domingo, 31 de dezembro de 2017

A entrevista de Freixo


Jaldes Meneses

Último dia do ano é tempo de por as barbas de molho, descansar uns três dias do debate político que o ano quente de 2018 vem por aí e ninguém é de ferro. Mas chegou a entrevista de Marcelo Freixo à Folha e o debate agitou em dias mornos. Evidentemente, a entrevista mostra um personagem circunstancialmente deslumbrado consigo mesmo, cujo narcisismo foi aproveitado por uma repórter esperta. Haveria muita coisa a comentar, a exemplo da opinião ingênua e unilateral de Freixo sobre as mobilizações de junho de 2013; da maneira “caseira” pela qual ele se acha o fiador da candidatura de Guilherme Boulos à presidente da república pelo PSOL, etc.



Contudo, a questão central e mais urgente da entrevista é escancarada na própria manchete: no entendimento do deputado Freixo, quadro ascendente da esquerda brasileira, o centro da tática em 2018 não é a unidade da esquerda, desde já, mas esperar a eventualidade de um segundo turno. O primeiro turno seria melhor aproveitado para marcar posição e consolidar identidades, cada um correndo em faixa própria. Equívoco total.



Antes de tudo, caso a candidatura Lula seja realmente impedida a necessidade de unidade de esquerda no primeiro turno se torna mais e não menos necessária. Ou seja, falando claramente, será preciso que as direções do PT, PSOL, PCdoB, PDT e personalidades de outros partidos, como Ricardo Coutinho e Roberto Requião, formulem um pacto de ação comum que resulte numa candidatura única contra o golpe, pelos direitos sociais e em defesa da soberania nacional.



Na repercussão da entrevista de Freixo, apareceu uma opinião tergiversada de que a “frente única” de esquerda deve ser pela base. Essas formulações têm história. Sem dogmatismos livrescos, sempre é o caso de relembra-las. Nem nos momentos mais desvairados, entre 1928 e 1934, quando o VI Congresso da Internacional Comunista (1928), sob o controle de Stalin, aproveitando uma formulação infeliz do expurgado Zinoviev, afirmou que “social-democracia” era igual a “social-fascismo”, jamais afastou-se, ao menos retoricamente, a possiblidade de uma “frente única pela base”. A questão não é essa. De certo modo, já existe ente nós uma “frente única pela base”, expressa no combate às reformas de Temer. O que falta é o passo seguinte: que a frente única alcance as direções políticas. Há males que chegam para o bem: que a entrevista deslumbrada de Freixo sirva para estimular um debate urgente e necessário.



Redigido vendo o sol raiar em Tabatinga, bela praia do litoral sul da Paraíba.



Belo 2018 para todos nós!

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