sábado, 4 de fevereiro de 2017

Futebol: “názi não joga em nosso time”

“Melhor cair para a segunda divisão!”. Como a torcida de um pequeno clube de Madri rejeitou atacante ucraniano envolvido com as milícias fascistas de seu país

Nuno Ramos de Almeida

O clube desportivo de um conhecido bairro operário de Madrid contratou um craque ucraniano. Os adeptos e trabalhadores do clube insurgiram-se, motivo? Acusam Roman Zozulya de ser nazi e no Rayo Vallecano não há lugar para ele



O jogador Roman Zozulya foi emprestado pelo Betis de Sevilha ao Rayo Vallecano. É atacante e da seleção nacional da Ucrânia. À partida parecia um excelente negócio para um modesto clube de Madrid. Mas no bairro operário da capital espanhola a opinião é diferente. Passam de mão em mão fotografias do jogador com uma camiseta nacionalista ucrãniana e diz-se que ele apoia os contingentes armados da extrema-direita nazi na Ucrânia.


Javier Ferrero, presidente da claque Planeta Raysta e vice-presidente da plataforma Associação Desportiva Rayo Vallecano (ADRV), que inclui a quase totalidade dos grupos de torcedores que apoiam o clube é peremptório: “Sou sócio do Rayo desde que nasci, mas prefiro cair à segunda divisão do que ver Zozulaya jogar com a nossa camiseta”. A mesma opinião, expressa ao El País, o presidente das torcidas do clube, conhecido por Gelo entre os adeptos, “hoje na internet há uma radiografia completa das pessoas. Ao conhecer uma contratação que queriam fazer, avisamos a diretoria que este jogador não encaixa com os valores que o nosso clube sempre defendeu, que são a solidariedade e a ajuda às pessoas mais desfavorecidas. Trazer um futebolista que se ufanava de pertencer a um grupo nazi da Ucrânia, choca com os nossos princípios”.


As principais torcidas do clube acusam o jogador de ter colocado no Twitter fotografias de Stefan Bandera, nacionalista ucraniano assassinado pelos serviços secretos soviéticos em 1959 e que durante a Segunda Guerra Mundial colaborou com os nazis. Gelo também afirma que o jogador posou em fotografias com o batalhão Azov (destacamento militar názi ucraniano) e com símbolos de partidos de extrema-direita como o Pravy Sektor. Tudo características que são odiadas pelos adeptos do clube do mais famoso bairro operário de Madrid. Não é por acaso que a principal torcida, os Bukaneros, é conhecida pelos seus confrontos com agrupamentos de extrema-direita no futebol espanhol, tendo morrido adeptos seus nesses confrontos. Como Jimmy morto por neonázis do Atlético de Madrid em novembro de 2014.


O Rayo Vallecano é conhecido pelas suas campanhas políticas e sociais que envolvem clube, jogadores e adeptos: são frequentes as jornadas anti-racistas, os dias contra a homofobia e a coleta de alimentos para auxiliar as famílias mais pobres e os desempregados. O presidente do clube, o empresário Martín Presa, que tem 98% das ações, não nega este ADN social, mas defende a contratação do jogador afirmando que o caracteriza o Vallecas é ser um clube “tolerante”, em que todos podem jogar futebol, “independentemente da ideologia, religião, raça ou cor de pele”. O mesmo entendimento não têm as centenas de adeptos que no último jogo da equipe exibiram cartazes que diziam: “Valleca não é lugar para nazis / Nem para ti, Presa / Vão-se embora”.



O jogador enviou uma carta à comunicação social e aos sócios do clube desmentindo ser nazi. Acusa um jornalista de ter confundido a camiseta que tinha com o escudo da Ucrânia, com o símbolo de um partido nazi. “Cheguei ao aeroporto de Sevilha com uma camiseta com o escudo do meu país e uns versos do poeta Taras Shevchenko, estudado em todas as escolas da União Soviética”. O jogador não nega ter estado com grupos armados, mas dá uma outra versão: “Não estou vinculado a nenhum grupo názi. Realizei uma importante tarefa de colaborar com o exército para proteger o meu país, ajudando também as crianças desfavorecidas. Tudo isto em tempos muito difíceis de guerra. Acho que este trabalho coincide plenamente com os valores sociais que defende o Rayo Vallecano e os seus adeptos incondicionais”.



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