quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Edir Macedo, maior cabo eleitoral do capitão Bolsonaro


Francisco Paes de Barros

Na fase de negociação da venda da Rádio e Televisão Record para Edir Macedo, em 1989, fiquei conhecendo um pastor de sua confiança: Laprovita Vieira. Muito educado, Laprovita, certa vez me disse na Record – onde trabalhei como diretor da rádio até a mudança de dono – que no prazo de 15 anos Edir Macedo seria mais conhecido que o papa e que em 20 anos seria o maior líder religioso do Brasil, capaz de eleger um presidente da República, tirado do seu clã, e que o próprio Edir, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, chegaria à presidência.



Passados 29 anos, as profecias de Laprovita estão se confirmando. A candidatura do capitão Jair Bolsonaro à presidência da República vem tendo forte apoio de Edir Macedo. Aliás, o mesmo vem acontecendo com a formação da bancada evangélica no Congresso, nas assembleias legislativas, nas câmaras municipais e em muitas prefeituras dos municípios brasileiros.



Edir Macedo planejou sua trajetória com competência. Ele deve ter considerado que, com o passar do tempo, o papa João Paulo II precisou dar atenção maior aos países do Leste Europeu dominados pelo comunismo.



Edir Macedo sempre bem informado, teria contatos nos Estados Unidos e sabia que a União Soviética passava por uma crise sem precedentes em 1989, quando da queda do Muro de Berlim, fato de inúmeras consequências. João Paulo II, papa de 1978 a 2005, e Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos de 1981 a 1989, eram peças chaves no desaparecimento da União Soviética, sem que uma única bala fosse disparada.



Edir Macedo estava bastante antenado na profunda revolução que agitava a comunicação por meio da tecnologia e da globalização.



Ele sabia que com o colapso econômico soviético em 1991, dois anos após a queda do Muro de Berlim, e com o fim iminente das ditaduras militares na América Latina, a geopolítica dos Estados Unidos estava atenta aos acontecimentos ocorridos em países desta região.



Imagino que Edir tivesse conhecimento de que o governo dos Estados Unidos possuía informações a respeito da força da Igreja Católica junto à população mais pobre e aos cidadãos e cidadãs progressistas da nossa sociedade.



O caso da implosão soviética aproximou a Igreja Católica do governo Reagan. Acredito que Edir, inteligente como é, tenha imaginado que a diplomacia americana concentrou seus esforços junto à Cúria Romana no sentido de esvaziar o papel dos bispos brasileiros que comandavam a Igreja do Brasil (Igreja dos Pobres), quase todos ligados à Teologia da Libertação. A justificativa para essa intervenção branca era de que havia elementos marxistas naquela teologia.



Imagino que Edir Macedo soubesse que o governo de Washington estava incentivando a presença das igrejas eletrônicas no Brasil, nos moldes dos pastores evangélicos americanos: “Teologia da Prosperidade e Cura”.



Certamente, Edir Macedo deveria saber que a estrutura da radiodifusão brasileira era anacrônica. Não obstante, o rádio e a televisão já eram sintonizados por mais de 95% dos brasileiros. Uma única rede de TV tinha participação de 85% na audiência da televisão. Era praticamente um mercado virgem nas mãos de poucos, que estavam muito satisfeitos financeiramente com aquela situação.



Foi naquela ocasião que começou a ocorrer a compra de inúmeros canais de televisão e emissoras de rádio por parte de igrejas eletrônicas.



Hoje, o rádio e a televisão estão praticamente nas mãos das igrejas eletrônicas. Tais igrejas passaram a ter milhões de fiéis – a grande maioria pobre –, à espera de cura e prosperidade.



As igrejas eletrônicas elegeram vereadores em quase todos os 5.570 municípios brasileiros, assim como nas Assembleias Legislativas, na Câmara dos Deputados e no Senado.



Com o fracasso escandaloso dos governantes da esquerda brasileira e com a incompetência, omissão e cumplicidade da direita, a política nacional ficou à mercê dos políticos donos de igrejas eletrônicas.



Edir Macedo se situou bem nesse contexto e outros evangélicos o acompanharam. Ele comprou a TV Record, de rede nacional. Ele e outros pastores compraram espaço nas programações das demais grandes redes de televisão, além de terem adquirido ou arrendado emissoras de rádio e televisão em todas as regiões do País. Com isso, eles ampliaram presença no Congresso, nas câmaras municipais brasileiras e em boa parte das assembleias legislativas e prefeituras.



A estrutura da Rede Record e da Igreja Universal, de Edir Macedo, é incomparavelmente superior à de todos os partidos políticos. Nessas condições, Edir foi o maior cabo eleitoral do capitão Bolsonaro.



Há quem diga que a Igreja Católica, com o capitão Bolsonaro na presidência da República, será “varrida e destroçada”. Como acredito em milagres, peço a Deus que transforme o presidente capitão num presidente de todos os brasileiros, principalmente dos mais pobres, respeitando a democracia, a Constituição, os direitos humanos. Também peço a Deus que faça do capitão presidente um defensor da vida e da dignidade da pessoa humana. Que Deus o proteja e o ilumine.



Por último, deixo um recado ao pastor Edir Macedo e ao capitão presidente Bolsonaro. Napoleão Bonaparte perseguiu e humilhou a Igreja e o papa Pio VII, a partir de 1802. Chegou a ameaçar o papa e a Igreja. Muita gente disse que a Igreja estava agonizando. Poucos anos depois, Napoleão, derrotado, foi recolhido a um presídio na Ilha de Santa Helena, onde passou seus últimos dias. Pio VII acolheu todos os familiares de Napoleão e ficou conhecido pela sua caridade ao próximo. Ganhou prestígio e respeitabilidade na Europa.



E, se for o caso, o papa Francisco, sucessor de Pedro à frente da Igreja dos Pobres, estará à espera de vocês de braços abertos.



Francisco Paes de Barros é radialista


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