Luciana Genro não será uma campeã de votos em 2014.Mas, ainda assim, a contribuição que ela deu ao debate eleitoral é milionária.
Dois assuntos vitais para o Brasil teriam ficado na gaveta se ela não os trouxesse à cena com sua ousadia gaúcha: a tributação das grandes fortunas e a regulação da mídia.
O sistema tributário brasileiro é um absurdo. É regressivo. Isso significa que, proporcionalmente, paga mais quem tem menos dinheiro.
Luciana Genro tem uma proposta para começar a corrigir essa aberração. Taxar em 5% ao ano fortunas acima de 50 milhões de reais.
Com seu estilo divertido e incisivo, amplificado pelo indomado sotaque gaúcho, ela diz que quer taxar o “ricaço”, e não o “riquinho”.
Luciana Genro está propondo algo que vigora na Escandinávia, e que explica, em grande parte, o avanço extraordinário da sociedade da região.
Os escandinavos ricos se orgulham de pagar altos impostos, porque sabem que só assim você vive em sociedades saudáveis, em que você anda nas ruas sem medo de ser morto.
Os brasileiros ricos se orgulham de sonegar, sob a alegação – sem nexo e sem sustentação em nada real – de que a carga tributária brasileira é “a maior do mundo”.
As grandes companhias de jornalismo alimentam essa falácia, com um noticiário repetitivo e maroto que leva o leitor a crer que paga impostos escandinavos.
O objetivo dessa campanha é legitimar os truques que as empresas de mídia – e tantas outras – cometem para sonegar os impostos.
O segundo ponto vital que Luciana Genro trouxe diz respeito especificamente à mídia.
Ela expôs com clareza seu ponto na sabatina a que se submeteu na Folha, na sexta passada.
“Liberdade de expressão, como a que temos, é a liberdade de expressão dos donos das empresas de jornalismo”, ela disse.
Esse monopólio da opinião, que tanto mal causou ao Brasil, só começou a ser rompido com o surgimento da internet.
A internet trouxe uma pluralidade de ideias que enriqueceu fabulosamente o debate político nacional.
Todo jornalista sabe dessa verdade doída, embora muitos finjam que não é assim. A liberdade de expressão, na grande mídia, é limitada aos proprietários.
A pluralidade não pode depender da internet. Tem que estar na lei. Para evitar concentração de mídia, nos Estados Unidos a legislação veda que o New York Times seja dono, por exemplo, de uma cadeia de televisão, ou de rádio.
As leis antimonopólio americanas jamais permitiriam uma empresa como as Organizações Globo: os Marinhos espalham sua influência e seus interesses por virtualmente todos os meios possíveis, de jornal a tevê, de rádio a revista.
A questão da mídia é tão complicada, no Brasil, que ela acabou fora do programa de Dilma, mesmo com muitos líderes petistas lutando para que estivesse dentro.
Marina, com sua “nova política”, simplesmente ignora a questão da concentração da mídia em seu programa de governo.
Coube à combativa Luciana Genro, nesta campanha, segurar, sozinha, essas duas tochas – a da desconcentração da mídia e a da tributação das grandes fortunas.
Ela não vai se eleger. Não tem chance nenhuma de ir para o segundo turno.
Mesmo assim, vai sair dessa campanha muito maior do que entrou.
Diário do Centro do Mundo
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