terça-feira, 29 de julho de 2014

Coronelismo e Oligarquias continuam vivos na Paraíba

Votos vendidos

Jaldes Menezes

A grande marca histórica do Brasil é que o nosso país jamais passou por um processo de revolução burguesa em termos clássicos, de ruptura com o antigo regime senhorial e patrimonialista. Nos termos de Florestan Fernandes, o Brasil viveu um acelerado processo de transformação capitalista – principalmente depois de 1930 –, no qual a presença do espectro da revolução política se fez na forma contraditória das sombras da ausência.


Embora esteja longe de abranger toda a realidade, nossos modelos de análise, portanto, não devem desprezar as categorias do período da República Velha – a vigência do coronelismo e das oligarquias. Ninguém vai passar pelo vexame do anacronismo. Subsiste uma parte de verdade na análise de resistência de uma parte deletéria do passado: em tempos de rede sociais, as práticas oligárquicas continuam vivas, especialmente nos períodos de campanha eleitoral.


Mais além da distância de um século, há uma diferença essencial entre a Paraíba no começo do século XXI e a remota fase áurea do domínio dos coronéis. Antes de 30, a estrutura oligárquica abrangia a posse total do Estado, podia reproduzir seu domínio ao bel-prazer. A dissidência se resumia ao protesto individual e estigmatizado dos heróis descontentes.


Victor Nunes Leal, no clássico “Coronelismo, enxada e voto”, associava a estrutura oligárquica ao poder privado dos grandes proprietários de terras, que controlavam praticamente todos os aspectos da vida municipal e, sobretudo, os viciados processos eleitorais. Nos dias de hoje, ao contrário, a estrutura oligárquica subsiste, neste caso, porém em concorrência com outras vontades coletivas da sociedade civil. Persiste como estrutura de domínio, mas acabou a fase áurea de domínio total da oligarquia sobre os recursos de poder.


O fato inusitado é que mesmo depois de ocorridos os processos de industrialização e da urbanização, consequentemente, da falência econômica dos grandes latifundiários, a dimensão política da velha estrutura oligárquica rural resista.


Muitas são as denúncias de votos comprados nas atuais eleições. Pelo que se comenta, a cotação atual é de 100 mil reais equivalerem a mil votos, em viés de alta. Ao se consorciar a operação de compra de votos com estrutura oligárquica, a ênfase recai sobre o outro lado do balcão, os votos vendidos. Dever-se-ia perceber que o valor de troca contido nesta transação mercantil reside exatamente nas entranhas dos arcaísmos da velha estrutura patrimonialista; à vigência, em pleno século XXI, do controle sobre os meios de vida da gente pobre. Pobre Paraíba.


WSCOM 

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