segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A sociedade dos objetos e da mídia


Bruno Torturra, do Mídia Ninja, declarou numa entrevista algo chocante: “Não ficamos tão escandalizados vendo um jovem sofrer uma injustiça quanto ao vê-lo quebrar a vidraça de um banco”. 

Ele tem razão.Nunca a propriedade foi tão sagrada. Nunca os objetos foram tão amados. Aceitamos pagar muito por eles, mas já não queremos pagar por bens simbólicos. Achamos insuportável ver uma vidraça do Mc Donald’s quebrada por um indignado, mas dormimos tranquilos depois de ver a cada dia de inverno pessoas vivendo em barracos fincados em zonas alagadas. Aceitamos a miséria dos outros com um dado normal e banal da vida.

Certamente que um extremista ideológico de direita gritará: comunista!

Conversa fiada.

Trata-se de melhor o capitalismo mesmo.

Os indignados têm mostrado, paradoxalmente, que não aceitam mais a religião dos objetos, a indiferença dos proprietários, as manipulações da mídia associada ao poder econômico e a velha estratégia do empurrar com a barriga: esforce-se que o futuro será melhor.

Os indignados querem distribuir melhor os recursos do grande condomínio que é o mundo.

Querem que o condomínio mundo seja gerido em favor dos interesses da comunidade e não do lucro de alguns. No Rio de Janeiro, os indignados não querem financiar o casamento milionário da Baratinha, herdeira do rei do ônibus, ao custo de aumentos de tarifas.

Os indignados cansaram de transferir renda dos mais pobres para os mais ricos.

São “ingênuos” que querem limitar o direito ao lucro e organizar o mundo a partir de uma nova ética. Chocam-me menos com depredações de símbolos do capitalismo que com as devastações produzidas silenciosamente por essas organizações. Espantam-se que poucos se choquem com os altos lucros dos bancos e com os baixos salários pagos pelos banqueiros aos seus bancários.

É outra lógica.

Chocam-se mais com todas as vidas quebradas todos os dias por falta de oportunidades.

Chocam-se mais com o discurso da mídia em favor da resignação.

Chocam-se mais com a falta de espanto diante da injustiça cotidiana.

Por que uma estrada deve dar lucro a alguém se pode ser administrada pela comunidade?

Por que os transportes devem ter lucro a alguém se podem ser administrados para a comunidade?

O argumento liberal de que devem dar lucro para que funcionem melhor é uma enganação.

Funcionam mal por outros meios.

A discussão é longa. A ideia aqui é bem mais simples: demonstrar o quanto é chocante a adoração dos objetos, a matéria acima da vida, o dinheiro acima da dignidade, a recomendação permanente:

– Resignem-se, aceitem, obedeçam, submetam-se.

Juremir Machado

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