É comum gente de esquerda e de direita se encontrarem e manterem
laços especiais.
Daniel Aarão Reis
Sibila: Jacob Gorender enfatiza, segundo o historiador Carlos
Fico, que, no pré-64, engendrou-se uma real “ameaça à classe dominante
brasileira e ao imperialismo”: “O período 1960-1964 marca o ponto mais alto das
lutas dos trabalhadores brasileiros neste século [XX]. O auge da luta de
classes, em que se pôs em xeque a estabilidade institucional da ordem burguesa
sob os aspectos do direito de propriedade e da força coercitiva do Estado. Nos
primeiros meses de 1964, esboçou-se uma situação pré-revolucionária e o golpe
direitista se definiu, por isso mesmo, pelo caráter contrarrevolucionário
preventivo”. Segundo Fico, “Gorender consolidou, em traços gerais, duas das
principais linhas de força interpretativas sobre as razões do golpe: o papel
determinante do estágio em que se encontrava o capitalismo brasileiro e o
caráter preventivo da ação, tendo em vista reais ameaças revolucionárias
provindas da esquerda”. O senhor concorda com essa visão do golpe? Ela não tem
algo de irrealista? Havia, de fato, ameaças reais ao poder e ao statu quo
vindas da esquerda? A conjuntura externa (as grandes tensões da Guerra Fria)
não foi uma lente que deformou as percepções políticas da época?
Paradoxalmente, este não é o argumento central dos que justificam o golpe?
Reis: Penso que a avaliação de J. Gorender é acertada. A
conjuntura entre 1961 e 1964 foi, sem dúvida, a mais quente da história
republicana brasileira. O programa das reformas de base, caso implementado,
viraria o país pelo avesso. A universalização do voto, incluindo os
analfabetos, colocaria simplesmente a metade da população adulta, até então
excluída, no jogo político. A reforma agrária faria desmoronar o poder do
latifúndio no campo, onde ainda habitava quase a metade da população
brasileira. A reforma das relações com o capital internacional minaria uma das
bases mais importantes de sustentação do poder das classes dominantes. Por
outro lado, cabe enfatizar que, pela primeira vez na história republicana, de
forma organizada, lideranças populares começavam, de fato, a participar, e
intensamente, da vida política. Tudo isto suscitou muito medo e não era um medo
apenas inventado pela propaganda anticomunista, embora esta o potencializasse,
sem dúvida, mas o medo tinha fundamentos reais. Outro aspecto levantado na
pergunta também contribuiu para o acirramento das contradições – uma quadra
especialmente crítica da Guerra Fria, com a vitória da Revolução Cubana, em
1959; a da Argélia, em 1962 e o avanço, em várias partes do mundo, de
movimentos revolucionários armados, como no Vietnã, na África e na própria
América Latina. A tese de que “houve exagero premeditado” por parte das elites
no poder não se sustenta à luz das evidências que é possível observar na
conjuntura mais quente de nossa história republicana.
Sibila: Gorender escreveu: “O núcleo burguês industrializante
em 1964 e os setores vinculados ao capital estrangeiro perceberam os riscos
dessas virtualidades das reformas de base e formularam a alternativa da
‘modernização conservadora’”. A “modernização conservadora” não foi uma criação
do governo militar, mas é uma marca da história brasileira, incluindo a
Proclamação da República pelo exército, a República Velha, o governo Vargas, o
governo JK. Hoje, o Brasil de 2014 tem um perfil agrário e exportador, sem uma
burguesia industrial fortalecida. Ao mesmo tempo, desde os governos FHC e Lula
e incluindo o governo Dilma, há uma proclamada ascensão econômica das classes
mais baixas, mas restrita ao consumo, e excluindo todos os fatores da cidadania
moderna, a começar da educação. Esta seria uma das caras reatualizadas da modernização conservadora à brasileira em geral, e de 1964 em particular?
Reis: A ressalva que faço ao texto de Gorender, e que também
faço ao excelente trabalho de René Dreifuss, é derrapar para uma concepção em
que a história parece fruto de decisões de “núcleos superconscientes”, como se
fossem “partidos bolcheviques de direita”, que guiam e manipulam os
acontecimentos históricos. A “frentona” que apoiou o golpe era muito
heterogênea e diversificada, envolvia um conjunto de atores sociais e
políticos, aparecendo nesse quadro o IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos
Sociais) como um fator, articulado e organizado, sem dúvida, mas que foi
obrigado a negociar não apenas com outros elementos da “frentona” como também
com adversários derrotados, mas não vencidos. A modernização conservadora e
autoritária de que foi fator e expressão a ditadura envolveu um complexo de
atores e segmentos sociais, não podendo ser apresentada, e avaliada, apenas
como fruto de “núcleos superconscientes”.
