segunda-feira, 17 de junho de 2013

A Vida e a Liberdade de Expressão: patrimônios maiores




Luciana Burlamaqui

Nossos maiores patrimônios são a vida e a liberdade de expressão

São Paulo não é a avenida Paulista. Diariamente, milhões de paulistanos vivem uma verdadeira guerra na locomoção pública da casa ao trabalho e vice-versa. Só por essa situação caótica, injusta e vergonhosa, os protestos recentes na cidade mereciam ser respeitados pelas autoridades do governo.

Não é a toa que falamos que São Paulo é uma Selva de Pedras. Diariamente, milhões de paulistanos vivem uma verdadeira guerra na locomoção pública da casa ao trabalho e vice-versa. Só por essa situação caótica, injusta e vergonhosa, os protestos recentes na cidade mereciam ser respeitados pelas autoridades do governo.

A população foi roubada por anos e anos, com seus impostos sendo desviados e não empregados a seu favor. Os governantes, por tradição, em sua maioria, são da elite e insensíveis àqueles que usam o transporte público como meio de sobrevivência.

As ações truculentas da Polícia Militar a mando do governador Geraldo Alckmin deveriam ser suficientes para um pedido de impeachment.

É insuportável ouvir repetidamente das autoridades a mesma frase: “se houve abuso, ele será apurado.” Por favor, excluam a palavra : ”se”. Todos nós vimos os abusos, seja ao vivo pelas emissoras de TV, pelos jornalistas ferozmente feridos ou não, pela mídia livre e pelo cidadão comum que gravou com seu celular ou câmeras pequenas.

Como disse a editora Márcia Cunha que trabalha com o repórter Luiz Azenha na Rede Record: “São Paulo virou um grande Carandiru no dia do seu massacre. “

O mínimo que se espera do prefeito de São Paulo Fernando Haddad, é assumir que houve sim uma enorme truculência por parte da PM e, que a partir de agora, a Polícia Militar perca, em definitivo, suas atribuições em patrulhar a cidade, e esta responsabilidade seja transferida para a Guarda Civil Metropolitana.

E que o Brasil, como um todo, aproveite este momento para discutir seriamente o fim da Instituição da Polícia Militar em nosso país. A ditadura acabou! Afinal qual o sentido em fazermos a Comissão da Verdade do ”passado” se a mesma violência está sendo reproduzida no ”presente” contra aqueles que lutam pelos seus direitos!

A ação violenta da Polícia que assistimos ao vivo esta semana é a mesma usada contra a população da periferia pobre de São Paulo que sofre este abuso fascista diariamente!

Dados da própria Segurança Pública do Estado de São Paulo revelam que em 2012: 600 homicídios foram cometidos pela polícia, sem contar os casos não contabilizados. Em média, a PM de São Paulo mata uma pessoa a cada 16 horas, segundo relatório da Anistia Internacional. De 2001 a 2011 foram quase 7 mil assassinatos. O Conselho de Direitos Humanos da ONU já recomendou o fim da Polícia Militar no Brasil.

A população merece respeito, paz. Para transformarmos São Paulo em uma cidade mais humana e mais ”verde” ela precisa ser mais justa. Não dá para falar em sustentabilidade (o conceito mais usado nos dias de hoje) sem incluir: JUSTIÇA SOCIAL.

A defesa pelo ”ir e vir” tantas vezes citada pelos governantes como desculpa para justificar a ação surtada da PM em impedir que os manifestantes subissem em direção à Avenida Paulista é insignificante perto do “ir e vir” diário de toda a população que gasta horas espremida em lotações, ônibus e vagões do metrô de péssima qualidade. É este ”ir e vir” que precisa ser tratado com mais dignidade e total prioridade!

Diante dessa realidade, deixar a Paulista livre é um mero detalhe, mesmo que a avenida seja rodeada por dezenas de hospitais. Todos hospitais de elite, em sua maioria, diga-se de passagem. Pois na periferia faltam hospitais e as pessoas morrem muito mais por essa carência e pelo péssimo atendimento.

São Paulo não é a avenida Paulista. A avenida é sim, o maior centro financeiro da cidade, com sua grande concentração de bancos, consulados e hotéis 5 estrelas. Chega de hipocrisia então, não é? Vamos colocar foco nos problemas reais que tiram da maioria das pessoas sua mínima dignidade.

Sou 100% contra a violência, mas totalmente a favor de toda e qualquer revolução para o bem da maioria. Uma revolução pacífica, mas uma revolução. Certa vez, entrevistei um grande economista e sociólogo brasileiro quando fazia um programa para uma TV estrangeira sobre a desigualdade social no Brasil. Todo ano esta TV me pedia um documentário com o mesmo tema. Queixei-me com o entrevistado sobre este sentimento de impotência ao ver o Brasil com problemas sociais recorrentes, ano após ano. Foi quando ele, então, me disse seriamente, que um dos motivos pelos quais a desigualdade social em nosso país permanecia era porque aqui ainda não havia acontecido uma verdadeira revolução! Talvez tenha chegado a hora!
Uma revolução para preservar nossos maiores patrimônios: a vida e a liberdade de expressão.

Se para preservá-los for necessário parar a Avenida Paulista todos os dias: que assim seja!

E os incomodados que aprendam a aceitar as diferenças.

Aliás, governador Alckmin: o senhor mandou implodir o Carandiru para tirar o foco de atenção dos problemas prisionais, pois quando as rebeliões aconteciam ali, a imprensa se reunia em peso para dar voz aos presos! E agora, o senhor vai mandar implodir a avenida Paulista para impedir que a população a use como cenário para chamar a atenção das injustiças sociais cometidas há décadas pelos governantes? Óbvio que não, não é? O senhor optou por repetir os atos do ex-governador Luis Antonio Fleury Filho que validou a violência e o massacre do Carandiru em 1992, só que desta vez incentivando a polícia a agredir a população nas ruas, que agora está sendo alcunhada de: “os baderneiros”!

Desculpe-me, mas a verdadeira baderna começa nos gabinetes da maioria dos políticos brasileiros e nas finanças públicas desses governantes!

Que a transparência do uso do dinheiro público chegue à população em definitivo e ela possa decidir de forma democrática e participativa sobre o destino destes impostos. Não há mais espaço para calar a nova juventude conectada “on e off facebook” do Brasil e do mundo!

O mundo mudou: um viva a sociedade e a mídia livre!!!

Pelo fim da militarização das Polícias Brasileiras!

Carta Maior

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