O exemplo de Santa Rita
Rubens Nóbrega
Se serve de consolo ao afastado prefeito Reginaldo Pereira, de Santa Rita, ele não é nem deverá ser o único governante a se dar mal por subestimar e menosprezar, além dos eleitores, o Legislativo que o povo elegeu junto. A história está cheia de parlamentos que conspiraram para derrubar ou ajudaram a mandar embora pra casa ou lugar pior quem acha que pode tudo após conquistar o direito de governar seus concidadãos.
De Júlio César a Fernando Collor, há muitos casos que deveriam ensinar a lição mais dura a quem, uma vez investido de poder, sente-se o dono do mundo; consequentemente, do tempo e da razão. Da mesma forma, há muitos prefeitos, governadores, presidentes e ditadores de variados naipes e graus mundo afora que não aprendem, não se emendam. Reginaldo Pereira é um clássico desse roteiro manjado, embora não seja o pioneiro entre nós.
Tanto é assim que se a competência de advogado de Johnson Abrantes não lhe restituir o cargo na Justiça, Reginaldo tende a reeditar em pleno terceiro milênio, talvez protagonizando uma versão bem piorada, a saga do ex-prefeito João Franco em Itaporanga. Tal e qual aconteceu a seu colega sertanejo nos oitenta do século passado, o agora combalido alcaide de Santa Rita também passou de 30 a 40 anos tentando chegar à Prefeitura e, quando chegou, não conseguiu ir além de meio mandato.
E é porque o homem assumiu sob as melhores expectativas de que faria diferente de todos os antecessores. Afinal, presumia-se que as derrotas acumuladas e o papel de oposicionista tarimbado teriam aberto a cabeça e novos caminhos para Reginaldo, caminhos diametralmente opostos àqueles traçados por quem, de tanto persistir, acabou derrotando. Qual o quê...
Nepotista assumido
Depois de recrutar alguns dos melhores quadros de gestão pública da Paraíba para o seu primeiro escalão (casos do Professor Neroaldo Pontes na Educação e do Sanitarista José Maria de França na Saúde), na mesma pisada Reginaldo loteou os demais cargos de relevo do secretariado com familiares e parentes mais próximos, incluindo mulher, cunhada, genro e outros 15 ou 16 viventes com DNA 100% Pereira.
Evidente que os ex-secretários de Educação e da Saúde do Estado não aguentariam o jeito de ser e administrar (?) de Reginaldo. Pegaram o boné, descendo, ligeirinho, acompanhando os não parentes que se mandaram tão logo sentiram o drama, a começar pelo tremendo desgaste provocado junto à população por conta do assombroso e assumido nepotismo do prefeito.
Morador da Capital
A distribuição dos contracheques mais gordos da edilidade com o pessoal de casa já seria suficiente para causar repulsa nos governados, mas, como se fosse pouco, o prefeito eleito de Santa Rita também se mostrou muito pouco afeito ao batente na Prefeitura. Pra vocês terem uma ideia, contaram-me ontem que quando lhe botavam na frente uma pilha de papel para assinar, por acúmulo na espera de uma decisão ou de um jamegão, Reginaldo ficava apoplético. Nessas horas, ‘soltava os cachorros’ e gritava com seus auxiliares mais chegados: “Como é que pode, o governador não assina um papel e eu aqui, com essa montanha pra dar conta?”. Como se não bastasse, o homem parecia ter perdido todo e qualquer apreço pela cidade e sua gente. Além de manter residência na Capital, seu local de trabalho preferido seria um escritório na Epitácio, a principal avenida de João Pessoa.
Arestas e atritos
Não parou por aí o estresse. Reginaldo Pereira começou a brigar com quem não deveria – de governador a servidor concursado que teimava em não nomear, de vereador a Promotora de Justiça, como aquela a quem se reportou em privado com palavras de baixo calão gravadas sem ele saber. A gravação foi parar na Internet, ou seja, a boca do povo.
Acumulando tantas arestas e provocando tantos atritos, o destino do prefeito não poderia ser outro: ontem, por dezesseis a zero, a Câmara Municipal de Santa Rita decidiu afastar o prefeito do cargo pelos próximos 90 dias. Durante esse período, deverá responder a processo administrativo por diversas pretensas irregularidades que formam um conjunto da obra perfeito para uma quase irreversível punição política.
Claro que existe a possibilidade de Reginaldo voltar à Prefeitura por força de ordem judicial. Mas, pelo desenho e ânimo na Câmara, corre o risco de passar o resto do mandato atrás de liminares, sustentando-se em liminares, tantos seriam os desmandos que os vereadores teriam como comprovar para cassar o prefeito em definitivo.
Exemplo a seguir
Independentemente dos desdobramentos das emoções de ontem em Santa Rita, espera-se que o episódio sirva de exemplo para outros dirigentes em situação semelhante à do afastado, que fizeram e fazem por onde o povo desejar vê-los pelas costas. Espera-se ainda que o vice-prefeito que ascendeu à titularidade do posto, Netinho de Várzea Nova, não permita que lhe suba a cabeça a excepcional oportunidade que cavou e não caia do cavalo que o destino lhe selou. Espera-se, enfim, que o exemplo dado pelos vereadores de Santa Rita possa ser copiado e replicado em outros plenários, em outras câmaras, quem sabe até em determinada Assembleia.
Jornal da Paraíba
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