sábado, 24 de fevereiro de 2018

Crônica da cidade do Rio de Janeiro


No alto da noite do Rio de Janeiro, luminoso, generoso, o Cristo Redentor estende os braços.

Debaixo desses braços os netos dos escravos encontram amparo.


Uma mulher descalça olha o Cristo, lá de baixo, e apontando seu fulgor, diz, muito tristemente:

- Daqui a pouco, já não estará mais aí. Ouvi dizer que vão tirar Ele daí.

Não se preocupe - tranquiliza uma vizinha.  - Não se preocupe: Ele volta.

A Polícia mata muitos, e mais ainda mata a economia. Na cidade violenta soam tiros e também tambores: os atabaques, ansiosos de consolo e de vingança, chamam os deuses africanos. Cristo sozinho não basta.



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O Livro dos Abraços
Eduardo Galeano




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