segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Garcia-Roza e Flávio Carneiro: a filosofia da literatura policial



Luiz Alfredo Garcia-Roza e Flávio Carneiro deram uma aula conjunta sobre literatura policial na edição de terça-feira do Prosa nas Livrarias, evento realizado pelo Prosa & Verso em parceria com livrarias e editoras. Em duas horas de conversa, os dois escritores exploraram a riqueza do gênero, discutindo suas implicações filosóficas, suas diferentes tradições e os desafios da ainda incipiente literatura policial brasileira, entre outros temas.

Durante o debate, realizado na Travessa do Shopping Leblon e mediado pelo editor assistente do Segundo Caderno José Figueiredo, Garcia-Roza definiu a literatura policial como "o elogio da razão dedutiva". Criador do mais conhecido personagem do gênero no Brasil, o delegado Espinosa, que ressurge no recém-lançado “Céu de origamis” (Companhia das Letras), Garcia-Roza identifica duas linhagens principais no campo:

— Há uma literatura policial que tenta resolver um problema, e uma que busca decifrar um enigma. A primeira procura a solução no exterior, no criminoso, no monstro. E a segunda, no interior, naquilo que é silêncio. O terrível é quando se descobre que o que buscávamos no interior também é monstruoso.

Autor de “O campeonato” (Rocco), um romance policial autorreflexivo que subverte convenções narrativas, Flávio Carneiro relembrou o argentino Jorge Luís Borges, fã declarado do gênero, para tentar definir o que atrai o leitor nas narrativas detetivescas:

— O que fascina o leitor é que, talvez sem perceber, ele se identifica com o detetive, que também é uma espécie de leitor, alguém que desvenda a realidade — disse Flávio, lembrando que, no conto considerado fundador do gênero (“Os assassinatos da Rua Morgue”, de Edgar Allan Poe), o primeiro encontro entre o narrador e o detetive Dupin se dá numa livraria.

Os dois debateram as possíveis causas da inexistência de uma tradição brasileira na literatura policial, ao contrário do que se observa, por exemplo, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França e, mais recentemente, na Suécia. Argumentando que o gênero é historicamente considerado "de entretenimento", Flávio ponderou que, no Brasil, os escritores sempre privilegiaram questões supostamente mais "sérias", como a afirmação da identidade nacional e o comentário social.

Garcia-Roza afirmou que não existe "literatura policial brasileira", e sim "literatura policial feita no Brasil". O escritor atribui essa inconstância à relação da sociedade brasileira com a polícia:

— A literatura policial gira em torno de uma investigação. Mas a tradição da polícia brasileira não é de investigação, é de truculência. Desde Getúlio, a imagem que se tem do policial é a pior possível: ele não investiga, seu procedimento é a tortura. E a tradição do romance policial é de inteligência, não de boçalidade.

do blog Prosa on line

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