terça-feira, 27 de setembro de 2016

Por pior que seja Palocci, sua prisão é uma indecência

Maringoni Gilberto

Antonio Palocci é figura das mais deploráveis e abjetas da vida pública brasileira. É o que comumente se denomina trânsfuga, ou vira-casaca.

Mesmo assim, sua prisão na manhã de hoje deve ser repudiada firmemente.

Trotskysta na juventude, logo em sua primeira gestão como prefeito de Ribeirão Preto (1993-96), Palocci mostrou a que viera: antes mesmo da privatização da Telebrás pelos tucanos, passou nos cobres a empresa municipal de telefonia municipal, a Telerp.


Palocci fez o serviço sujo do lulismo, entre 2003 e 2006, quando foi ministro da Fazenda. Juntamente com Henrique Meirelles - invenção de Lula para a vida pública - aplicou duro ajuste fiscal no país.


Em socorro do governo de então, veio não o saneamento das contas públicas, mas a elevação da demanda externa, em especial da China. A partir dali, tivemos taxas de crescimento acima do período fernandista. A coroar o processo, Palocci caiu fora do governo.


Uma lição principal deve ficar do episódio de sua arbitrária detenção, anunciada pelo rascunho de Filinto Muller (Alexandre Moraes), homiziado na pasta da Justiça: por mais que se tente agradar o topo da pirâmide social, ela não demonstra gratidão.


A burguesia, ao contrário de supostos esquerdistas, tem consciência de classe.


BAJULAÇÃO E CORTE


Palocci bajulou e cortejou os de cima a mais não poder. Deu-lhes taxas de juros estratosféricas, formulou a reforma da Previdência de 2003, a Lei de Falências e chamou para sua equipe gente do naipe de Joaquim Levy e Marcos Lisboa. Deu uma solene banana ao desenvolvimentismo.


Nos tempos da escravidão, não era incomum o senhor da casa grande ter filhos bastardos com escravas domésticas. As crianças nascidas dessa relação violenta e autoritária nunca eram assumidas pelo patriarca. Viviam, em boa parte, junto às mães, na primeira infância. Circulavam pela cozinha e, de quando em quando, adentravam a sala.


Conviviam com os nhonhozinhos e nhonhozinhas, às vezes brincando, às vezes sendo objeto do sadismo dos pequenos branquelos.


Isso lhes dava a falsa sensação de pertencerem àquele mundinho opulento e confortável. Não se identificavam com a brutalidade crua das senzalas. Por um tempo, parecia que a ordem do mundo os aceitaria.


Tão logo chegavam à adolescência, eram remetidos ao seu devido lugar, ao eito, para cortar cana ou colher café.


Palocci conviveu por anos na cozinha da casa grande. Pensava estar entre os seus, ganhando polpudas somas por serviços prestados. Avaliou ser um deles.


Pois o chicote da Lava-jato, manejado por Sergio Moro, pelo Ministério público e por feitores e capitães do mato do Judiciário quebrou-lhe as pernas. Os motivos que levaram à sua prisão, se forem seguidos à risca, podem remeter dezenas de figurões a ver o sol nascer quadrado. É uma arbitrariedade.


Antonio Palocci não é visto como muito branco pelos de cima, por mais que sua espinha flexível e princípios duvidosos tenha um dia acreditado nisso.


Volta agora ao eito, sem dó ou piedade.


Maringone Gilberto Facebook


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