Não há nada mais estranho numa terra estranha,
do que o estranho que vem visitá-la.
Albert Camus
Turista, 1994. Documentação fotográfica de ação performática de Francis Alÿs. Foto: Enrique Huerta || "No dia 10 de março de 1994, fui ao Zócalo e me coloquei na fila de carpinteiros, encanadores e pintores de parede, oferecendo meus serviços como turista."
Hoje, talvez não exista uma força tão onipresente como o turismo – e isso não se deve apenas ao fato de ser esta uma das atividades mais lucrativas do capitalismo pós-industrial. O turista não é mais uma figura rara, uma aparição extraordinária. Ele faz parte da paisagem urbana, cumpre um papel vital na economia e na cultura de países e cidades. É uma “profissão” –como sugere ironicamente Francis Alÿs na ação ‘Turista’, realizada na Cidade do México.
Ainda assim, a decisão de realizar uma edição em torno da ideia de ‘turismo’ foi desde o início assombrada pela possibilidade de eleger como ponto de partida um conceito mais abrangente, que abarcasse o instinto e a necessidade humanas por se deslocar em busca do desconhecido, da sobrevivência, de riquezas ou diversão – porque ‘turismo’ e não ‘viagem’?
Se a resposta a essa questão não encontra formulação definitiva, ao menos já podemos intuir que está relacionada ao fato do turismo ser uma invenção moderna, e, como tal, um desdobramento de novidades como a imprensa, o trem, a fotografia, o cinema, o automóvel e o avião – meios de transporte e comunicação de massa. Na medida em que os translados globais se tornaram possíveis, cada vez mais projeções sedutoras de lugares longínquos passaram a alcançar nossos olhos. O desejo turístico de deixar para trás a rotina do lar foi, desde sempre, um desejo construído por imagens – a imagem é sua matéria-prima, sua unidade de valor, um de seus elementos constituintes fundamentais, senão o principal.
Como afirmou nos anos 70 Susan Sontag, “viajar tornou-se uma estratégia para o acúmulo de fotografias” [1]. Isso talvez explique a profusão de trabalhos reunidos nessa edição que têm nesta técnica – seja na modalidade fixa ou em movimento – o suporte para sua expressão.
Nossa edição ‘turística’ é também fértil em lugares-comuns, clichês e imagens reincidentes reproduzidas ad infinitum. A estrutura reiterativa, que lembra um curto-circuito, produziu uma edição saturada de pirâmides, estátuas, souvenires e cores. Os trabalhos reunidos apontam para uma outra atitude frente ao lugar-comum – como não se trata mais de negá-lo, abre-se a possibilidade de investigar seu percurso, entender sua lógica, e então intervir. O lugar-comum se torna também ponto de partida.
O humor e a ironia crítica presentes em alguns trabalhos não devem, no entanto, se confundir com uma atitude iconoclasta. Os colaboradores dessa edição não se furtam ao jogo de conectar imagens, brincar com elas, repeti-las, reproduzi-las ou distorcê-las levemente [2]. Tampouco tratam-se de idólatras – eles materializam afinal a consciência de que cada imagem importa, pois nos remete a outra imagem, revelando longas cadeias que abrigam questões visualmente expressas. Talvez em nenhuma outra edição da revista a cascata de imagens que flui das comportas escancaradas da modernidade foi tão evidente.
Os artigos publicados tampouco desejam revelar um mundo ‘verdadeiro’ para além das imagens ou as boas maneiras do viajar que rejeitam a experiência turística. Eles instauram, pelo contrário, íntima consciência da dinâmica texto-imagem, outro dado explícito nessa edição – raras são as imagens que não são acompanhadas de texto, e vice-versa.
A primeira novidade desta edição é o lançamento online do longa-metragem Em busca de um lugar comum, dirigido por Felippe Schultz Mussel (também editor convidado). Participando como um turista de passeios pela Favela da Rocinha, o filme escancara os desejos acionados para construção dessas comunidades como um dos destinos turísticos mais visitados do Rio de Janeiro.
