasileiro” de 2002. São vinhos de odres diferentes.



Jaldes

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