segunda-feira, 17 de junho de 2013

Lulistas e dilmistas duelam por 2014



Lula e Dilma em evento pelos 10 anos do PT em Curitiba na semana passada: fomentadores de desavença vão do movimento sindical ao meio empresarial

Um encontro recente reuniu sindicalistas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Reclamavam do estilo da presidente Dilma Rousseff. Um deles sugeriu o retorno de Lula, que lhe respondeu com um palavrão. Foi quando Paulo Okamotto, braço-direito do petista, entrou na sala. Lula lhe disse: "Esses f... d... p... estão querendo que eu volte". Okamotto respondeu: "Não seria uma má ideia, presidente". Lula, então, revidou com outro palavrão: "Ah, vá.... você também".

A postura de cada um nesse episódio é um bom retrato de como anda o ambiente no PT sobre o movimento "Volta Lula". Há petistas que sonham; sindicalistas que pressionam; e o próprio, que diz que não quer. A dúvida é se sua rejeição suportaria o risco de entregar o projeto de poder petista a outro grupo político antecipadamente, se essa ameaça for mais latente em meados de 2014. Como essa resposta hoje inexiste, a especulação permanece e aumenta, alimentada por incertezas na economia e queixas na base aliada, PT inclusive.

Para falar sobre o assunto com petistas é preciso primeiro romper uma barreira similar à existente quando abordados sobre o mensalão. A diferença é que, neste caso, eles querem falar. A partir daí, há dois grupos. Os que querem evitar que o assunto vá adiante, por receio de contaminar o partido, depois a base aliada, virar movimento político e tornar a ideia irreversível. E os que querem que ocorra exatamente tudo isso aí.

Esses compõem a maioria dos que o Valor conversou nas últimas duas semanas e têm ou já tiveram postos de destaque. Declaram coisas do tipo: "com Dilma não dá mais", "é um governo muito só", "de pouco diálogo", "ela não tem vínculo com ninguém no PT", "ela só se sustenta na sua popularidade", "tem muita gente insatisfeita com o método e com o conteúdo", "que acha que o modelo econômico adotado passou a concentrar renda, pois retira da sociedade e concentra em poucos setores da economia" e "o que dá segurança a ela é o PT e Lula".

Apontam que a solidão de Dilma no PT é bem medida pela condição em que se encontram os homens-forte de sua campanha. Dois estão longe dela. José Eduardo Dutra exerce um cargo apagado na Petrobras e Antonio Palocci continua a ser o elo do mercado com Lula, a quem entrega os relatos constantes de insatisfação do setor produtivo e financeiro com o governo Dilma -quando o próprio Lula não ouve essas críticas diretamente. O que sobrou, José Eduardo Cardozo, é um ministro da Justiça que desempenha mais funções burocráticas do que políticas.

Os relatos, porém, dão conta de que não se trata de um movimento interno organizado ligado a alguma corrente ou a algum Estado, embora revelem que ele seja mais perceptível no meio sindical, em especial na Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ou ainda em movimentos sociais, como a União Nacional por Moradia Popular e o Movimento Sem Terra. Todos que aderem a esta tese só aguardam uma faísca, um sinal, ou uma declaração pública de alguém que a defenda para que ela se espalhe e ganhe força.

Há a sensação ainda de que esse debate reservado tem reflexos nas discussões das eleições internas da legenda em novembro ou na montagem dos palanques estaduais. Por exemplo, em São Paulo, Dilma tem preferência pela candidatura de seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Os lulistas preferem Alexandre Padilha, da Saúde.

Na Bahia, o Palácio do Planalto patrocina as conversas para ceder a vaga ao vice, Otto Alencar (PSD). O próprio Lula apostava no ex-presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli. Na disputa pelo diretório petista de Minas houve um racha. Os ex-ministros de Lula Luiz Dulci e Patrus Ananias apoiam Gleide Andrade, secretária estadual de finanças do PT-MG. Já o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, apoia o deputado federal Odair Cunha, vice-líder do governo no Congresso.

Por outro lado, os petistas que tentam conter o falatório em geral exercem ou já exerceram cargos de direção no partido e se preocupam com os efeitos negativos que dele podem decorrer.

"Uma coisa é muita gente achar que a Dilma tem que aprender com o Lula, outra é que trocar uma presidente bem avaliada por outro, é suicídio", "passaria a mensagem que ela não deu certo", "eles (Lula e Dilma) já decidiram isso", "não podemos permitir surgir qualquer fato que ajude a oposição", "é atirar para dentro do quartel" e "tem que ter cuidado para essas conversas de corredor não virarem clima político".

Esse grupo parte do princípio de que Lula já enterrou esse assunto e que retomá-lo, mais do que prejudicial, é contraproducente e sem resultado prático. Garantem que as eleições internas passarão longe deste tema e estarão muito mais centradas em discutir a relação do PT com o governo do que em substituir a presidente da condição de candidata à reeleição. "Será o momento e o espaço de expressar, de discutir a relação do partido com o governo. Hoje o diálogo está muito ruim, o partido não consegue expressar o conjunto de sua diversidade", disse um petista que acompanha de perto o chamado Processo de Eleições Diretas (PED).

Por ora, é ineficaz a aposta em uma divisão do PT entre os que preferem Lula e os que preferem Dilma em 2014. O partido se protege quando ameaçado, ainda que sob a aparência de uma forte união. Basta ver as votações recentes da bancada do PT na Câmara dos Deputados. Muitas delas com 100% de adesão, em um momento em que a relação com o PMDB, o maior aliado, se deteriora. No entanto, uma conversa com qualquer petista é suficiente para ver que o ambiente interno é cercado de dúvidas.

Valor Econômico

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