Provocada pelo filme, a pesquisadora Ivana Bentes nos apresenta um artigo inédito onde reflete acerca das estratégias de controle biopolítico daquele turismo que apresenta a pobreza como um ‘museu’ de subjetividades despotencializadas. Se os favela tours criam um devir-índio, exotizando os pobres e tornando-os o ‘Outro’ do capitalismo cognitivo; estes, por sua vez, emergem em um ‘turismo reverso’ avançando sobre a sociedade em ‘rolezinhos’ por shoppings centers ou ocupando cada vez mais vagas nas universidades.
Em Superando o turismo, a verve inconfundível de Hakim Bey investiga as origens do turismo contemporâneo – seria ele resultado da guerra, da peregrinação religiosa ou do comércio mercantil ? O ensaio é ilustrado por imagens da série Souvenir, em que o fotógrafo inglês Michael Hughes oblitera a visão de conhecidos pontos turísticos com souvenires comprados no local.
Debruçando-se sobre o universo dos cartões postais, apresentamos o trabalho da franco-suíça Corinne Vionnet. Sobrepondo centenas de fotografias coletadas na internet, a artista esculpe digitalmente pontos turísticos clássicos sob formas impressionistas, que, como defende Madeline Yale Preston em artigo sobre a artista, sugerem a padronização de pontos de vista e memórias turísticas.
Em Como pintar picos nevados, a artista Laura Andreato faz pilhéria dos tutoriais em vídeo abundantes na internet, criando um dispositivo radicalmente kitsch para produção de pinturas a óleo que, de maneira insuspeita, produz imagens de irresistível apelo minimalista. A artista apresenta ainda os trabalhos Welcome, Califórnia e Flórida.
As imagens da indústria do turismo são o ponto de partida também para a obra The World, de Daniel Escobar, em que o artista, por meio de recortes precisos, parece querer restaurar a terceira dimensão a imagens impressas, criando uma geografia urbana a partir de edições de guias de viagem.
Se lançar de peito nas paisagens. Navegar por uma planície infinita. Buscar novas distâncias no horizonte. São esses os convites de Nena Balthar em Desenho.modo. A partir da ideia de produzir ‘guias para navegação cotidiana’, a artista nos apresenta ainda a série Desenho para Paisagem.
Publicamos também o vídeo ‘Ação e Dispersão’, de Cezar Migliorin. Realizado com recursos de um edital da Petrobrás (à época polêmico por dividir as linhas de produção em ‘digital’ e ‘analógico’, destinando um valor então considerado alto para a primeira), o filme propõe o seguinte dispositivo: “um homem e uma câmera, até o dinheiro acabar, jamais duas noites na mesma cidade”, instaurando um devir turístico autoritário/voluntário, onde as imagens do filme são permanentemente acompanhadas por uma legenda que exibe o valor total do orçamento captado (ele vai sendo subtraído a medida que o dinheiro vai sendo gasto). Ao questionar num mesmo gesto o trabalho do artista e seu financiamento (público!), Cezar cria uma violenta articulação entre tempo, turismo, imagem e dinheiro.
Evocando a herança de Walter Benjamin, o artista e pesquisador Alexandre Sá questiona se os modos de produção e circulação das obras de arte na atualidade não podem ser aproximados da relação que os turistas estabelecem com as cidades.
O geógrafo Thiago Pereira discute o turismo de drogas em Amsterdam a partir de pesquisa de campo realizada nos coffee shops da capital holandesa. Os descaminhos do pesquisador pela cidade sugerem um roteiro turístico e acabam por funcionar como um convite à viagem, lato sensu.
Como Thiago, o sociólogo Jean Paul Sarrazin, apresenta uma nova modalidade de turismo – o turismo místico, garante, é fruto da transnacionalização da espiritualidade indígena.
A também socióloga Bianca Freire-Medeiros retoma o ensaio Casa, rua e outros mundos: o caso do Brasil, de Roberto DaMatta, para pensar as lajes como espaços de intersecção entre público e privado nas favelas cariocas. Segundo a pesquisadora, tratam-se de espaços que promovem o encontro entre o local e o global e, por isso, profícuos ao desenvolvimento do turismo nas comunidades.
