Não vejo consistência nesse argumento alarmista, no melhor estilo Regina Duarte, usado pelo PT, ao prever para Marina o destino de Jânio ou de Collor pela falta de base no Congresso, caso ela vença a eleição.
Aliás, o PT, quando ganhou a primeira vez com Lula, também não tinha uma base ampla. Há formas de enfrentar o problema.
Penso que, caso vença, Marina se verá diante de duas possibilidades.
1) Fazer a “velha política”, aliando-se aos de sempre. Foi o que fez o PT. E é o caminho mais provável para Marina.
Mas, aí, há um preço a pagar. O mesmo que pagou o PT. Vai ser preciso lotear o aparelho de Estado. Mesmo que Marina, no início, tenha um pouco mais de decoro (e não se entregue de imediato a gente do tipo Sarney, Renan, Jader, Maluf, Collor et caterva), Marina tem esse caminho.
A questão é que se essa promiscuidade servisse para aplicar um programa de transformações estruturais, serviria de algo e os danos à imagem seriam compensados. Mas, não. Com essa gente não se faz reforma alguma. Haverá apenas programas assistenciais de distribuição de renda e coisas como o aumento do salário mínimo, que são positivos, mas não afetam os interesses dos poderosos. Tanto é assim que mesmo a recuperação do mínimo começou com FHC e os candidatos mais identificados com a direita se propõem a manter os programas assistenciais do PT. Isso é plenamente palatável para o grande capital e a direita.
Mas o problema é outro. O caminho das alianças feitas pelo PT significa, necessariamente, o rebaixamento do programa de governo.
Não haverá reforma agrária, mas o agronegócio e os transgênicos terão todo apoio;
Não haverá fortalecimento do Estado Laico, mas serão feitas mais concessões às igrejas de todo tipo, dando-lhes espaço inclusive no aparelho de Estado e entregando-lhes tarefas que são do poder público;
Não teremos nova política econômica; não haverá auditoria da dívida pública, que vai continuar comendo mais de 40% do orçamento; o tal “tripé” será mantido; os bancos continuarão com lucros cada vez maiores e não haverá recursos para saúde e educação;
Não será feita reforma que neutralize de forma decisiva o peso do poder econômico nas eleições e na política.
Não se avançará na democratização dos meios de comunicação.
Enfim , não é só uma questão de Lula e o PT ficarem ficar mal na fita quando posam aos beijos e abraços com Collor, Sarney e Maluf. É que, com eles, não há reformas.
2) Voltando à Marina, se eleita, a outra possibilidade é que ela subordinasse as alianças a um programa. E – esta é a questão essencial – compensar uma base certamente menor no Congresso com a mobilização da sociedade. Como, em linhas gerais, fizeram os chamados governos bolivarianos.
Vale lembrar que, nossos jornais não falam disso, mas Evo Morales vai para mais uma eleição dentro de 45 dias e é franco favorito. Politizou as questões, jogou o debate para a sociedade, teve a coragem de fazer mudanças e está compensando o abandono dos que sempre fizeram a “velha política” com um apoio popular crescente.
Já o PT, caso perca a eleição agora, o que terá deixado de legado em termos de mudanças estruturais? Nada.
Bom, voltando à marina, não creio que ela opte por esse segundo caminho.
Assim, caso eleita, penso ser questão de (pouco) tempo que abandone o discurso contra a “velha política” e se componha com seus representantes, da mesma forma que o PT se compôs.
O fato de, hoje, haver poucos congressistas que a apoiam não é problema.
Uma vez eleita, vai chover gente aderindo.
Não haverá impeachment.
Pena que também não haverá “nova política”.
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