domingo, 20 de julho de 2014

As minorias e os dois erros da esquerda


M. L. Brinhosa

O deputado federal Jean Wyllys fez o seu comentário sobre o avião abatido na região conflituosa da Ucrânia, não enviesou seu comentário pela Globo e nem pela RTtv, preferiu não falar de geopolítica. Enfocou o comentário nos mortos, a importância que eles tinham e suas contribuições na área da saúde, principalmente relacionadas ao HIV/AIDS.

Essa postura lhe rendeu críticas, pois um deputado de esquerda deveria aproveitar seus holofotes para fazer um contraponto ao que diz a mídia comercial, enfocando na geopolítica. Essa crítica, até aqui, é interessante e pode ser construtiva. O problema é que parte dos que criticam assim consideram o comentário de Jean inútil, mistificador, como se não houvesse importância intrínseca na luta contra o HIV, e mesmo como se a luta LGBT fosse um desvio da causa fundamental da esquerda: a luta pelo socialismo.

Esta segunda e equivocada consideração dos críticos parte de um erro analítico: pressupor que a causa LGBT deve se subordinar ao intuito revolucionário, caso contrário seria uma pauta anti-socialista. Aqui estão contidos os dois erros da esquerda na história: ter considerado por muito tempo a pauta das minorias como distorções maléficas, inclusive combatendo-as como pautas pequeno-burguesas; e a atual junção que parte da esquerda trotskista faz, dizendo que os direitos das minorias são o pressuposto do socialismo. Quem adere a qualquer uma das duas posições não entendeu o que são os direitos das minorias.

Os direitos das minorias independem do sistema econômico, não são criações capitalistas e nem o socialismo resolve automaticamente o racismo, a homofobia, o machismo, o problema ecológico, etc. Quem pensa desta maneira cai num determinismo econômico absurdo, não só nega Marx, mas nega toda a história do século XX. E por essa autonomia relativa que as pautas tem valor intrínseco, e não dependente.

Somente compreendendo isto, compreenderemos de que ponto de vista Jean Wyllys colocou o seu comentário. Se podemos sim criticá-lo por não ter feito um contraponto geopolítico ao que diz a mídia ocidental, sobre o que ocorre na Ucrânia, devemos nos policiar para não reduzir seu comentário válido à mistificação e desvio. Tanto a falha dele (não ter abordado o aspecto geopolítico), quanto a de parte da esquerda (não ter compreendido a importância intrínseca do comentário), só podem ser sanadas com o aprofundamento das partes nos temas em que falharam.

Neste sentido, caberia ao deputado Jean obter informações, de fontes desalinhadas da mídia comercial ocidental, sobre o massacre que ocorre na Ucrânia com a participação de neonazistas. Por outro lado, caberia ao caso específico da esquerda que criticou Jean, o aprofundamento na questão da luta contra o HIV/AIDS, onde os homossexuais tem importância histórica, e que emerge como uma luta tortuosa, cheia de percalços, que tornam inclusive compreensível o desfecho conspiracionista que Jean deu ao seu post.


Um link para o aprofundamento no caso da Ucrânia: https://onedrive.live.com/?cid=a15bf026ee4edff3&id=A15BF026EE4EDFF3%21115

Um link para o aprofundamento no caso da luta contra o HIV por parte dos homossexuais: https://vrsn.wordpress.com/2014/06/17/larry-kramer-1-112-e-contando/


Não devemos nos espantar com as lutas das minorias, nem achar que constituem um desvio. Foi um erro, por exemplo, o regime cubano ter tratado os homossexuais como um problema pequeno-burguês, e hoje é difícil repará-lo (ainda que uma das filhas de Fidel seja ativista pela causa homossexual, de certa maneira para compensar os erros históricos e por reconhecer que é uma pauta diferente, que independe do próprio sistema econômico).

Não há antagonismo entre as lutas das minorias e as lutas anticapitalistas, porém, também não há dependência... É uma questão complexa, espero ter conseguido ao menos ilustrar por onde ela passa.
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O link para o comentário do deputado: https://www.facebook.com/jean.wyllys/photos/pb.163566147024734.-2207520000.1405804704./718415741539769/?type=1&theater

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