segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Controle social na comunicação: o controle subjetivo


Nunca se viu político elogiar reportagem ou opinião que o prejudique, nem criticar opinião ou reportagem que o beneficie

Volta o tema do controle social/estatal sobre o conteúdo distribuído pelas empresas e pessoas que trabalham em comunicação. Parece que o atual governo tem um projeto para isso. Caberá ao próximo conduzir -ou não.

O debate é legítimo, não há por que deixar de discutir os assuntos de interesse do país, ou de parte dele. E as intenções apresentam-se como boas. Em teoria, o controle seria útil para proteger a sociedade dos abusos na comunicação.

Como de boas intenções o inferno está lotado, talvez seja melhor passar à discussão do mérito. Um ponto é que nas concessões públicas seria razoável o público exercer algum controle sobra a atividade dos concessionários.

De novo parece fazer sentido. Os problemas aparecem quando se desce um degrau no nível de detalhe. Se vai haver controle, quem o exercerá, e com base em que normas?

Há iniciativas recentes nas esferas do poder para instituir conselhos de comunicação. Como a imprensa tem por vocação investigar e fiscalizar os poderes, estamos diante de um antagonismo.

Dependendo de quem estiver no governo, a tendência será considerar abusivo tudo que incomode o governo. E razoável tudo que incomode a oposição. Preto no branco, os conselhos tenderão a defender o interesse de uma parte, partidário portanto.

É instrutivo observar o comportamento dos políticos diante do chamado jornalismo investigativo.

Nunca se viu político elogiar reportagem ou opinião que o prejudique, nem criticar opinião ou reportagem que o beneficie.

E os parâmetros? Há ramos de atividade em que a resposta é mais fácil. Na medicina existe um sistema de normatização que permite, com margem razoável, discutir se determinado procedimento foi correto ou não. É possível portanto reduzir bastante as taxas de subjetivismo.

Mas como decidir se determinada reportagem deveria ou não ter sido publicada, com os elementos à disposição do jornalista ou do jornal na hora de decidir? O grau de subjetivismo é imenso.

Na última campanha presidencial o PT odiou as reportagens que incomodaram o PT e adorou as que incomodaram o PSDB. E o PSDB vice-versa.

Quantas das reportagens criticadas por petistas ou tucanos estavam formalmente erradas? Não sei se alguém contabilizou. Quando houve erro formal a Justiça deu imediato direito de resposta, mas foram exceções.

Outra preocupação é com o suposto “baixo nível” da programação. Já existe o sistema de classificação, que parece bom. E como definir o limite entre o “baixo nível” e o “alto”? Voltamos à situação anterior, em que os ocupantes do poder ficarão em situação privilegiada para sufocar a crítica, a sátira ou o esculacho, tudo em nome do “interesse social”.

Há também a questão do preconceito. De novo, quem vai definir o que é preconceituoso e o que não é? Há o preconceito contra o pobre, o negro, a mulher, o índio, o trabalhador braçal. E há também o preconceito contra o rico, o branco, o homem, o empresário, o trabalhador intelectual.

Todo juízo de valor inclui alguma caricaturização e pode ser acusado de embutir preconceito. E aí, quem vai deter o poder de separar os preconceitos "aceitáveis" dos "inaceitáveis"?

Há uma resposta habitual para as indagações desta coluna. Em tese, o controle social da comunicação poderia ser feito por uma instância politicamente neutra, representativa de todo o espectro social.

Eu acredito na possibilidade real de algo assim tanto quanto acredito em duende, saci-pererê e mula-sem-cabeça. E peço, por favor, que esta minha manifestação não seja vista como exemplo de preconceito contra o folclore nacional.


Blog do alon

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