A pesquisadora Telê Ancona Lopez revela um Mário de Andrade fotógrafo, capaz de conjugar a perspectiva etnográfica com um viés experimental em plena Amazônia dos anos vinte. As raras imagens sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, a maior parte das quais trazem anotações de próprio punho do escritor no verso, tacitamente confirmam a íntima relação entre texto e imagem, fotografia e turismo.
Por fim, trazemos a entrevista realizada com a artista carioca Claudia Hersz. Claudia encarna uma consciência exemplar sobre a natureza da imagem, suas redes e encadeamentos em cascata. Sua produção quase sempre parte da investigação que identifica a genealogia de imagens caras ao imaginário contemporâneo, inserindo informação nova em cadeias de imagens de indiscutível fertilidade, encarnando, neste movimento, uma racionalidade que exige enorme cautela para se produzir uma nova obra num mundo congestionado de imagens. A consistência de seu trabalho fica patente na entrevista que, como suas peças, é rica em chavões, lugares-comuns e bom humor.
Há algo de familiar no comportamento dos estrangeiros que desembarcam por poucos minutos de um ônibus, câmeras em punho, olhares deslumbrados e fugidios, ávidos por tudo que lhes pareça estranho. O turismo se manifesta para além da logística de excursões ao redor do planeta, e talvez inaugure um novo modo de ser – cuja novidade nem sempre inspira otimismos. Como lembra Hakim Bey pensando a partir do inglês, um ‘hospedeiro’ (host) pode ter hóspedes… ou parasitas. A sugestão de Bey, para quem o turismo “quebra a reciprocidade entre anfitrião e hóspede”, quando observada à luz do novo comportamento termodinâmico da Terra e do papel decisivo do agente humano nessas transformações, parece suscitar a questão – será que não vimos tratando nosso lar como um lugar de visita? Será que não temos nos comportado como turistas em nosso próprio planeta?
Pedro Urano e Felippe Schultz Mussel
Editores
[1] SONTAG, 2004. P.19
[2] LATOUR, 2008. O que é iconoclash? P.141
Referências bibliográficas:
SONTAG, Susan. Sobre a Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
LATOUR, Bruno. O que é iconoclash? in Horizontes Antropológicos, ano 14, n. 29. Porto Alegre: 2008.
Revista Carbono #08 >> Turismo
Hoje, talvez não exista uma força tão onipresente como o turismo – e isso não se deve apenas ao fato de ser esta uma das atividades mais lucrativas do capitalismo pós-industrial. O turista não é mais uma figura rara, uma aparição extraordinária. Ele faz parte da paisagem urbana, cumpre um papel vital na economia e na cultura de países e cidades. É uma “profissão” –como sugere ironicamente Francis Alÿs na ação ‘Turista’, realizada na Cidade do México.
Ainda assim, a decisão de realizar uma edição em torno da ideia de ‘turismo’ foi desde o início assombrada pela possibilidade de eleger como ponto de partida um conceito mais abrangente, que abarcasse o instinto e a necessidade humanas por se deslocar em busca do desconhecido, da sobrevivência, de riquezas ou diversão – porque ‘turismo’ e não ‘viagem’?
Se a resposta a essa questão não encontra formulação definitiva, ao menos já podemos intuir que está relacionada ao fato do turismo ser uma invenção moderna, e, como tal, um desdobramento de novidades como a imprensa, o trem, a fotografia, o cinema, o automóvel e o avião – meios de transporte e comunicação de massa. Na medida em que os translados globais se tornaram possíveis, cada vez mais projeções sedutoras de lugares longínquos passaram a alcançar nossos olhos. O desejo turístico de deixar para trás a rotina do lar foi, desde sempre, um desejo construído por imagens – a imagem é sua matéria-prima, sua unidade de valor, um de seus elementos constituintes fundamentais, senão o principal.
Como afirmou nos anos 70 Susan Sontag, “viajar tornou-se uma estratégia para o acúmulo de fotografias” [1]. Isso talvez explique a profusão de trabalhos reunidos nessa edição que têm nesta técnica – seja na modalidade fixa ou em movimento – o suporte para sua expressão.
