terça-feira, 28 de agosto de 2018

O "fenômeno" Bolsonaro


Michel Zaidan Filho:

Viajei, neste fim de semana, com 3 jovens, trabalhadores autônomos, que votam em Jair Bolsonaro e são encarniçadamente. Fiquei imaginando o que leva essas pessoas tão jovens e de escassa experiência na vida política brasileira a defender a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República e a anatemizar a figura do ex-presidente LULA, isso numa cidade que é majoritariamente lulista, mas que também realiza nesses próximos dias um Congresso Eucarístico Nacional. É quando me lembro da foto de um outro congresso, o congresso dos integralistas, realizado em 1937. Teria a religião - numa modalidade de fé fundamentalista, ultramontana e conservadora - sido responsável pela formação de uma mentalidade pequeno-burguesa tão reacionária, sobretudo entre os mais jovens.? Fiquei com uma interrogação na cabeça e pus-me a refletir sobre as fontes que alimentam o 'fenomeno' bolsonarista.





Em primeiro lugar, dei-me conta de que é mais fácil impressionar o eleitor (jovem) desapontado com os rumos do país e seus reflexos na vida pessoal de cada um, se o discurso de campanha for simplório, reducionista, bem simples. Candidatura mais elaboradas, com agendas complexas demais, não empolgam um eleitor acostumado a formar sua opinião pelos veículos de comunicação de massa, onde quase tudo é "fake" e quase nada é fato. Quanto mais simples e apelativo, melhor. Dispensa o trabalho duro da reflexão crítica, do contraponto das idéias e a importância do contraditório. Então começa o desfile dos esteriótipos, dos preconceitos, das idéias feitas : primeiro, é preciso combater a corrupção, a roubalheira, prender e punir exemplarmente os ladrões. E só um candidato - de origem militar - como Bolsonaro tem a mão forte suficiente para acabar com a bandalheira. Os outros, são meros demagogos. São do mesmo ramo dos ladrões. Não falam sério. Vão fazer a mesma coisa.



Segundo, o candidato bolsonarista vai acabar com a violência urbana, os assaltos, os homicídios, a insegurança pública, a ameaça ao patrimônio - duramente conquistado- das pessoas. E isso, por que não acredita na chorumela dos direitos humanos e seus defensores. Não pode existir direitos humanos para ladrão, assassino,estuprador etc. Terceiro, Bolsonaro vai proteger a família brasileira da ameaça do homossexualismo, das lésbicas e transsexuais. Uma vergonha para as pessoas de bem(bens) da nosso amado país. As minorias sexuais serão banidas do território nacional, caso ele vença. Quarto, LULA é ladrão, enriqueceu através da roubalheira e é de esquerda. E aqui o preconceito junta-se à desinformação para produzir o eleitor bolsonarista típico. O PT, os candidatos petistas e o ex-Presidente LULA, em especial, são execráveis porque são, ao mesmo tempo, gatunos e esquerdistas, amigos de Cuba,de Maduro, de José Mojica Mariz e Rafael Correia. Aqui a ignorância campeia e alimenta o ódio.



De nada adianta argumentar que LULA nunca se definiu como candidato comunista, socialista ou esquerdista. Que o PT foi na melhor das hipóteses um arremedo de partido socialdemocrata (apesar da existência de diversas correntes em seu seio), num país que nunca conheceu "estado de bem-estar social e que as políticas redistributivas do governo petista nunca colocaram em risco patrimônio nenhum. Que quando o ensaio de política anti-cíclica foi posta em prática pela Presidente Dilma,apoiada no fundo público, todo mundo estava satisfeito. Que LULA, como qualquer presidente, tornou-se o maior incentivador e promotor da venda das 'commodities' brasileiras no exterior. Enfim, a ignorância é mesmo o caldo quente onde proliferam as bactérias da intolerância, do fascismo, do desrespeito aos direitos humanos.



Só é mais lamentável ainda porque infectam, como uma peste - a cabeça daqueles que deveriam estar aberto aos ventos da renovação, da mudança, mas que estão sendo capturados pela tempestade do autoritarismo e da manutenção de privilégios e injustiças sociais.



Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.


Blog do Jolugue

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