sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Cadê a análise autocrítica da esquerda?

Em meio a sofrida vitória da Dilma, a esquerda sofreu duros reveses, como a eleição de um Congresso mais conservador e a diminuição das bancadas do PT e PCdoB.

Emir Sader

Em meio a sofrida vitória da Dilma, a esquerda sofreu duros reveses. A própria vitória apertada é um chamado de atenção, que tem que recair sobretudo na falta de democratização dos meios de comunicação, erro fundamental do governo, que quase leva ao fim do ciclo de governos progressistas no Brasil.

Mas a seu lado há outros reveses significativos, como o de um Congresso mais conservador, de diminuição das bancadas da esquerda – do PT mas, pior ainda, a queda de 50% da bancada do PCdoB -, com a derrota de muitos importantes parlamentares de esquerda. Por mais que o financiamento privado das campanhas pese, ele teve o mesmo efeito da eleição anterior, mas o resultado é claramente pior, revelando uma perda de representatividade dos parlamentares da esquerda, como resultado do desgaste das campanhas da mídia, mas também de um desempenho pior do que o que existia anteriormente na defesa das grandes causas populares.

A derrota acachapante em São Paulo é a mais grave – pela sua dimensão e pela sua simbologia – entre todos os retrocessos da esquerda. Nao basta explicações menores, como erros pontuais da esquerda, desempenho capital do Alckmin nas prefeituras, etc. etc. Nada disso, junto, explica o tamanho do reves, que revela uma hegemonia tucana no maior estado do Brasil, daquele com movimentos sociais com mais trajetória, com presença de dirigentes com grande trajetória política, no estado de maior luta de classes do país.

Deve-se apelar, pra começar a Gramsci, para saber como foi possível que a direita organiza-se uma hegemonia tão solida ao longo de duas décadas no estado que o maior nível de contradições de classe do Brasil. Análises concretas – sociais e culturais, além das políticas – são essenciais para dar conta de um fenômeno dessa proporção. E, claro, análise do PT, como partido.

O mesmo se pode dizer para o Rio Grande do Sul. Em Brasília, o mau governo do PT deve ter sido determinante, mas não basta pra explicar o forte antipetismo num lutar que, justamente pelo peso dos funcionários públicos, já foi um núcleo forte do PT.

É certo que as eleições municipais foram ruins pro PT e pra esquerda, mas ficaram escondidas pela vitória do Haddad em São Paulo e alguns outros resultados também em São Paulo. Mas em Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre, entre outros lugares, os resultados já foram muito ruins.

Os próprios paradoxos do governo federal – precisa avançar, mas se choca com correlações de força negativas no Congresso, no Judiciário, na mídia, na própria sociedade – dependem de análises mais profundas e urgentes das novas condições que se enfrenta a nível nacional.

Carta Maior

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