Sibila: Alguns consideram que sem a guerrilha de 1969 a 1975
(pós AI-5), incluindo a do Araguaia, não haveria redemocratização formal do
país. Sem as torturas e outros fatores (governo Jimmy Carter), a presença dos
militares se prolongaria. O senhor concorda com esta tese? Ela não simplifica
tudo em uma variável, talvez hipertrofiada e inteiramente externa ao regime,
omitindo, por exemplo, os conhecidos embates dentro da cúpula militar,
justamente quanto à questão da necessidade da redemocratização? Há algum
documento estratégico do governo militar que contemple a perspectiva de uma
ditadura indefinida?
Reis: É completamente fantasiosa a ideia de que as
organizações guerrilheiras contribuíram para a redemocratização do país. Não há
nenhuma evidência neste sentido nos numerosos documentos escritos pelas
organizações revolucionárias. Depois da destruição dessas organizações,
contudo, numerosos ex-militantes das mesmas, mudando de concepções,
participaram ativamente das lutas democráticas que contribuiriam para a
instauração do Estado de Direito democrático no Brasil. Outro aspecto a merecer
ênfase diz respeito à ampla frente que protagonizou a restauração democrática.
Dela participaram numerosos atores – sociais e políticos – entre os quais
tiveram papel de relevo políticos ligados à ditadura e que migraram para as
oposições. Feita esta ressalva, é inegável o papel também protagônico
desempenhado pelos grandes movimentos sociais a partir de 1978. Surpreenderam a
todos pelo seu dinamismo e embaralharam completamente as cartas laboriosamente
construídas por Geisel e Golbery, que imaginavam um processo muito mais
controlado do que, afinal, acabou ocorrendo.
Sibila: O que significa a presença de José Sarney da UDN até
hoje, passando pelo golpe de 1964? Com ele liderando a transição, não se fez
uma Comissão da Verdade. Como o senhor explica uma transição para a democracia
sem uma Comissão da Verdade e sem a punição dos militares e dos “excessos”
(formalmente crimes) dos aparelhos de esquerda? O assassinato, por exemplo, de
Henning Boilesen, foi excessivo ou justo? Pode uma execução extrajudicial ser
justa? Se o for, quando praticada pela esquerda, não o será também quando
praticada pelo aparelho de Estado?
Reis: A trajetória de José Sarney é muito simbólica e
expressiva, a meu ver, podendo ser configurada como emblemática de muitos
outros percursos. Antes do golpe, o homem tinha posições progressistas, de
esquerda, participando da chamada “Bossa Nova” da UDN, um agrupamento
progressista no seio desse partido liberal conservador. Depois do golpe,
bandeou-se para a ditadura, tornando-se um de seus grandes líderes civis. Mais
tarde, já encerrado o período ditatorial, nos anos 1980, mudou, mais uma vez,
de lado, articulando-se com outros líderes de direita no chamado Partido da
Frente Liberal, fator decisivo para a vitória de Tancredo Neves e dele mesmo
nas eleições indiretas de 1985. Ingressou no PMDB por exigência legal, mas era
um homem do PFL. Mais tarde, governando o país, teve altos (Plano Cruzado) e
baixos, saindo apedrejado por quase todos. O que não o impediu, já no século
XXI, de se tornar aliado de Lula, merecendo elogios do mesmo por ocasião dos
festejos do 25° aniversário da Constituição de 1988. Prepara-se agora para
morrer como um verdadeiro varão de Plutarco. Uma trajetória desse tipo merece
uma biografia de respeito. A inexistência de uma Comissão da Verdade não se
deve a Sarney, mas às características de conjunto do processo brasileiro de
transição, em que foi preservada – até na Constituição de 1988 – a tutela dos
militares sobre a República. É essa tutela, afinal, que tem inviabilizado o
trabalho da atual Comissão da Verdade. Quanto ao empresário Henning Boilensen,
foi justiçado por um grupo de revolucionários. Além de amealhar recursos
financeiros para os órgãos repressivos, encarregados da tortura como política
de Estado, acompanhava as torturas e participava pessoalmente delas. Mereceu o
destino que teve.
Sibila: A fragilidade do poder judiciário, do Ministério
Público e da polícia decorre em parte da impunidade dos agentes de 1964?
Reis: Não vejo fragilidade no poder judiciário e no
Ministério Público, instituições que operam com autonomia e força inéditas na
história republicana. Permanecem, sim, amarrados por pesada burocracia e
legislações elitistas, elaboradas deliberadamente para proteger “os de cima”.
As causas disso, contudo, são mais profundas, e mereceriam uma outra
entrevista. Quanto à polícias, especialmente a militar, trata-se de um aparato
inteiramente incompatível com o regime democrático. Não sou otimista em relação
à possibilidade de reformar as PMs.
