sexta-feira, 29 de junho de 2012

Diversidade regional e alianças políticas municipais




Luciano Siqueira



Que eu saiba, a Federação brasileira guarda semelhança, mundo afora, apenas com o atual Estado federativo russo: entes autônomos entre si. No caso brasileiro, a União Federal, os Estados e os Municípios, sendo que estes últimos ganharam autonomia a partir da Constituição de 1988.

É a tradução institucional de uma imensa diversidade regional, que se expressa no conjunto do País e no interior de cada estado. Diversidade econômica, social, cultural e política.

Na esfera política isto se reflete num desenho aparentemente contraditório das alianças políticas concertadas nos planos federal, estadual e municipal. 


Governa a presidenta Dilma, do PT, assentada em ampla e plural coalizão de forças que envolve praticamente todos os matizes do espectro partidário.

Essa mesma coalizão não se repete na esfera estadual. Governadores têm sua base de sustentação em diferentes composições partidárias, pondo em lados distintos correntes aliadas na esfera federal. É o modo de dar conta dos conflitos de interesses entre lideranças e partidos, em alguns casos tradicionalmente concorrentes.

No âmbito municipal o fenômeno se apresenta de modo mais acentuado ainda, constituindo verdadeiro caleidoscópio. Partidos que se unem num município, não se unem no município vizinho. Patrocinam candidaturas majoritárias conflitantes, embora no mesmo campo de forças; ou se associam a candidaturas de legendas tidas como adversárias em plano estadual ou federal.

A leitura superficial e esquemática dessa realidade aponta para a incoerência. Alguns analistas chegam até a acusar a ausência de alianças partidárias ideológicas (sic).

O exame acurado de cada caso, entretanto, haverá de revelar que predomina, sim, em grande medida, a coerência política - ideológica não seria o caso, pois não é nesta esfera que os partidos convergem, e sim em função de projetos políticos de curto e médio prazo. Isto tem também o tempero da histórica fragilidade das instituições partidárias em nosso País, em boa parte devido aos prolongados lapsos de autoritarismo que permeiam nossa história republicana.

Assim, legendas que abrigam grupos progressistas num município, noutro se constituem com matiz conservador. Daí a imensa flexibilidade na concertação das alianças político-eleitorais, sem o que propósitos comuns estariam interditados por um engessamento formal da possibilidade de convergência.

É nesse panorama multifacético que se incluem também eventuais conflitos entre partidos integrantes de um mesmo núcleo – seja à esquerda, seja à direita -, que teriam tudo para estar juntos, mas que por acidentes de percurso, digamos assim, se separam temporariamente, sem que isto represente uma ruptura de compromissos em torno dos objetivos comuns nos âmbitos estadual e federal. Nesses casos, a serenidade, o espírito democrático e o bom senso recomendam o respeito mútuo e a manutenção dos liames que permitem, a um só tempo, uma futura reunificação num eventual segundo turno, quando é o caso; e a continuidade da convergência em função do projeto em curso no estado e no País.

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