sábado, 29 de dezembro de 2018

Daniel Aarão Reis: Ninguém solta a mão de ninguém

- O Globo

A melhor atitude é se preparar para a luta. Haverá que lidar com as políticas do novo governo, defender-se delas, lutar contra elas

Diante de um perigo iminente, várias alternativas podem ser imaginadas. A primeira, a mais fácil, é a fuga. O problema é que nem sempre a fuga é possível. A segunda é ignorar o risco, fingir que não existe. Não costuma funcionar. O perigo tem uma existência objetiva, não desaparecerá se for ignorado.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

“Reformar o país” ; Rene de Carvalho


Mensagem de Rene de Carvalho

amig@s:

Quando ouvia dizer que FHC e o Papa eram comunistas, sorria do evidente absurdo. Aos poucos, entretanto, fui entendendo que havia grupos e movimentos e não tão pouca gente, que sentiram o fim da ditadura como uma derrota. E que não se veem representados no processo que se inicia com o fim da ditadura e tem como referência a Constituição de 1988. Ou seja: não se reconhecem na Nova República e, consequentemente, nos governos FHC e é claro, Lula e Dilma. Não ocuparam postos expressivos em nenhum desses governos além de terem sido inúmeras vezes preteridas em ministérios e instituições públicas. Para eles, voltar décadas atrás é voltar a esses tempos.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

“Não sou obrigado”: impaciência e arrogância na esquerda

Gabriel Landi Fazzio

Para difundir nossas ideias amplamente, permitindo que sejam conhecidas e assimiladas pela maioria do povo, precisamos estabelecer uma autodisciplina voluntária, coletiva. Nesse sentido, existem dois obstáculos que a agitação política e a propaganda teórica “de esquerda” precisam superar com urgência, em especial nas redes sociais: a arrogância e a impaciência.


sábado, 15 de dezembro de 2018

'Roma' é uma ficção que fala muito sobre a realidade


Não há o que lamentar e, sim, festejar que, em época de tanta superficialidade, um filme grandioso como este

Luiz Zanin Oricchio, O Estado de S.Paulo

Há duas sequências bastante impressionantes em Roma, de Alfonso Cuarón. Numa, vê-se a terrível repressão aos estudantes na Praça de Tlatelolco, que redundou em centenas de mortos. Na segunda, uma cena de quase afogamento de uma pessoa num mar revolto que, pelo realismo e pela ameaça, torna-a muito angustiante. Isso para dizer que o filme, embora produção da Netflix, é explicitamente pensado para a tela grande, na qual essas sequências encontram sua potência máxima, inevitavelmente reduzida numa tela menor. A discussão sobre a primazia do cinema sobre o streaming é infindável e vai sendo vencida pela força dos fatos. Ou seja, da grana.

Michel Zaidan Filho: Fascismo, Estado de Exceção e Direito de Resistência


Tem havido uma grande controvérsia em relação à caracterização do regime político brasileiro, depois da última campanha eleitoral: Estado de direito democrático, Estado formalmente democrático e constitucional, Estado de Exceção, Estado de Exceção Episódico?

Para muitos, a diferença entre um Estado de Exceção e um Estado democrático de Direito estaria no funcionamento normal das instituições: Justiça, Legislativo e Executivo. E a existência do direito do contraditório, da crítica, da oposição e do debate. Enquanto esses poderes funcionarem, não se poderia falar com propriedade em Estado de Exceção. O primeiro a questionar a diferença foi um teórico alemão simpático ao Nazismo, na Alemanha. Carl Schmidt, em seu livro “Teologia política”. Afirmava esse filósofo político que todas as categorias da política seriam extraídas da religião. Que o líder não precisa representar ninguém; ele decide os outros o seguem (decisionismo). E que a política se resumia à oposição entre o amigo e o inimigo. Para Schmidt, era irrelevante a fronteira entre ditadura e democracia. Porque para as classes dominadas, sempre houve uma ditadura, nunca uma democracia. Assim, para estas, tratava-se de criar pioneiramente um verdadeiro Estado de Exceção para as classes dominantes. E isso só podia ser feito com a revolução (Walter Benjamin).

