quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Afonsinho: Clubes, cartolas, jogadores


A CBF, perdida, repete a história da Copa de 50: declarou que fez sua parte, mas se esconde no biombo de um garoto de 22 anos

por Afonsinho

À medida que a marcante Copa do Mundo vai ficando no passado, fica mais claro que o futebol brasileiro vai mal

A situação instalada no esporte brasileiro e no futebol em especial é mesmo de amargar. À medida que o tempo avança, passada a marcante Copa do Mundo, tudo vem à tona, todo mundo se manifesta, na maioria das vezes da forma caótica que o momento sugere. Como em qualquer situação semelhante, tudo é mesmo confuso: crise.

Pode ser também o momento das oportunidades, questão de saber ou conseguir colocar-se no tempo. O adiamento da votação das medidas sugeridas foi providencial, pois o prazo é exíguo; como toda moeda, tem duas faces. Dirigentes atônitos não têm outra solução senão contar, mais uma vez, com benesses do Estado, já que foram gestados e sempre viveram assim.

Mas parece que se rompeu uma fronteira; procurava-se dinheiro para fazer futebol e, agora, a meta (o goal) é o lucro a qualquer preço. Sempre se ganhou dinheiro com futebol, mas agora a ganância cegou. A CBF, perdida, repetiu na Copa e agora no pós-Copa a história de 50, declarou que fez a sua parte e ganhar o título era tarefa dos outros, não tinha mais nada com aquilo. Ficaram escondidos, covardemente, no biombo de um garoto de 22 anos.

A diferença para 1958 é que Paulo Machado de Carvalho não tinha problema em respeitar a sabedoria de um Didi, Zito, Nilton Santos, que se fazia presente. Hoje ninguém tem nada a dizer sobre como não vão assumir suas responsabilidades.

Os clubes, fragilizados, têm na CBF um algoz e não sua casa, como deveria ser o sentido de sua existência: são, sobretudo, reféns das empresas de comunicação. Há cotas antecipadas até vários anos à frente (prática condenada na sugestão do governo). Até os mais estáveis servem de “barriga de aluguel” de clubes e mesmo de “empresários”. Vide Kaká, Robinho... Enquanto isso, a Globo marca para dia 29 deste agosto uma reunião com clubes, políticos, jogadores, todos menos a CBF, para expor suas propostas sobre tudo, desde as divisões de base. Importante. Quem pode pode.

Entre os treinadores, chegamos ao ponto mais difícil: é a hora de trocar a soberba exposta no Mundial e repetida com insistência obtusa. Já os jogadores parecem deixar de ser levados ao sabor do vento e das correntezas e ocupar suas posições e obrigações fora do campo. Ainda aqui as duas faces: financeiramente privilegiados nessa situação, devem ter consciência de que foram os mais prejudicados a longo prazo. Perdemos terreno fora das nossas fronteiras, poucos brasileiros entre os principais nomes dos times de primeira linha. Dentro de casa, os estrangeiros são cada vez mais valorizados.

Um técnico “gringo” já se encoraja a chamar jogador brasileiro de “craque de Twiter” e, pior que isso, jogador do passado em comentário de tevê a respeito de jogada brilhante, instado pelo narrador ao elogio, emendou: “E... com isso que esta aí!” Aprofundar as propostas ao máximo, sem perda de tempo, e parar, sim, se for necessário. Ninguém aguenta mais a embromação. É visível o desconforto dos órgãos de comunicação, obrigados a transmitir jogos sem nenhuma expressão. E em nome de quê? Que poder é esse que submete nosso futebol dessa maneira vergonhosa?

Mesmo andando pelas ruas, sigo horrorizado com as agressões à bola, nos raros momentos entre as imagens de um aparelho e outro não dá para perder a esperança. Mas nada de mergulhar em profundas depressões. É preciso apoiar de novo os pés no chão. Nossa história garante nossa força. Estamos em período eleitoral e nenhum político vai se afastar de sua prioridade. Em compensação, a hora é boa para se trabalhar “à mineira”, com afinco, dedicação e, agora sim, concentração.

Em palestra brilhante sobre a economia política do futebol, na Faculdade Moraes Júnior, o professor Adriano de Freixo ressaltou a diplomacia do esporte, citando o jogo de solidariedade da Seleção Brasileira com o Haiti há alguns anos. Lembrou o interesse e o avanço acelerado dos americanos e fez saber que eles já têm um setor encarregado de relações diplomáticas através do futebol. Fez lembrar ainda o célebre jogo de rúgbi promovido por Nelson Mandela no processo de integração racial da África do Sul, entre tantos outros exemplos.

O governo, sinaliza, teme um Fla-Flu de cartolas contra jogadores e declara que os clubes precisam de um tempo para se adaptar às mudanças, que é preciso rediscutir se a Lei Pelé, depenada pela bancada da “cartola”, ainda faz seu papel. Ou seja, “uma no cravo, outra na ferradura”. Enquanto isso, é adiado, mas mantido, o novo encontro com o Bom Senso, em que apresentaria sua posição nessa discussão sobre as transformações do Esporte.


Carta Capital

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