quinta-feira, 20 de junho de 2013

O Futebol Socialista Norte-Americano



O futebol brasileiro precisa aprender com o futebol socialista norte-americano.

O futebol norte-americano tem uma das ligas esportivas mais poderosas (leia-se ricas) do mundo, a NFL. Pois no futebol dos EUA, capital do capitalismo, os times ganham a mesma coisa. Os clubes fazem um fundo único e dividem tudo igualmente entre os 32 clubes.

José Roberto Torero

O título acima é bem estranho. Mas tem um fundo de verdade.

O leitor, com razão, pode achar esquisito que o futebol brasileiro tenha que aprender algo do futebol americano, que é jogado com as mãos. E mais esquisito ainda chamar o futebol gringo de comunista. Mas vamos aos fatos:

O futebol norte-americano tem uma das ligas esportivas mais poderosas (leia-se ricas) do mundo, a NFL. E faz isso com um esporte que é jogado apenas lá, tendo rivais internos gigantescos, como o basquete e o beisebol.

Lá, por exemplo, um time de Wiscosin, cidade de 100 mil habitantes, pode chegar à final do campeonato. É como se o Sertãozinho ou o Guaratinguetá fossem campeões ou vices do nosso campeonato nacional.

No Brasil, as diferenças de arrecadação entre os clubes com os direitos de tevê são enormes. O Corinthians e o Flamengo ganham cerca de cinco vezes mais que clubes como Criciúma e Ponte Preta.

Pois no futebol dos Estados Unidos, capital do capitalismo, os times ganham a mesma coisa. Não, não é como na Itália ou na Inglaterra em que há uma divisão ponderada, respeitando-se colocação no campeonato, torcida e tradição do clube (o que já seria muito mais justo que no Brasil). Nos EUA os clubes fazem um fundo único e dividem tudo igualmente entre os 32 clubes.
Isso mesmo, igualmente.

A ideia da NFL é que o campeonato será melhor se os times forem mais parelhos. Marx não acharia ruim.

E a ideia não possui apenas fumos de socialismo. Tem também um pouco de anarco-sindicalismo. É que os clubes formaram uma liga independente e fazem uma autogestão. Nada de CBF por lá. Nada de uma entidade centralizadora sugando verbas e vomitando regras. Foram os próprios clubes que chegaram à conclusão de que era melhor dividir tudo igualmente.

Se Marx não acharia ruim, Bakunin aplaudiria.

Falando em célebres personagens da esquerda, recentemente Antonio Cândido falou que o socialismo é uma doutrina triunfante, pois “o grau de igualdade de hoje foi obtido pelas lutas do socialismo”. Segundo o nosso principal crítico literário, “o socialismo é o cavalo de Troia dentro do capitalismo. Se você tira os rótulos e vê as realidades, vê como o socialismo humanizou o mundo”.

Isso ajuda a entender este viés socialista da NFL.

Mas, infelizmente, o Brasil não está atrás apenas dos EUA em distribuição de renda.

Na Itália, que teve um Partido Comunista inovador, a divisão é assim:

- 40% são divididos igualmente.

- 30% são repartidos de acordo com a torcida (25% pelo número de torcedores e 5% pela população da cidade-sede).

- e 30% são regateados conforme a performance (5% relativos à última temporada, 15% relativos ao quinquênio precedente e 10% desde a temporada 1946/47)

Mas esta divisão não garante uma igualdade exemplar. No último campeonato, o campeão ganhou 100 milhões de euros da tevê e o Pescara, 24 milhões. Ou seja, o lanterna recebeu 24% do total do Juventus, apenas um pouco melhor que a divisão do futebol brasileiro, onde o Náutico recebeu 21,4% do que recebeu o Flamengo (que não foi o campeão, mas apenas o 11º. colocado).

Já na Inglaterra, onde Marx viveu a maior parte de sua vida é assim:

- 70% são divididos igualmente.

- 15% de acordo com classificação no campeonato.

- e 15% conforme o número de jogos transmitidos.

Neste modelo, enquanto o Manchester United recebeu £ 60,8 milhões, o rebaixado Queens Park Rangers (onde jogou nosso goleiro Júlio César) ficou com £ 39,7 milhões, aproximadamente dois terços do que ganhou o campeão.
Já é uma grande evolução, mas nada se compara aos comunistas do futebol norte-americanos.

Não, irado leitor, não estou fazendo apologia dos EUA. Na minha adolescência eu era tão antiamericano que nem consegui aprender inglês (o que hoje é um problema).

Só quero mostrar que o futebol brasileiro é tão atrasado, tão injusto e corrupto que ainda estamos nos tempos dos coronéis. Temos muito que aprender. Inclusive com o futebol que se joga com as mãos.

Carta Maior

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