A ‘Lava Jato’ contra as liberdades de expressão e de manifestação


Igor Mendes

Segundo notícia veiculada pelo portal G1, e replicada por outros meios, a Polícia Federal (PF) cumpriu, na manhã desta quinta-feira, 13 de dezembro, mandado de busca e apreensão na residência de um jovem suspeito de “incitar a morte” de Jair Bolsonaro. Com base em postagens nas redes sociais, feitas ao fim do segundo turno, o Ministério Público Federal (MPF) e a Justiça Federal do Rio pretendem enquadrar o autor na Lei de Segurança Nacional, pelo “crime” de pregar a “subversão da ordem política”. Confirmando-se tais fatos, trata-se de evento gravíssimo, que evidencia o modus operandi que será usado contra o ativismo político nos próximos meses e anos. Por ironia ou não, isto ocorre no dia em que se completam 50 anos da promulgação do AI-5.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Michel Zaidan Filho: O fim do presidencialismo de coalizão



A eleição do senhor Jair Bolsonaro, nas controvertidas circunstancias em que se deu, após o afastamento da presidente Dilma e o malfadado interregno do senhor Michel Temer, só confirma mais uma vez a exaustão do chamado “presidencialismo de coalizão” no Brasil. Como se sabe, o nosso messianismo legal copiou as instituições políticas norteamericanas, no início da República brasileira. E entre estas, o instituto do Presidencialismo, sem se dar conta da multiplicidade de partidos e legendas existentes no nosso país. Partidos de frágeis bases nacionais, mais parecidos com federações de grupos políticos locais. A tradição messiânica da política brasileira se expressou com perfeição no Presidencialismo semi-imperial, de absoluto desprezo pelo sistema partidário e, mais ainda, pelo Poder Legislativo. Esta tendência histórica levou ao menosprezo pelo eleitor das eleições proporcionais e a uma sobrevalorização do Poder Executivo, fazendo muitas vezes as eleições majoritárias assumirem o caráter de um plebiscito.

domingo, 9 de dezembro de 2018

A verdade acima de tudo, por Ricardo Melo


Começo com uma notícia boa ou má, dependendo do lado que se enxergue. Neste espaço você nunca lerá nada que seja necessariamente agradável e afague seu ego. Tampouco nada obrigatoriamente desagradável para mostrar “independência”. A ambição é bem menor: dizer a verdade, desde que ancorada no mundo real. Não falo para convertidos por antecipação, nem para preconceituosos de ofício. 

Por exemplo: a última eleição presidencial no Brasil foi uma fraude. Isto está comprovado. O líder disparado nas pesquisas foi trancafiado com base num processo condenado internacionalmente. O “ vencedor” valeu-se de um esquema gigantesco de manipulação demonstrado mesmo pela mídia tradicional. Agora apareceu até um motorista, figura que já se tornou tradicional nos escândalos locais –lembrai-vos de Eriberto França da era Collor.


As redes sociais destruirão a democracia ou a ressuscitarão?


Se a ferramenta for chamada a obrigar o poder a atuar sob a luz do sol já deve merecer nosso aplauso e até nosso agradecimento.

O comentário é de Juan Arias, jornalista, publicado por El País, 03-12-2018.

Existe tamanha perplexidade com as redes sociais que sobre elas recaem as teorias mais extravagantes e contrapostas. Há quem as veja como o verdugo que acabará com a democracia tradicional tal qual a vivemos. E há quem chegue a concebê-las como o milagre que fará a democracia ressuscitar da crise de identidade em que hoje se encontra.


sábado, 8 de dezembro de 2018

Por falar em democracia

Soberania popular é hoje confundida com populismo

Fábio Konder Comparato

Desde a Antiguidade clássica até a segunda metade do século 19, a democracia sempre foi tida como regime político subversor da hierarquia social. Montesquieu sustentava que, numa sociedade democrática, as mulheres, as crianças e os escravos já não se submeteriam a ninguém, já não haveria bons costumes, amor à ordem, virtude, enfim.


Da Cosa Nostra ao PCC


Um amigo marcou minha arroba no Twitter com um notícia do Correio da Bahia: “Polícia Federal busca suspeitos ligados a mafioso preso em Salvador”.

Cliquei, olhei para a foto e vi um senhor muito velho, com semblante levemente melancólico e olhar perdido. Não o reconheci. Foi só quando li a legenda que me dei conta de que era alguém que eu julgava estar morto há décadas.

Lelio Paolo Gigante foi personagem do meu livro. Já no começo dos anos 1970, ele se envolveu com mafiosos italianos e franceses no Brasil e se enredou em uma trama rocambolesca e perigosa de tráfico internacional de heroína. Nascido em São Paulo em 1934, Gigante havia sido criado na Itália, para onde seus pais se mudaram em 1935. Girou por diversos países até se estabelecer como comissário de bordo da Avianca na Colômbia, de onde voava para os Estados Unidos e para a Europa. Complementava o salário com a venda de relógios falsificados transportados de um país ao outro até descobrir que podia lucrar muito mais com pequenas cargas de heroína.


