quarta-feira, 25 de julho de 2012

Movimento antipublicidade invade Inglaterra






Bruna Bernacchio

  Às vésperas da abertura das Olimpíadas, coletivo de artistas britânicos denuncia, com táticas de guerrilha poética, manipulação dos medos e desejos pela propaganda das corporações 

Eles viajaram cinco dias em grupo, semana passada. Com ações taticamente planejadas, num autêntico esquema de guerrilha, sabotaram espaço de mídia exterior no Reino Unido, tomando placas de outdoor como suporte para um movimento antipublicitário.

Na última segunda-feira (16/7), Londres e outras quatro cidades britânicas amanheceram com o impacto do Brandalism, movimento de 26 artistas, em um nome que mistura marca e vandalismo, que se posiciona como uma arte de “auto-defesa” contra a publicidade.

Além da capital britânica, os 35 trabalhos do grupo foram instalados onde havia mensagens de anunciantes em Leeds, Manchester, Birmingham e Bristol. De acordo com informações do Brandalism, o movimento registra sua primeira campanha internacional colaborativa de “subvertising”, um neologismo para publicidade subversiva, que na opinião do coletivo de artistas, tem o objetivo de “desafiar os impactos destrutivos da indústria publicitária”. Também estrategicamente, para chamar atenção internacional, os outdoors foram invadidos às vésperas da Olimpíada de Londres, que terá sua cerimônia de abertura no próximo dia 27.

O movimento critica o “papel destrutivo” da publicidade em uma variedade de questões sociais e econômicas, que incluem dívidas financeiras, meio ambiente, imagem do corpo, consumismo e valores culturais. Para o Brandalism, a publicidade também é a culpada pelos distúrbios urbanos vivenciados em Londres no verão do ano passado, com incêndios e saques de lojas e supermercados.

Um dos integrantes do grupo, Robert Graysford, 27 anos, argumenta em um comunicado do Brandalism que os outdoors foram invadidos porque a indústria publicitária “não se responsabiliza pelas mensagens impostas aos consumidores no dia a dia. “A publicidade diz que nos dá, mas nós não temos a escolha de não optar por essa invasão no espaço público e privado”.

“Somos ratos de laboratório para os executivos publicitários que exploram nossos medos e nossa insegurança através do consumismo. Sou um ser humano e não um consumidor. Invadindo os outdoors, estamos retomando nosso espaço. Se São Paulo, no Brasil, pôde proibir toda a publicidade de mídia exterior, por que nós não podemos?”, questiona o artista do Brandalism.

O movimento, segundo informações do próprio Brandalism, também é uma crítica ao interesse comercial que sustenta as restrições publicitárias impostas pela organização dos Jogos Olímpicos.

Um dos artistas do movimento, Bill Posters, criou um trabalho com paródia a um famoso outdoor da Nike de 2006, que mostra o jogador de futebol da seleção inglesa Wayner Rooney sem camisa com uma cruz vermelha pintada em seu corpo, acompanhado do famoso slogan da marca de artigos esportivos, “Just do it”. O trabalho de Bill mostra a referência a Wayne Rooney, que carrega sacolas, uma delas inclusive da rival Foot Locker, acompanhado da frase “Just loot it” (Em tradução livre algo como “Vai lá e roube”). Ele foi colocado em Birmingham.

O artista Bill Poster diz que a “indústria publicitária cria pressão quando manipula nossos desejos e necessidades. Há pressão para termos o último modelo de tênis, de roupa e de telefone. Essa pressão fez com que os jovens fossem às ruas (nos distúrbios de Londres e outras cidades britânicas de agosto de 2011) para pedir o que disseram que eles precisam”.

Um outro trabalho do artista, que invadiu outdoor de Manchester, critica o McDonald`s. Mostra desenho de um policial especializado em desarmamento de bombas, retirando a marca do McDonald`s como se fosse ela um artefato explosivo, perto de uma criança. Até o momento, nem anunciantes nem organizações publicitárias se manifestaram sobre o Brandalism.

Olympics

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