Sibila: Considerando as teorias da Nova História e do
culturalismo, gostaria que o senhor falasse um pouco de fatos como Sergio
Paranhos Fleury ter sido guarda-costas de Roberto Carlos de 1965 a 1968 e do
grupo da Jovem Guarda – criada pela agência de publicidade de Carlito Maia, irmão
de Dulce Maia (da ALN). Roberto Carlos que elogiou em 1973 o general Pinochet,
chamando-o de “señor presidente, Don Augusto Pinochet”. Houve colaboração de
artistas com o regime militar em geral e com a OBAN e o DOI-CODI em particular?
Reis: Na vulgada da “resistência”, artistas aparecem, com
razão, citados por seu desassombro e coragem. No entanto, houve muitos artistas
que colaboraram abertamente com a ditadura. Outros ainda não foram contra nem a
favor, muito pelo contrário. Roberto Carlos e a Jovem Guarda faziam parte deste
grupo “não estou nem aí”, mas, como diz a pergunta, não hesitaram, em
determinados momentos, em colaborar com a ditadura e com os ditadores.
Sibila: Com o senhor avalia o fato de Fleury ter tido como
amante, de 1977 a 1979, Leonora Rodrigues, irmã de Raimundo Pereira (jornais
Opinião e Movimento)? Essa promiscuidade percorre até hoje a sociedade e a
cultura brasileiras?
Reis: A sociedade brasileira é ainda hoje marcadamente
“aristocrática”, no sentido de que suas elites sociais e políticas dispõem de
privilégios e regalias especiais. É comum nesses espaços rarefeitos gente de
esquerda e de direita se encontrarem e manterem laços especiais.
Sibila: Paris e Londres eram as referências gerais. Uma parte
dos intelectuais seguia Paris (campo socialista) e outra, Londres
(“pós-política”, experimentando música, sexo livre e marijuana, marcada pela
contracultura, “subversiva” aos olhos dos militares). Parece que, ao longo do
tempo, a linha londrina prevaleceu na cultura brasileira. O senhor concorda?
Isso tem relação com 1964?
Reis: A pergunta está muito eurocêntrica. Para mim, na
estruturação da cultura “udigrudi” pesou mais a influência estadunidense:
beatniks e hippies. É preciso, no entanto, deixar claro que as esquerdas
organizadas sempre formularam muitas reservas – põe reserva nisso – à
contracultura, considerada alienada e mesmo reacionária. Foi só muito mais
tarde que a contracultura foi resgatada pela memória social como uma vertente
da “resistência”, mas isto, sintomaticamente, passou pela dissolução das
organizações de esquerda mais importantes.
Sibila: Como o senhor vê o rebaixamento cultural brasileiro
de hoje? Ele tem causas em 1964? Ou com a civilização global do espetáculo, na
qual o entretenimento substituiu a cultura, e a arte se tornou uma arte
simplificada e sem referências que perturbem sua recepção?
Reis: Esse discurso sobre o “rebaixamento” cultural
brasileiro me parece injustificado e me cheira à nostalgia dos “velhos e bons
tempos”. Vejo uma floração de autores e obras como nunca aconteceu em nossa
sociedade.
Sibila: Aprofundando a questão anterior, por que parece não
haver mais condições para uma arte crítica no Brasil? Trata-se do fim das
utopias, da globalização, do consumismo, do narcisismo “Facebook”, em suma, do
“espírito da época”, incluindo certa “demissão da crítica”, em grande parte
mercadologizada, como, aliás, a própria mídia, ou o modelo social e econômico
brasileiro é parte necessária da resposta, de que o atrasado modelo “agrário”,
isto é, agroexportador, é exemplo e talvez parte implicada?
Reis: Não compartilho o pessimismo embutido na questão.
Vivemos tempos revolucionários, de profundas mutações. Como historiador, vejo
analogias possíveis entre os tempos que vivemos e os que existiram em fins do
século XIX. Quando essas mutações se anunciam – e se realizam – aparecem sempre
os discursos “de fim de mundo”. Mas o mundo não está acabando. O que está
acabando é uma certa ordem de coisas. Vivemos embates históricos, fascinantes,
mas já sem a muleta das grandes – e falsas – visões totalizantes. Para mim, é
muito interessante. Veremos no que vai dar. Quem viver, verá.
Sibila: Por que não há políticas públicas para a cultura no
Brasil? Por que a cultura é tratada como evento? Por que tantos eventos
culturais vazios no Brasil?
Reis: Há políticas públicas para a cultura, o problema é que
são distorcidas e não controladas pelo distinto público. Quando Roberto Carlos
se apropria dos incentivos culturais, dá pra ver como o jogo está sendo jogado.
Penso que esse modelo tende a ruir. Veremos. Vai depender, como sempre, da
vontade das gentes.
