segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

279 famílias ocupam prédios públicos em JP



Atualmente, pelo menos 12 espaços onde funcionavam repartições viraram moradias.

Michelle Scarione

Renata Raquel Silva mora com o filho pequeno e a sogra em um cômodo que serve de quarto e cozinha
O barulho provocado pelo ventilador abafava os sons emitidos pelo bebê de apenas um mês. Protegido no colo da mãe do calor excessivo que vinha do cômodo humilde, que um dia já serviu de sala de aula, o menino apresentava no corpo frágil lesões provocadas pela alta temperatura. Há um mês a família reside no prédio de uma creche abandonada, no bairro de Cruz das Armas.


Situação semelhante à vivenciada por outras 278 famílias que moram em ocupações de prédios públicos em João Pessoa, segundo os movimentos por moradia. Pelo menos 12 espaços em que funcionaram órgãos públicos, hoje são ocupados por famílias que não possuem casa própria e aguardam ser contempladas em programas habitacionais.

Na rua Alcides Bezerra, em Cruz das Armas, nove famílias ocupam as salas do prédio onde funcionava uma creche, no terreno que pertence à Secretaria de Desenvolvimento Humano do Estado. O local foi cedido em regime de comodato para ser utilizado como sede do Movimento pela Moradia (MPM) e moradia para famílias cadastradas no movimento.

O banheiro é coletivo, mas a limpeza é programada diariamente, com um controle rigoroso. Os moradores não custeiam as despesas decorrentes do uso da água encanada e energia elétrica, que são consumidas livremente. O prédio ainda possui controle de entrada e nenhum morador pode receber visitas após as 22h.

A ocupação do prédio aconteceu há aproximadamente dois anos pelo Movimento pela Moradia (MPM). A moradora mais recente é Renata Raquel Silva, de 20 anos, que vive com o filho pequeno e a sogra, em um cômodo que serve de quarto e cozinha.

“O quarto é muito quente, mas esse foi o único local que conseguimos para morar. O corpo do bebê está todo 'pipocado' por causa do calor e eu não tenho dinheiro para comprar o remédio. Aqui o ventilador fica ligado durante 24 horas porque é a única forma para aguentar a temperatura”, afirmou Renata, ressaltando que os banhos da criança são improvisados no local utilizado para lavar roupas.

Apesar do pequeno espaço em que mora com o marido e os filhos, Maria do Livramento comemora o simples fato de ter onde dormir em segurança. “Antes eu morava na casa da minha sogra e vou ficar aqui até receber a minha própria casa. Não pagamos água ou luz. Quem não gosta?” questionou a moradora.

Há poucos metros dali, a antiga sede da Polícia Rodoviária Federal abriga 22 famílias sem teto, uma delas é formada por Maria de Fátima e seu marido. “Enquanto não recebo a minha casa, está muito bom aqui. Não tenho do que reclamar”, afirmou a moradora. O prédio, que possui dois pavimentos, conta ainda com um pátio onde as crianças brincam e os moradores secam roupas.

Sem condições de arcar com as despesas decorrentes de um aluguel, Francisco Araújo (fictício), 65 anos, mora na ocupação há sete anos. No quarto, ele conta com banheiro privativo e cozinha improvisada. “Aqui é muito tranquilo e não acontece confusão entre os moradores. Eu tenho banheiro, água, energia, mas ainda espero o dia que terei a minha casa própria”, disse Francisco.

Jornal da Paraíba

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