Qual é papel que restou para o intelectual nos dias de hoje?
Stuart Hall. Creio que ser intelectual hoje é dizer a verdade para o poder. É pensar as consequências do poder, aquilo que o poder não quer tratar, o que compõe o inconsciente do poder. Estes são os intelectuais críticos. Existem também os intelectuais tradicionais, como Gramsci os chamava. Os verdadeiros intelectuais ou são alinhados com o poder, tentam abrir seu caminho no mundo, ou têm uma relação crítica com o poder e precisam testar o poder, interrogá-lo e, sobretudo, expor as consequências despropositais ou inconscientes do poder.
Como se poderia hoje articular experiência e conhecimento?
Stuart Hall. Não acredito de forma alguma na objetividade do conhecimento. Mas também não acredito que o conhecimento é simplesmente partidário. Não acredito também que o objetivo do conhecimento seja a vitória do “nosso lado”. Os intelectuais críticos têm que ser melhores intelectuais do que os intelectuais tradicionais. Os tradicionais podem se ligar às instituições estabelecidas, às Universidades, ao Estado, à imprensa, às revistas acadêmicas, aos valores estéticos estabelecidos etc. Os intelectuais críticos têm que saber mais, têm que ser mais competentes, seu trabalho tem que resistir melhor a questionamentos. O que significa que têm que testar seu saber, seus argumentos, sua própria posição, para enfrentar as críticas que fatalmente virão e que podem destruir a eficácia de seu trabalho. O trabalho intelectual para enfrentar os novos tempos tem que ser crítico, resistente, de qualidade e produzir conhecimento novo.
Entrevista feita por Heloisa Buarque de Hollanda (UFRJ ) e Liv Sovik ( UFRJ)
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