domingo, 30 de junho de 2013

Direita e esquerda contra Dilma



Juremir Machado


Tudo está em disputa.

As contestações começaram pela esquerda. Os primeiros ataques vieram pelo flanco esquerdo ao PT. Em Porto Alegre, anarquistas, PSOL e PSTU abriram fogo. Com razão.

Aos poucos, pelo Brasil, a direita entrou em campo na luta para transformar as manifestações em combate ao governo Dilma pelo que ele tem de pior – as alianças espúrias e os arranjos com a velha forma de fazer política – e, principalmente, pelo que ele tem de melhor, as políticas sociais.

O combate à corrupção é, como se diz, uma faca de dois gumes.

No primeiro gume, ético, investe corretamente contra o desvio do dinheiro público.

No segundo gume, ideológico, tenta fazer crer que nunca existiu tanta corrupção como hoje. É uma manobra estratégica para colar um rótulo no PT e desqualificar os dez anos de governos de Lula e Dilma voltados para o social. A direita, que está cada vez mais barulhenta, preocupa-se menos com a corrupção do que com a possibilidade de liquidar Dilma e o PT para, quem sabe, recuperar os seus privilégios e decretar o fim do Bolsa-Família, das cotas, do ProUni, do Minha Casa Minha Vida, etc.

Tem reacionário babando de raiva desses dez anos de petismo voltado, apesar de tudo, para o social e tem reacionário vibrando com a possibilidade de transformar as manifestações em luta partidária.

É preciso desiludir esses conservadores: a galera na rua está se lixando para tucanos, demos, pepistas e outros da mesma estirpe. Ela quer muito mais. Nada de retorno ao passado. Salto para o futuro.

As bandeiras contra os impostos e por mais segurança não deixam de ser justas, mas revelam o viés de quem não está interessado em tornar o país menos desigual. Na entrada da direita em cena há muito de 50 anos atrás, o velho ódio a qualquer governo de centro esquerda, a velha fúria contra a perda de privilégios históricos disfarçada de apreço pela moralidade extrema e por um passado inexistente.

Os lacerdinhas saíram da toca.

As manifestações, pelo jeito, podem decepcioná-los.

Elas são também contra eles.

Em termos de corrupção nada há de novo no front: é só a velha roubalheira de todos os governos, de todos os tempos, de todos os partidos, de todos os períodos históricos, o que, quem estuda a história do Brasil, sabe de cor e salteado. Mas, quando a direita está na oposição, sendo ela controladora da mídia e não tendo outro ângulo de ataque, isso se torna cavalo de batalha para desconstruir governos de centro-esquerda. Foi assim com Getúlio Vargas, em 1954, e com Jango, em 1964.

Em resumo, a direita está tentando usar as manifestações para se livrar do petismo pelo que o petismo tem de ruim – a adaptação aos métodos da direita – e de bom, a política social.

Deve-se, portanto, condenar as manifestações por terem caído nas mãos da direita?

Não.

Por que não?

Porque a direita não está entendendo nada.

As manifestações são contra as maracutaias dos que estão no poder e contra o sistema inventado e alimentado por ela, direita, ao longo dos tempos, o sistema de dominação econômica, política e midiática. O resto é ódio pingando pelo queixo dos que vivem bem quando o Brasil vai pior.

Tanto a direita está fazendo jogo de cena que se já se posicionou contra a consulta popular.

Ela não quer que a população tome as rédeas do Brasil.

Só quer desestabilizar o governo Dilma em proveito próprio.

Teme que o povo, consultado, acabe com todos os seus privilégios.

A tática pode, no entanto, funcionar.

Para evitar que isso aconteça, povo neles.

Consulta popular já!

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