sábado, 13 de dezembro de 2014

Empreiteiras, ditadura e corrupção no Brasil

Catedrais da Corrupção
Juremir Machado

Qual foi o livro brasileiro do ano? Não vi um só grande romance publicado. Tentei ler os premiados. Tudo historinha para boi cochilar e amigo louvar. O melhor livro publicado em 2014 saiu por uma editora universitária, a editora da Universidade Federal Fluminense (UFF), e tem como título “”Estranhas Catedrais – As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-Militar””. O autor é um jovem historiador de 31 anos de idade, Pedro Henrique Pedreira Campos. Na obra, Campos prova que as relações incestuosas entre empreiteiras e Estado no Brasil tiveram na ditadura de 1964 o seu ponto de decolagem. O autor demonstra também que nossos capitalistas nada tem contra a corrupção, vendo nela um dispositivo como qualquer outro para aumentar seus lucros.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Pedro Henrique Pedreira Campos esclareceu: “A gente tenta ler a corrupção como exceção. Mas o que eu noto, considerando a história do capitalismo, é que a apropriação do público pelo privado é mais uma regra. As empreiteiras calculam a corrupção para obter lucro. Assim, se eu tenho que lucrar com uma obra, vou usar todos os métodos disponíveis”. Empreiteiras e corrupção é um casamento natural. A benção foi dada pelo ditador Artur da Costa e Silva, que, com o decreto 64.345, de 10 de abril de 1969, fechou as portas para empresas estrangeiras em obras de infraestrutura no Brasil. Pequenas empresas regionais como a Odebrecht agigantaram-se em pouco tempo.

Segundo Campos, o quadro do regime militar teve a moldura perfeita para as empreiteiras: “Durante a ditadura, elas tiveram acesso direto ao Estado, sem mediações, sem eleições. Havia um cenário ideal para o seu desenvolvimento: a ampla reforma econômica aumentou recursos públicos disponíveis para investimentos e mecanismos legais restringiram gastos para a saúde e educação e direcionaram essas verbas para obras públicas, apropriadas pelas empreiteiras – grandes projetos, tocados sob a justificativa do desenvolvimento nacional, como a Transamazônica, a usina de Itaipu e a ponte Rio-Niterói”.

Extraordinárias fortunas cresceram felizes.

Militares ganharam cargos estratégicos em corporações nacionais e estrangeiras que faziam bons negócios com o Estado. Campos apresenta um quadro com 21 nomes e funções. Golbery do Couto e Silva presidiu a Dow Chemical. Também trabalhou para o Banco Cidade. O general João Baptista Leopoldo Figueiredo esteve no conselho consultivo da Caterpillar. O general Ernesto Geisel presidiu o conselho administrativo da Norquisa. O general Artur Moura esteve a serviço da Mendes Júnior, empreiteira que saiu do nada para tudo durante o regime dos generais. O almirante Fernando Carlos de Mattos foi vice-presidente da Settal Engenharia. O coronel Domingos Ventura Pinto Jr. esteve na folha de pagamento da Construtora Rabello. O filho de Costa e Silva serviu à General Eletric. O general Carlos Luiz Guedes, golpista de primeira hora, presidiu a Catemarq.

Juracy Magalhães presidiu a Ericsson do Brasil. Campos resume: a Odebrecht faturou “dois contratos que alteraram significativamente o seu porte, fazendo seu faturamento triplicar em um ano”.

Beleza!


Juremir Machado

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