Altamiro Borges
“Nunca antes na história deste país”, como sempre lembra o ex-presidente Lula, as montadoras de veículos ganharam tanta grana no Brasil. Nos últimos 12 anos, a produção de automóveis bateu recordes seguidos e várias multinacionais decidiram abrir suas unidades no território nacional. Neste mesmo período, elas remeteram bilhões de dólares para as suas matrizes, ajudando a aliviar a crise que afeta as empresas nos EUA, Japão e Europa. Agora, porém, com a proximidade das eleições presidenciais, estes capitalistas vorazes fazem ameaças de demissões e corte de direitos trabalhistas. Desta forma, eles tentam ajudar a oposição neoliberal e, de quebra, conseguir mais alguma cedência do governo.
Na semana passada, a alemã Volkswagen deu férias coletivas de dez dias para os metalúrgicos da unidade de Taubaté, no interior de São Paulo. A fábrica tem 4.500 operários, que sabem que as férias coletivas são um presságio de demissões. Já a estadunidense General Motors anunciou a suspensão temporária do contrato de trabalho de 900 funcionários da sua unidade em São José dos Campos, também no interior do Estado. No ABC paulista, que concentra várias montadoras de automóveis, o sindicato da categoria esbarra em dificuldades para negociar a manutenção dos empregos. Ao longo de 2014, Fiat, Ford, Hyundai, Scania e Renault também deram férias coletivas e ameaçaram cortar direitos trabalhistas.
Em tom terrorista, a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotivos (Anfavea) justifica os golpes alegando redução dos lucros. Na semana passada, ela anunciou que a produção de veículos registrou queda de 17,4% na comparação de janeiro a julho deste ano com o mesmo período de 2013. Ela também afirmou que os licenciamentos de automóveis caíram 8%. A poderosa entidade não esconde seu interesse de obter novas concessões do governo. O Ministério da Fazenda já isentou as empresas do Imposto sobre Produtos Industriais (IPI) e cedeu outros subsídios. Mas as indústrias do setor exigem mais, muito mais, e aproveitam o período eleitoral para chantagear o governo.
O oportunismo das multinacionais é revoltante. No período de crescimento da economia, elas enchem os cofres de dinheiro, enricam seus acionistas e remetem bilhões ao exterior. Já nas fases de retração econômica, elas ameaçam os trabalhadores e chantageiam o governo. Elas privatizam os lucros e socializam os prejuízos. De quebra, elas atacam a política econômica do governo, reforçando o coro midiático de que o país caminha para o caos, e sinalizam apoio aos candidatos identificados com o neoliberalismo. Como alertou Ricardo Melo, um dos poucos colunistas com senso crítico da Folha, o Brasil segue sendo “a terra do lucro animal”. Vale reproduzir seu artigo, publicado em 25 de agosto:
Blog do Miro
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