sábado, 26 de julho de 2014

Política ou luta livre na lama ?


Pegadinha

Rubens Nóbrega

Inteligente até dizer basta, Ricardo Coutinho (PSB) não deve ter tomado conhecimento antecipado e por inteiro dos procedimentos e elementos da denúncia que sua assessoria fez anteontem em João Pessoa sobre a ‘compra de prefeito’ do interior pela campanha de Cássio Cunha Lima (PSDB). Acredito mesmo que o governador desautorizaria e abortaria a operação, que consistiu numa pegadinha telefônica onde um ex-secretário de Estado se passa por uma terceira pessoa e tenta fechar um pacote de adesões com um suposto prefeito, que estaria se vendendo junto com o seu vice e quatro vereadores à candidatura do senador tucano ao Governo do Estado.

Uso o termo ‘suposto’ porque no próprio áudio divulgado pela coligação do governador (áudio que abri e ouvi no Portal Wscom) sequer o nome do prefeito ou da cidade é citado. Nas histórias de arapongagem que se conhece por aí, em armações do gênero espera-se no mínimo que o autor da ligação fale o nome do interlocutor e o induza a confirmar – pra ele e o resto do mundo – que se trata realmente de Fulano ou Sicrano com quem está conversando. Não, não estou esquecido que o pretenso alcaide cita nomes de vereadores e o nome de ‘Ricardo Marcelo’, em tese o presidente da Assembleia Legislativa, que segundo a voz do outro lado da linha estaria “a par de todo o projeto”. Mas entendo que isso tenha pouca ou nenhuma serventia como prova capaz de comprometer o adversário. Afinal, nesse vale-tudo vale até mesmo combinar uma conversa do gênero com outra pessoa e aí seriam dois, e não apenas o ex-secretário, que estariam cometendo o crime de falsa identidade. Punível, aliás, com detenção de três meses a um ano, além de multa. Pena leve do nosso leniente Código Penal.

Juntando tudo isso, o que se sabe até aqui do possível desastre é suficiente para inscrever a tal denúncia no rol das pantomimas sem graça. Até por que não faz justiça à fama de esperteza de quem provavelmente a idealizou, além de insultar a Inteligência de quem dela tomou conhecimento. O pior mesmo, contudo, é saber que a equipe do governador envolvida no episódio pode ter botado a perder uma investigação séria que a Polícia Federal, a Justiça e o Ministério Público Eleitoral adorariam empreender. Poderiam, bem que poderiam, se os autores da denúncia tivessem tratado o assunto com sobriedade, dando-lhe pelo menos o caráter de suspeita de corrupção eleitoral. Aí, em vez do circo midiático e talvez completamente inútil que montaram na Associação Paraibana de Imprensa (API), ainda por cima para publicizar uma gravação clandestina, teriam entregue o caso à apuração competente e qualificada das instituições mencionadas.


Jornal da Paraíba

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