quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Paixões e ideologias no caso dos médicos


Juremir Machado 

Os melhores temas são aqueles que dividem. Dividem quem deles trata. Eu dou razão aos médicos brasileiros. E dou razão ao governo brasileiro na importação de médicos. Inclusive cubanos. 
Os médicos brasileiros estão certos: falta infraestrutura. As condições de trabalho são inadequadas. O governo brasileiro está certo: se os médicos brasileiros não querem ir para Tabajara, é preciso importar quem queira ir realizar um trabalho básico, medicina preventiva. Os médicos brasileiros têm razão: se juiz ganha mais de R$ 20 mil, por que médico aceitaria menos?

E os professores?

Imagino que todos os médicos sejam favoráveis a uma greve de professores por tempo indeterminado por salários muito melhores. Por que um professor deveria aceitar menos de R$ 10 mil?

Ou o justo seria também R$ 20 mil?

Eu acho errado o governo pagar para o governo cubano e não para os médicos cubanos.

Mas e se os médicos cubanos estiverem satisfeitos?

O Brasil financia a construção do porto de Mariel, em Cuba.

A Odebrecht o constrói.

Com dinheiro do BNDES.

Os empresários que ganham com isso não reclamam.

As empreiteiras financiam campanhas de todos os partidos.

O Brasil quer ajudar Cuba.

Mas os médicos são bons?

E as cidades que os receberão terão benefícios com isso?

Sou pura dúvida.

Fizemos uma entrevista com o Dr. Paulo Argolo, presidente do Sindicato Médico do RS.

Ele é contra a vinda dos médicos cubanos.

Informa que o piso salarial dos médicos é de R$ 20 mil.

Não é muito para um médico em começo de carreira?

Não é muito para um iniciante em medicina básica?

Está de acordo com a realidade do Brasil?

Eu dou razão aos médicos brasileiros: é preciso pedir o melhor.

Há médicos que pedem uma carreira estatal.

Isso não é meio cubano?

Seria uma carreira estatal pouco cubana: salário bom, emprego vitalício.

Eu só tenho dúvida: R$ 10 mil por mês para um médico formado com dinheiro público começar a carreira não é um baita negócio? Não é uma missão? Não é bonito? Não é moral?

Como pode Cuba ter uma alta expectativa de vida e uma taxa de mortalidade infantil mínima se sob os seus médicos pesa tamanha desconfiança? Será tudo truque de estatística?

Eles estão no Brasil para fazer medicina de família, o básico.

Será que não dão nem para isso?

Ou será que isso faz dos que serão tratados por eles cidadãos de segunda categoria?

Eu tenho dúvidas.

Conheço médicos que também as tem.

E conheço médicos com excelentes argumentos de um lado ou de outro.

Há quem só fique no debate ideológico, a rejeição à Cuba.

Afinal, o Brasil encontrou um jeito de fazer o que queria: dar uma força aos amigos cubanos.

Há quem só fique no corporativo em nome da reserva de mercado.

Os médicos sérios estão operando um exame minucioso da situação.

Por que os estrangeiros não são submetidos ao Revalida?

Não é a primeira vez que isso acontece. Em 1999, no governo FHC, cubanos também foram importados sem revalidação. Até a Inglaterra faz isso com estrangeiros. É um maus exemplo inglês?

Por que os brasileiros formados no Brasil também não são submetidos a um Revalida, uma prova dos nove dos conhecimento acadêmico, um exame de ordem como acontece com os advogados?

Ou não deveria existir o exame da ordem dos advogados? Todos ou ninguém?

Quando os médicos brasileiros atacam o programa Mais Médico com certos argumentos eu me convenço e os aplaudo. Quando os defensores do Mais Médico argumentam em também me convenço e os aplaudo. Sem paixões nem ideologias – como deformação dos fatos – há mais dúvidas.

Entrevista com Paulo Argolo:

Médicos Estrangeiros no Brasil:

Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=EqfpmylS9Gs&feature=c4-overview&list=UUjR1b9k-_VLzi0zkcw4EdMw

Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=b2glHXhkSb8&feature=c4-overview&list=UUjR1b9k-_VLzi0zkcw4EdMw


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