Indicação de general para Segurança é vista como estratégica, mas com ceticismo

Para ex-secretário, órgão ganha com "gestão estratégica". Advogada diz que foco deixa de ser política pública e passa a ser tropa e equipamento.

By Débora Melo

Escolhido por Sérgio Moro, general Theophilo será secretário de Segurança do governo Bolsonaro.

A decisão de manter um militar à frente da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) no governo Jair Bolsonaro (PSL) foi tanto recebida como uma boa escolha estratégica como soou um alerta entre especialistas.

Anunciado pelo futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, o general da reserva Guilherme Theophilo, de 63 anos, tem defendido que o enfrentamento ao crime organizado se dá com inteligência, fiscalização e tecnologia.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Trabalhadores do mundo, conectai-vos!

Via The Economist, traduzido por Alexandre Pimenta

A tecnologia pode ajudar a ressurgir a organização dos trabalhadores: sindicatos estão se aproveitando da mesma força que causou seu declínio.

“Se continuarem, nós vamos bater neles onde eles sentem.” Jörg Sprave é um alemão jovial com um sorriso encantador, mas ele não deixa dúvidas de que é um sujeito sério. Se o Google, o proprietário do YouTube, não se movimentar, ele convocará uma greve. O Sr. Sprave dirige o “The Slingshot Channel”, dedicado a vários tipos de estinlingues, que possui mais de 2 milhões de inscritos. Ele também é o fundador do Sindicato dos YouTubers, que conta com mais de 16.000 membros. Ele lançou a organização em março, depois que o YouTube parou de exibir anúncios ao lado de muitos vídeos seus e de outros, devido à pressão dos anunciantes. Isso fez com que sua renda caísse de 6.500 para 1.500 dólares por mês. A principal demanda do grupo é impedir essa “desmonetização”.


Por dentro do esquema do WhatsApp que pode eleger Bolsonaro

Gabriel Ferreira e João Pedro Soares, Agência Andante

Listas telefônicas em papel, chips importados, grupos segmentados e hibridismo entre militantes e disparadores pagos. Essas foram algumas das estratégias utilizadas pela campanha de Jair Bolsonaro (PSL) para criar sua extensa rede de comunicação paralela via WhatsApp. Na reta final da eleição, Época conversou com pessoas que mergulharam ou participaram ativamente da construção do sistema, marcado pela circulação de notícias falsas e financiamento duvidoso. Um dos ouvidos pediu anonimato por temer retaliações.

Como cuidar da saúde mental em tempos de notícias difíceis?


Não é fácil digerir o noticiário atual sobre política e direitos humanos. Mas pode ser particularmente difícil para quem se sente alvo direto dessa violência.

Além de estarem presentes nas manchetes, as matérias se tornam temas de conversas nas redes sociais, no almoço ou no jantar em família. No fim das contas, o resultado pode ser positivo, já que estamos falando bem mais de política – mas essas conversas podem ter consequências direta em nossa saúde mental, dizem os especialistas.

'Há uma politização de ressentidos', diz Débora Diniz, antropóloga brasileira exilada


Antropóloga, que saiu do país por causa de ameaças de morte, fala sobre eleições, militarismo, direitos civis e conservadorismo. Para ela, uma das surpresas do governo Jair Bolsonaro pode ser Sérgio Moro, futuro ministro da Justiça

A entrevista é de Paloma Oliveto, publicada por O Estado de Minas, 26-11-2018.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

“Há um clamor unânime e geral por renda básica de cidadania universal e incondicional”. Entrevista especial com Lena Lavinas

Patricia Facchin | 01 Dezembro 2018

Qual é o saldo das políticas públicas na trajetória macroeconômica brasileira entre 2003 e 2017? Ao responder a essa questão, a economista Lena Lavinas é categórica ao afirmar que elas não foram suficientes para atender às demandas das famílias por mais bem-estar e segurança socioeconômica. As chamadas “classes médias” que estavam em ascensão, pondera, “permaneceram vulneráveis”, porque “quanto mais ganhavam, mais dispendiam, pois apesar de a oferta de emprego estar em alta, não houve provisão pública em educação e saúde que lhes desse um certo fôlego. As classes médias têm gastos crescentes para se manterem como classe média, manterem seu status. São despesas com pagamento de escola e universidade para os filhos, aluguel, despesas de saúde que, no Brasil, são majoritariamente out of pocket (ou seja, independem de adesão a plano de saúde)”.

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