quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

EUA reatam com Cuba, vivemos momento histórico


Vai Para Cuba !


Rui Martins

Fim da exclusão de Cuba e logo o fim do embargo contra Cuba

Não há como não sentir uma profunda emoção no momento em que se descortina o fim do embargo americano contra Cuba e se reatam relações diplomáticas rompidas há mais de cinquenta anos, com a normalização entre os dois países.

Tenho aqui ao meu lado o livro do colega jornalista e escritor Fernando Morais, publicado há três anos, Os ùltimos soldados da guerra fria, contando a aventura dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita, em Miami, nos Estados Unidos. Três deles estavam ainda presos e foram trocados nesta quarta-feira por um americano preso em Havana. Fernando Morais tinha também publicado um livro antológio, A Ilha, que ajudou muitos a entenderem Cuba.

Sobre a surpresa do anúncio de hoje, pelos dois presidente, alguma coisa já corria nos bastidores, quando no funeral de Nelson Mandela, o presidente americano Barak Obama cumprimentou efusivamente Raul Castro, o presidente cubano. Revelou-se agora ter havido também importante intervenção juntos aos dois presidentes por parte do Papa Francisco. O Papa tinha evocado a questão em Roma, na visita que lhe fez Obama no ano passado, e recebeu a seguir bispos cubanos e americanos, assim como grupos de universitários dos dois países, numa espécie de preparação do clima para um entendimento mútuo.

Com a normalização das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos acabam os últimos traços da guerra fria, ainda restantes nas Américas. A frase “somos todos americanos” destina-se a se imortalizar, logo depois da abertura em favor dos imigrantes, a grande maioria latinos.

Espera-se agora a aprovação pelo Congresso americano do fim do embargo, disso decorrendo relações normais entre os dois países como instalação em Havana da embaixada americana, viagens permitidas para os cidadãos dos dois países, autorização de remessa de dinheiro para os cubanos, instalação de bancos americanos em Cuba com uso normal de cartas de crédito, com a regularização da importação, exportação e comércio entre Cuba e EUA.

Uma importante modernização deverá ocorrer no setor das telecomunicações cubanas com a autorização de instalação de operadores comerciais de telefonia e de Internet. Atualmente os serviços cubanos de Internet são lentos e apenas uma minoria tem a ela acesso.

Os meios cubanos de direita não estão contentes, pois esperavam utilizar a “ameaça cubana” e o “ódio aos comunistas cubanos” como argumento na próxima campanha eleitoral contra os democratas. Entretanto, a blogueira cubana Yoani Sánchez já deu seu apoio por um twieter enviado aos seus seguidores “Uma era termina e espero que esta nova era que começa seja a do protagonismo da sociedade civil”. Posição contrária tem o senador Marco Rubio, de origem cubana decidido a obter a candidatura republicana para a presidência, segundo ele o Congresso americano fará tudo para impedir a aprovação da nova política americana de Obama junto a Cuba.

Os primeiros comentários europeus dão conta de que os EUA têm sérios inimigos a combater, enquanto a exclusão de Cuba não tinha mais nenhuma razão de ser. O próximo fim do embargo, a ser confirmado pelo Congresso americano, modificará a imagem dos EUA e facilitará o diálogo com os países latinoamericanos com governo de esquerda ou centro-esquerda. O capital simpatia em favor de Cuba tinha-lhe sido favorável, no mundo, depois do envio de médicos cubanos aos países acometidos pelo surto endêmido do virus Ebola.

Quanto ao Brasil, após o fim do embargo contra Cuba, será natural uma reaproximação com o governo democrata americano, depois da irritação causada pelas escutas denunciadas pelo ex-agente da CIA Snowden, que levaram à anulação da viagem oficial da presidenta Dilma aos EUA. A atual crise econômica brasileira, reforçada pelo escândalo da corrupção na maior estatal brasileira envolvendo o partido da situação, mais a decisão do governo de adotar uma política econômica liberal numa tentativa para relançar o crescimento, forçarão nesse sentido, mesmo porque pelo visto não existe outra opção.

Rui Martins, jornalista, escritor, ex-Estadão e CBN, correspondente do Correio do Brasil em Genebra, e editor do Direto da Redação.


Correio do Brasil

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