terça-feira, 6 de outubro de 2015

Antes de zerar morte por tráfico, Uruguai proibiu programas policiais


Pior que o original são as cópias
 

Mujica vetou a exibição de atrações similares ao 'Cidade Alerta' das 6h até 22h, justificando que tais programas promovem atitudes violentas.

 

Igor Carvalho - CUT

 

Incrédulo, o Brasil assistiu, ao vivo, um policial disparar quatro tiros contra dois jovens que já estavam rendidos após longa perseguição de moto. As imagens foram transmitidas, ao mesmo tempo, pelos programas “Cidade Alerta” e “Brasil Urgente”, apresentados por Marcelo Rezende e José Luis Datena, respectivamente.

 

Imediatamente, os dois apresentadores saíram em defesa do policial. “Se ele atirou é porque o bandido estava armado. E ele fez muito bem”, disse Rezende. “Não sei se os caras apontaram o revólver para o policial, não vi. Provavelmente, sim”, afirmou Datena.
 

A postura de Datena e Rezende dá o tom dos programas, que são reconhecidos por fazer apologia à violência policial, lançando mão do discurso de que “bandido bom é bandido morto”. Ambos narram com entusiasmo as perseguições e as ações da PM pelas periferias paulistas.
 

Em junho de 2012, quando o Uruguai sofria com o avanço de 70% no número de homicídios, o presidente José Mujica anunciou um pacote de medidas para conter a criminalidade no País. Estudos e pesquisas conduzidos pela equipe do presidente concluíram que era preciso um conjunto de ações que atacasse o tráfico de drogas.
 

O documento “Estratégia pela vida e convivência”, que continha 15 medidas, foi anunciado e se tornou mundialmente conhecido porque nele o Uruguai anunciava que passaria a gerir a produção e distribuição de maconha no país. Dessa forma, o Estado assumia o posto de fornecedor da maconha aos uruguaios, era um golpe econômico nos narcotraficantes.
 

Na outra extremidade, preocupava a ação policial. Os superpoderes dos agentes nas ruas precisavam ser combatidos, assim como a sensação de impunidade. Por isso, entre as medidas tomadas pelo governo, estava a proibição da exibição de programas policiais [similares ao “Cidade Alerta” e “Brasil Urgente”] entre 6h e 22h. A alegação é que essas “atrações televisivas” promovem atitudes ou condutas violentas e discriminatórias.
 

Dois anos depois, em junho de 2014, o governo uruguaio anunciou que as mortes ligadas ao tráfico de drogas foram zeradas no país.
 

Nesta quarta-feira (24), a PM anunciou que o policial responsável pelos disparos nos jovens rendidos foi preso administrativamente. O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, disse que o policial cometeu uma "séria irregularidade".

 

Carta Maior

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