Crianças mais altas |
As boas notícias sobre efeitos de programas sociais do Governo Federal não se limitaram à divulgação, anteontem, de relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Essa disse que nos últimos dez anos o Brasil reduziu em mais de 50% o número de brasileiros que passam fome; aquela, que conseguimos abater em 75% a extrema pobreza no país, no mesmo período. E ontem foi anunciado o resultado de estudo dos Ministérios do Desenvolvimento Social e da Saúde mostrando que o Programa Bolsa Família tem impacto positivo até na altura média das crianças atendidas pelo programa.
“Entre 2008 e 2012, as meninas de 5 anos ficaram 0,7 centímetro mais altas; os meninos, 0,8 centímetro”, informa o sítio de Internet do jornal O Estado de São Paulo, o Estadão, complementando: “A altura é considerada o indicador mais confiável de melhora na nutrição da população. O peso, apesar de importante, pode representar aumento não saudável. A altura, no entanto, demonstra que a criança está absorvendo nutrientes suficientes para crescer”. Lendo coisas assim entendo cada vez menos o ódio, o ranço, as mentiras e as desinformações que alguns espalham com gosto e força sobre o Bolsa Família, o maior programa de transferência condicionada de renda do mundo, copiado e aplaudido até em países bem mais desenvolvidos que o nosso.
Por essas e outras, busquei socorro no entendimento dos outros para tentar entender a razão do ódio que alguns devotam a um programa que beneficia mais de 54 milhões de pessoas ao custo de R$ 18 bilhões por ano (0,5% do PIB), baixíssimo se comparado àquilo que os governos federal, estaduais e municipais pagam de juros da dívida por ano (R$ 250 bilhões ou 5% do PIB).
Pois bem, na busca por explicações encontrei ajuda em Armando Simões, de 47 anos, especialista em políticas públicas, que recentemente defendeu tese de doutorado (na Universidade de Sussex, Inglaterra) sobre a influência do Bolsa Família na melhoria da aprendizagem das crianças beneficiárias. Em entrevista à Carta Educação, ele lembrou, por exemplo, que as análises de programas de transferência condicionada de renda mostram evidências fortes de efeito positivo na matrícula escolar e na redução do abandono, além de induzir a matrícula das crianças na idade certa.
Mas “por que ainda há resistência de ¬algumas parcelas da população brasileira em relação a programas como o Bolsa Família?”, perguntou a revista. Resumindo, na resposta ele diz que “parte dessa crítica se origina do desconhecimento das pessoas”, pessoas que não sabem que para ter acesso ao benefício é preciso manter o filho menor na escola, assistindo aulas regularmente, cuidando ainda para que ele tome todas vacinas e, sendo gestante, tendo que fazer pré-natal completo no sistema público de saúde. Já a outra parte da crítica, conclui Simões, “é resquício do preconceito, de uma visão arcaica em relação aos pobres, que entende ser a pobreza resultado das escolhas dos indivíduos ou de certa incapacidade de trabalharem, o que não é verdade”.
Fim da escravidão
E o que dizer daquela história de que depois do Bolsa Família “o povo deixou de trabalhar” ou “não quer mais trabalhar”? Essa quem me responde é a socióloga Walquíria Domingues Leão Rego, que achei numa entrevista à Folha de S. Paulo publicada ano passado. Vejam só o que ela disse: “Nas regiões mais pobres não há emprego; há, ocasionalmente, trabalhos como a colheita do feijão, mas é um trabalho sem nenhum direito. Um fazendeiro (do Vale do Jequitinhonha, Minas) disse para o meu marido que não conseguia gente para trabalhar. Mas sabe quanto pagava? 20 reais por semana. Ele não quer trabalhador, quer escravo. Paga uma miséria por trabalho duro de 12, 16 horas, não assina carteira, é autoritário, e acha que as pessoas têm que se submeter a isso. E dizem que receber dinheiro do Estado é uma vergonha”.
Luz para todos
Realmente, vergonha é ver alguém pensar e agir daquele jeito, como o tal fazendeiro ou o arcebispo que chama o Bolsa Família de ‘Bolsa Preguiça’. Mas é vergonha alheia, daquelas que a gente sente pelo outro, mas passa ligeiro. Passa pra quem sabe que a maioria não pensa dessa maneira, como descobriu uma pesquisadora que na mesma região mineira foi levantar o que mudara na vida das pessoas pobres com o advento do Programa Luz para Todos, outro tento do Governo Federal. O caso foi contado também por Walquíria do Rego. Ela disse que a moça perguntou a um cidadão o que mais havia lhe impactado com a chegada da luz na sua casa. “A pesquisadora, em seu preconceito de classe média, já estava pronta para escrever: fui comprar uma televisão”, relata a socióloga, para em seguida reproduzir a resposta surpreendente e terna daquele homem simples. O entrevistado disse: “A coisa que mais me impactou foi ver pela primeira vez o rosto dos meus filhos dormindo; eu nunca tinha visto”.
Na Constituição
Walquíria do Rego é autora do livro ‘Vozes do Bolsa Família’ (Editora Unesp), lançado em 2013 em parceria com o filósofo italiano Alessandro Pinzani. A obra retrata pesquisa de cinco anos (2006 a 2011) entrevistando beneficiários do Bolsa Família nos grotões de Minas, Alagoas, Piauí, Maranhão e na periferia mais pobre de Recife. Na entrevista que concedeu à Folha, através da jornalista Eleonora Lucena, a socióloga defende a constitucionalização do programa. Botando na Constituição, garante, o BF vira política de Estado. Com isso, qualquer governo que venha a suceder o PT jamais poderá mexer pra piorar ou acabar com o benefício que botou mais de 18 milhões de famílias para comer todos os dias sem precisar mendigar o alimento, sem pedir a esmola que, já cantava Seu Luiz, “quando não mata de vergonha, vicia o cidadão”.
Jornal da Paraiba
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