Sibila: João Cabral, em duas conferências famosas, de 1952 e
1954, já discorria sobre o problema do fatal distanciamento moderno do público
de poesia. As coisas pioraram ou melhoraram, paradoxalmente, durante o regime
militar? Alguns poemas de A rosa do povo, de Drummond (1944), ou “A rosa de
Hiroshima” de Vinicius (1954), e livros como Poema sujo de Gullar, tiveram
então certa popularidade, pela temática politizada, e parecem ter conseguido
manter a poesia dentro de um contexto de certa efervescência político-cultural
reativa, que incluía o teatro (Arena, Opinião etc.), a música popular e mesmo a
prosa, como nas coletâneas de contos “brutalistas” de Rubem Fonseca nos anos
1970. Se houve melhora ou piora em relação à situação descrita por Cabral nos
anos 1950, ou melhora pontual e piora geral, estas se amenizaram ou se
acentuaram com a redemocratização à brasileira?
Reis: Penso que vivemos uma época estimulante e fascinante,
de emergência maciça de novos talentos. Eles transbordam pelos poros da
sociedade num fenômeno inédito. Essas poesias a que a pergunta se refere eram
consumidas por um pequeníssimo núcleo de elite… não dá para pensar nelas com
nostalgia. Tiveram seu papel e seu valor, sem dúvida, mas pertenciam a uma
época que se viveu…Quanto à poesia, está mais viva do que nunca, basta ver a
vendagem das poesias de Leminski.
Sibila: À época do golpe militar, o mercado editorial
brasileiro era bastante apequenado. Os números de novos títulos, de traduções,
de leitores etc., eram mínimos, incluindo a esfera acadêmica. Além disso,
serviam a uma pequena intelligentsia de escritores, críticos, intelectuais etc.
Não havia nem um público de massa nem um público médio de literatura “média”,
de mercado. Hoje este público está em formação e, segundo os otimistas, em
ascensão, mas em detrimento daquela intelligentsia, hoje minguada em sua
influência e mesmo em sua existência, substituída pelos algo fantasmáticos
“formadores de opinião”. Concorda com esta avaliação, que parece seguir certo
modelo brasileiro de ganhar por perdas?
Reis: Não há ganhos sem perdas. Nem perdas sem ganhos. Como
está na própria pergunta, as “glórias” referidas pertenciam a um mundinho muito
reduzido, pequeno como era Ipanema nos good old times dos anos 1960. Acabou e
foi bom ter acabado. Agora, o que vai surgir ainda não sabemos direito.
Veremos.
Sibila: A literatura brasileira, hoje, cresce por diluição,
em mais de um sentido, em meio a um mercado polimorfo e à convivência com a
internet, seja no caso da publicação em e-books ou da reedição eletrônica e dos
downloads, seja no caso de criações originais feitas na rede e para a rede, que
podem ou não vir a ser publicadas em livro. Ao mesmo tempo, o mercado editorial
em si também cresce, ainda que manco, pois centrado e concentrado em modismos
mercadológico-literários. Mesmo a poesia encontra, apesar de muito
pontualmente, espaços passageiros de grande presença, de é exemplo a recente
publicação da obra poética completa de Paulo Leminski, que se tornou um
best-seller. Como pode, se pode, a literatura contemporânea voltar a ter alguma
influência cultural? Neste caso, o período do regime militar ficará na história
como seu último momento de presença forte, apesar de tudo?
Reis: Só pode ser piada dizer que no regime militar a
literatura teve grande influência. Há gente que olha para o próprio umbigo e vê
ali o mundo. A ampliação da produção de livros e o aumento do leitorado criaram
novas dimensões. Ainda é cedo para fazer um juízo a respeito. Mas é estimulante
ver que os autores do novo Cinco vezes favela foram jovens que nasceram e
cresceram em favelas.
Sibila: Se as mentalidades são mesmo prisões de longa
duração, podemos afirmar que há uma característica histórica permanente na
mentalidade brasileira? Qual?
Reis: Trabalho com a noção de
cultura política. As culturas políticas não são prisões, mas conjuntos de
referências, sempre cambiantes, adaptando-se, metamorfoseando-se, segundo as
circunstâncias e as vontades das gentes. Não acredito em determinismos. Mas na
vida, sempre sujeita a imponderáveis. E gosto da frase de E. Morin: às vezes, é
o improvável que acontece.
Daniel Aarão Reis Filho é graduado e mestre em história pela
Universite de Paris VII e doutor em história social pela USP. É professor
titular de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense. Dedica-se
atualmente a duas linhas principais de pesquisa: os intelectuais russos e as
modernidades alternativas (séculos XIX e XX), visando as relações entre
literatura e história, e a história das esquerdas no Brasil.
SIBILA DEBATE 64:
Sibila.com.br
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