quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Ensino superior privado: De cemitério a berçário de sonhos


Jandira Feghali

“O campus parece um cemitério”, suspira o estudante de medicina Rafael Collado, em singular ponto de vista, ao mirar o pátio vazio da universidade Gama Filho, na Zona Norte do Rio. Desde a ocupação feita por ele e outros 100 estudantes no prédio da reitoria, um cenário desolador da educação superior privada fluminense expõe-se à luz do dia. A crise na instituição, que se assemelha a vivida pela UniverCidade, na Zona Sul, é a mostra de que o futuro é mais incerto do que se imaginava para mais de 30 mil estudantes.

Os motivos são muitos para essa nuvem cinzenta: paralisia por falta de pagamento de salários e atrasados a professores e funcionários, além de péssima estrutura e insegurança no campus. Para piorar, não existe interlocução com estudantes e centros acadêmicos. Os estudantes deixaram suas casas para enfrentar o desconhecido de um acampamento improvisado, com a tentativa de chamar a atenção para o caos que a mantenedora Galileo Educacional traz às duas tradicionais universidades do Rio.

O que choca esses jovens, seus familiares e toda a sociedade civil é a quantidade de recursos públicos que a mantenedora vem recebendo do Ministério da Educação dentro de sólidas propostas de financiamento estudantil, como o Fies e o Programa Universidade para Todos (PROUNI). Mesmo com o caixa recheado pelos convênios e pelas mensalidades pagas pelas famílias, a Galileo tem mantido seu excelente corpo docente e administrativo seriamente endividados. É uma tríplice violação às leis trabalhistas, à eficiência da gestão e às normas da Lei de Diretrizes Básicas da Educação (LDB). É caso de polícia.

O freio, talvez, venha com os passos do Ministério da Educação que, em reunião intermedida por nossa Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados retomou a comissão paritária de estudantes e professores, funcionários e mantenedora. O contra-ataque do Governo virá com prazos e Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com a universidade. A proposta dos estudantes é que o TAC reconduza os acertos feitos entre a mantenedora, professores e funcionários no início do ano. Caso contrário, o desligamento da mantenedora será inevitável.

Paralelamente a este cenário, há caminhos a serem traçados pelos legislativos fluminense e nacional. É o caso da votação na Alerj do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as universidades privadas, que indiciou cinco reitores, assim como a instalação de outra similar na Câmara dos Deputados, abrangendo todo território brasileiro. Dados do MEC no último ano mostram que 266 entidades foram desvinculadas do PROUNI por não comprovarem regularidade fiscal. Grave.

Rafael não pode desanimar. Aliás, nenhum estudante pode. Os campi fluminenses privados precisam revigorar o fomentar de ideias do dia-a-dia e cumprir a função de instituições de Ensino Superior como construtoras de futuros profissionais do progresso econômico, científico e social do Brasil. As universidades devem ser fóruns da boa educação e não de negócios. O cemitério percebido por Rafael precisa virar aquilo que toda universidade é: um berçário de sonhos.

Jornal do Brasil 

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