Nossa edição ‘turística’ é também fértil em lugares-comuns, clichês e imagens reincidentes reproduzidas ad infinitum. A estrutura reiterativa, que lembra um curto-circuito, produziu uma edição saturada de pirâmides, estátuas, souvenires e cores. Os trabalhos reunidos apontam para uma outra atitude frente ao lugar-comum – como não se trata mais de negá-lo, abre-se a possibilidade de investigar seu percurso, entender sua lógica, e então intervir. O lugar-comum se torna também ponto de partida.
O humor e a ironia crítica presentes em alguns trabalhos não devem, no entanto, se confundir com uma atitude iconoclasta. Os colaboradores dessa edição não se furtam ao jogo de conectar imagens, brincar com elas, repeti-las, reproduzi-las ou distorcê-las levemente [2]. Tampouco tratam-se de idólatras – eles materializam afinal a consciência de que cada imagem importa, pois nos remete a outra imagem, revelando longas cadeias que abrigam questões visualmente expressas. Talvez em nenhuma outra edição da revista a cascata de imagens que flui das comportas escancaradas da modernidade foi tão evidente.
Os artigos publicados tampouco desejam revelar um mundo ‘verdadeiro’ para além das imagens ou as boas maneiras do viajar que rejeitam a experiência turística. Eles instauram, pelo contrário, íntima consciência da dinâmica texto-imagem, outro dado explícito nessa edição – raras são as imagens que não são acompanhadas de texto, e vice-versa.
A primeira novidade desta edição é o lançamento online do longa-metragem Em busca de um lugar comum, dirigido por Felippe Schultz Mussel (também editor convidado). Participando como um turista de passeios pela Favela da Rocinha, o filme escancara os desejos acionados para construção dessas comunidades como um dos destinos turísticos mais visitados do Rio de Janeiro.
Provocada pelo filme, a pesquisadora Ivana Bentes nos apresenta um artigo inédito onde reflete acerca das estratégias de controle biopolítico daquele turismo que apresenta a pobreza como um ‘museu’ de subjetividades despotencializadas. Se os favela tours criam um devir-índio, exotizando os pobres e tornando-os o ‘Outro’ do capitalismo cognitivo; estes, por sua vez, emergem em um ‘turismo reverso’ avançando sobre a sociedade em ‘rolezinhos’ por shoppings centers ou ocupando cada vez mais vagas nas universidades.
Em Superando o turismo, a verve inconfundível de Hakim Bey investiga as origens do turismo contemporâneo – seria ele resultado da guerra, da peregrinação religiosa ou do comércio mercantil ? O ensaio é ilustrado por imagens da série Souvenir, em que o fotógrafo inglês Michael Hughes oblitera a visão de conhecidos pontos turísticos com souvenires comprados no local.
Debruçando-se sobre o universo dos cartões postais, apresentamos o trabalho da franco-suíça Corinne Vionnet. Sobrepondo centenas de fotografias coletadas na internet, a artista esculpe digitalmente pontos turísticos clássicos sob formas impressionistas, que, como defende Madeline Yale Preston em artigo sobre a artista, sugerem a padronização de pontos de vista e memórias turísticas.
Em Como pintar picos nevados, a artista Laura Andreato faz pilhéria dos tutoriais em vídeo abundantes na internet, criando um dispositivo radicalmente kitsch para produção de pinturas a óleo que, de maneira insuspeita, produz imagens de irresistível apelo minimalista. A artista apresenta ainda os trabalhos Welcome, Califórnia e Flórida.
As imagens da indústria do turismo são o ponto de partida também para a obra The World, de Daniel Escobar, em que o artista, por meio de recortes precisos, parece querer restaurar a terceira dimensão a imagens impressas, criando uma geografia urbana a partir de edições de guias de viagem.
Se lançar de peito nas paisagens. Navegar por uma planície infinita. Buscar novas distâncias no horizonte. São esses os convites de Nena Balthar em Desenho.modo. A partir da ideia de produzir ‘guias para navegação cotidiana’, a artista nos apresenta ainda a série Desenho para Paisagem.
