sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Coppe alerta para consequências de uso político do caso da Petrobras



É preciso julgar e punir, mas também proteger interesses do país, dizem especialistas



Pamela Mascarenhas

O desenrolar, a repercussão e o uso do caso de corrupção na Petrobras têm preocupado alguns brasileiros, principalmente os que conhecem bem o funcionamento e a importância da estatal para o país, e ainda os interesses econômicos e geopolíticos do mercado internacional. Atenta e preocupada com os impactos de um "terceiro turno" eleitoral ou de uma possível tentativa de intervenção com interesses duvidosos na estatal, a Coppe UFRJ realizou nesta quinta-feira (18) o debate "A crise da Petrobras", com a participação do reitor da UFRJ, Carlos Levi, do diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, de professores do instituto, de engenheiros da área do petróleo, de representantes de trabalhadores da Petrobras, e do jornalista e economista George Vidor.



A cada novo capítulo da Operação Lava Jato e também com o embate geopolítico no mercado de petróleo entre Estados Unidos, Rússia, Europa, Venezuela e Arábia Saudita, a Petrobras sofre novas perdas. Os ADRs (American Depositary Receipts) da Petrobras, recibos que representam ações e são listados na Bolsa de Valores de Nova York, chegaram próximo a US$ 6 no início da semana. A máxima nos últimos 12 meses foi de US$ 21 e, em 2008, com o anúncio do pré-sal, tinha alcançado os US$ 100. Na segunda-feira (18), o Credit Suisse cortou o preço-alvo das ADRs de US$ 14 para US$ 7,30.



A Security Exchange Commission (SEC) ainda iniciou uma investigação que pode suspender os ADRs na Bolsa de Nova York. Cerca de 40% de todos os negócios com papéis da Petrobras no mundo passam pelo mercado americano. A Petrobras também está sob investigação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que analisa potenciais violações à legislação do país contra corrupção no exterior. Empresas de advocacia norte-americanas movimentam uma ação coletiva contra a empresa que, dependendo das interpretações que forem adotadas, podem significar um grave prejuízo.



Diretor da Copppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa: "É uma exploração política, como todos estão dizendo, um terceiro turno, uma tentativa de mobilizar o governo da Dilma nesse início, há outras intenções."



Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe, em conversa com a imprensa após o evento, ressalta que a Petrobras precisa sobreviver, se equacionar, punir os culpados, internamente e na Justiça, afastar os que foram relapsos na gestão e manter a questão tecnológica. Ele salienta, contudo, movimentos externos que prejudicam esse processo.



Pinguelli acredita que uma mudança de diretoria da estatal, por exemplo, não é um grande problema, apesar de ser uma questão que o mercado financeiro parece exigir. "O mercado tem suas idiossincrasias, mas eu não vejo que isso é um grande problema, do ponto de vista interno, da operação da empresa. Eu acho que alguns diretores podem mudar, outros podem ficar, como os que têm posição chave", destaca o diretor, que também não vê nenhuma culpa do que acontece na presidente Graça Foster. "É uma exploração política, como todos estão dizendo, um terceiro turno, uma tentativa de mobilizar o governo da Dilma nesse início, há outras intenções, internas, que não são puramente apuração e punição, mais que isso, é tentativa de manietar a empresa



Ele lembra a questão dos preços baixos do petróleo, que têm prejudicado fortemente países exportadores como Venezuela e Rússia, mas que também afetam a Petrobras e empresas de menor porte do país. A questão que tem se propagado internacionalmente é que a culpa é da Arábia Saudita, que se recusa a subir seus preços, para prejudicar outros países. "Como foi dito aqui, não é só a Arábia Saudita que está nesse jogo. Em princípio, são os americanos, eles são muito estrategistas. Eles têm como alvo, além da Rússia, hoje acusada por uma questão de briga em sua fronteira, também a Venezuela, que é uma adversária preferencial dos Estados Unidos. Então eu acho que há uma estratégia. Não é apenas um fator econômico de 'caiu o preço do petróleo por questões de mercado'. Não."



Para Pingelli, a questão do preço do petróleo, inclusive pode ter como objetivo também afundar a Petrobras, e transferir a propriedade do pré-sal para outras empresas. "Já se fala em mudar o regime de partilha (estipulado para a exploração do pré-sal), e acabar com os 30% de participação obrigatória da Petrobras. Enfim, o perigo é a Petrobras sofrer mudanças que o próprio governo pode fazer, pressionado. O debate aqui é nessa direção, não deixar o governo ceder nesses pontos."



Sobre os processos contra a estatal nos Estados Unidos, ele reforça: "É uma bola de neve infindável. Acho que era preciso uma estrutura de defesa da Petrobras. Além de punição dos culpados, estancar o processo, chegar a um acordo e punir."



Segen Estefen, professor de Engenharia Oceânica da Coppe, destaca que o patrimônio construído por décadas corre agora o risco de ser perdido, devido ao direcionamento que está sendo dado ao caso, e também às possíveis tentativas de interferência, que talvez tenham outros interesses que não o do país. "O Brasil perder isso é algo muito grave, é gravíssimo. Está muito além da corrupção, que tem ser extirpada. Mas nós não podemos deixar que a Petrobras caia no descrédito popular. Isso é muito grave. Se o Brasil perder a Petrobras, o Brasil vai perder muita coisa."



O debate então, resume Estefen, tinha justamente o objetivo de deixar claro a necessidade de uma posição de defesa da Petrobras, e desta posição chegar à sociedade. "Nós estamos descontentes com a corrupção, queremos que tudo isso acabe, e haja punições. Mas está havendo, eu diria da mídia preponderante, pelo menos, um ataque que deixa a sociedade confusa. Nós não estamos confusos, mas a sociedade está confusa."



Desestabilizar a Petrobras em um momento em que ela constrói uma grande rede de investimentos, que deve trazer retornos para o país, "seria algo desastroso", alerta o professor. "A gente tem que tomar cuidado para não passar para a sociedade que há uma desarticulação total na empresa. A empresa continua trabalhando, continua produzindo, continua avaliando as obras em construção."



"Uma coisa que eu vejo fora do Brasil é uma preocupação dos países desenvolvidos protegerem as suas empresas. E aqui no Brasil, eu não sei se isso também casou com a eleição, mas o que aparenta é o contrário. É um movimento nosso de denegrir a nossa maior empresa, quando nós deveríamos separar o que é a empresa e o que é a corrupção na empresa", completa Estefen.

Jornal do Brasil

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