segunda-feira, 1 de maio de 2017

Jornalismo de Guerra

Jaldes Meneses

Fui conduzido, ontem à tarde, após a leitura de excelente texto de Igor Felippe, publicado no Jornal GGN, ao seguinte insight, repleto de conclusões políticas, teóricas e estratégicas: a grande mídia brasileira - especialmente a maior de todas, o conglomerado da Rede Globo - pratica, no Brasil de hoje, um jornalismo de guerra. Por consequência, o jornalismo de guerra resulta numa espécie de militarização da imprensa.

Não se realiza mais a cobertura de um evento como a greve geral de ontem a partir da premissa do contraditório e da abertura democrática a versões alternativas. Não houve cobertura da Rede Globo na greve de ontem, mas guerra psicológica. Cria-se, adota-se, uma versão à priori dos acontecimentos e dá-se, através da repetição insistente, uma musculatura de verdade fabricada à versão. Não se busca a verdade, não se concede brecha ao empirismo de investigação dos fatos. O repórter é apenas um autômato, um papagaio a soldo.

Pode-se objetar que esse tipo de prática, é claro, sempre existiu na imprensa, desde os achaques romanceados por Balzac. Certamente, mas como desvio da ética jornalística. Ontem, estivemos diante da novidade de um discurso compacto totalmente orientado de cima para baixo e sem abrir brechas ao contraditório. Isto é guerra. Em postagem anterior mencionei Clausewitz (a propósito, o chefe militar que mais valorizou, no século XIX, a dimensão psicológica da guerra). Mas, bateu na memória outra referência importante: a tela/olho controlador do Grande Irmão de 1984. Todos nós viramos espécies de Winston (s) Smith (s), o protagonista do romance de George Orwell. A metáfora é gasta pelo uso, mas o tempo do Departamento da Verdade - repartição estatal incumbida da fabricação da verdade, na qual trabalhava Winston -, chegou. Plin plin.

PS: li, no sítio da revista Fórum, na manhã de hoje, um artigo - excelente - do jornalista Rodrigo Vianna que, por outras vias e referências, chegou à mesma conclusão que eu. Quando duas pessoas falam o mesmo discurso em lugares diferentes, é sintoma que a ideia se aproxima da verdade.



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