Publicamos também o vídeo ‘Ação e Dispersão’, de Cezar Migliorin. Realizado com recursos de um edital da Petrobrás (à época polêmico por dividir as linhas de produção em ‘digital’ e ‘analógico’, destinando um valor então considerado alto para a primeira), o filme propõe o seguinte dispositivo: “um homem e uma câmera, até o dinheiro acabar, jamais duas noites na mesma cidade”, instaurando um devir turístico autoritário/voluntário, onde as imagens do filme são permanentemente acompanhadas por uma legenda que exibe o valor total do orçamento captado (ele vai sendo subtraído a medida que o dinheiro vai sendo gasto). Ao questionar num mesmo gesto o trabalho do artista e seu financiamento (público!), Cezar cria uma violenta articulação entre tempo, turismo, imagem e dinheiro.
Evocando a herança de Walter Benjamin, o artista e pesquisador Alexandre Sá questiona se os modos de produção e circulação das obras de arte na atualidade não podem ser aproximados da relação que os turistas estabelecem com as cidades.
O geógrafo Thiago Pereira discute o turismo de drogas em Amsterdam a partir de pesquisa de campo realizada nos coffee shops da capital holandesa. Os descaminhos do pesquisador pela cidade sugerem um roteiro turístico e acabam por funcionar como um convite à viagem, lato sensu.
Como Thiago, o sociólogo Jean Paul Sarrazin, apresenta uma nova modalidade de turismo – o turismo místico, garante, é fruto da transnacionalização da espiritualidade indígena.
A também socióloga Bianca Freire-Medeiros retoma o ensaio Casa, rua e outros mundos: o caso do Brasil, de Roberto DaMatta, para pensar as lajes como espaços de intersecção entre público e privado nas favelas cariocas. Segundo a pesquisadora, tratam-se de espaços que promovem o encontro entre o local e o global e, por isso, profícuos ao desenvolvimento do turismo nas comunidades.
A pesquisadora Telê Ancona Lopez revela um Mário de Andrade fotógrafo, capaz de conjugar a perspectiva etnográfica com um viés experimental em plena Amazônia dos anos vinte. As raras imagens sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, a maior parte das quais trazem anotações de próprio punho do escritor no verso, tacitamente confirmam a íntima relação entre texto e imagem, fotografia e turismo.
Por fim, trazemos a entrevista realizada com a artista carioca Claudia Hersz. Claudia encarna uma consciência exemplar sobre a natureza da imagem, suas redes e encadeamentos em cascata. Sua produção quase sempre parte da investigação que identifica a genealogia de imagens caras ao imaginário contemporâneo, inserindo informação nova em cadeias de imagens de indiscutível fertilidade, encarnando, neste movimento, uma racionalidade que exige enorme cautela para se produzir uma nova obra num mundo congestionado de imagens. A consistência de seu trabalho fica patente na entrevista que, como suas peças, é rica em chavões, lugares-comuns e bom humor.
Há algo de familiar no comportamento dos estrangeiros que desembarcam por poucos minutos de um ônibus, câmeras em punho, olhares deslumbrados e fugidios, ávidos por tudo que lhes pareça estranho. O turismo se manifesta para além da logística de excursões ao redor do planeta, e talvez inaugure um novo modo de ser – cuja novidade nem sempre inspira otimismos. Como lembra Hakim Bey pensando a partir do inglês, um ‘hospedeiro’ (host) pode ter hóspedes… ou parasitas. A sugestão de Bey, para quem o turismo “quebra a reciprocidade entre anfitrião e hóspede”, quando observada à luz do novo comportamento termodinâmico da Terra e do papel decisivo do agente humano nessas transformações, parece suscitar a questão – será que não vimos tratando nosso lar como um lugar de visita? Será que não temos nos comportado como turistas em nosso próprio planeta?
Pedro Urano e Felippe Schultz Mussel
Editores
[1] SONTAG, 2004. P.19
[2] LATOUR, 2008. O que é iconoclash? P.141
Referências bibliográficas:
SONTAG, Susan. Sobre a Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
LATOUR, Bruno. O que é iconoclash? in Horizontes Antropológicos, ano 14, n. 29. Porto Alegre: 2008.
Revista Carbono #08 >> Turismo
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