quarta-feira, 21 de agosto de 2013

As dúvidas custam caro


por Delfim Netto*

As colheitas cresceram substancialmente em todas as regiões, registrando um volume 12% superior ao da produção nacional do ano anterior.

Uma parcela do pessimismo dominante tem relação direta com as incertezas exageradas que desde junho abalaram o ânimo de empresários e trabalhadores.

Se empresários e trabalhadores se deixarem dominar por dúvidas sobre o futuro da economia e a estabilidade do emprego, ou quanto à natureza das políticas monetária e fiscal, e ainda desconfiarem do ativismo regulatório que implicitamente desrespeita contratos e da própria solidez das instituições, a tendência é o crescimento econômico murchar.

Boa parcela dessas dúvidas alimentou o pessimismo dominante nos primeiros meses de 2013, com empresários adiando investimentos e trabalhadores reduzindo o consumo, como uma forma de seguro quanto aos riscos do desemprego ou da inadimplência. No fim do semestre, a incerteza cresceu diante das manifestações da “voz das ruas”, que produziram reações esquizofrênicas nos poderes Executivo e Legislativo.

Um balanço mesmo preliminar do comportamento da economia no semestre mostra, contudo, que o pessimismo dominante não encontra correspondência nos dados da conjuntura. Basta ver os resultados da produção e das exportações do agronegócio brasileiro, que mantiveram crescimento significativo em relação ao semestre análogo anterior. O valor bruto consolidado dos 20 principais cultivos do País, conforme levantamento do Ministério da Agricultura divulgado na terceira semana de julho, foi revisado para 272,1 bilhões de reais, um aumento de 9,5% em comparação ao resultado de 2012 e um recorde histórico.

As colheitas cresceram substancialmente em todas as regiões, registrando um volume 12% superior ao da produção nacional do ano anterior. A maior oferta garantiu maiores exportações: entre janeiro e julho, elas cresceram 9,5% em valor e atingiram 58,8 bilhões de dólares, superando em 5,7 bilhões de dólares os resultados do mesmo período de 2012.

A indústria de transformação, que tem se comportado como o “patinho feio” da economia, reagiu nos primeiros seis meses do ano, terminando junho com um nível de capacidade média instalada de 82,16%, alta de 0,8% em relação a igual período de 2012, o que aponta para a possibilidade de aumento dos investimentos.

Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), dos 21 segmentos industriais pesquisados, em 13 a taxa de ocupação aumentou, com o maior avanço (5%) registrado na indústria do vestuário. Outro resultado positivo do levantamento foi a elevação do faturamento real no semestre, de 5,3% em relação aos seis primeiros meses do ano passado.

Resultados excelentes como esses foram na sua maioria ignorados durante o período de confusão midiática concentrada na cobertura dos protestos das ruas, tendo ampliado o desânimo das pessoas no fim do semestre. Algumas coisas interessantes aconteceram, entretanto, neste início de agosto, revelando o quanto esse pessimismo é exagerado.

No campo político, assistimos à redução de dois estresses institucionais, o que deve diminuir a angústia depressiva que se apropriou da sociedade. Primeiro, a presidenta tomou a iniciativa do diálogo e diminuiu a tensão entre o Executivo e o Legislativo com potencial de se tornar um cabo de guerra na apreciação de cada projeto e de seus vetos. Segundo, o Supremo Tribunal Federal reconheceu que pode, eventualmente, condenar membros do Legislativo, mas que a cassação do mandato obtido na urna deve ser feita pelo Congresso. Dois movimentos no sentido do mútuo respeito à independência harmônica dos poderes da República e, portanto, no sentido da consolidação institucional.

No campo econômico, têm havido mudanças no comportamento do governo em relação à cooptação do setor privado para competir nas obras de infraestrutura, cuja eficácia será testada nos próximos leilões de concessões de rodovias, ferrovias, portos e energia. Ajuda a melhorar a interlocução entre empresários e o governo sobre o reconhecimento recente de não haver mais espaço para a política fiscal e que empréstimo interno do Tesouro não é recurso, a não ser quando financiado com superávit fiscal. Vai melhorar ainda mais a sensação de alívio com a política de flutuação da taxa de câmbio, o que dará novo alento ao setor produtivo e às exportações industriais.

Envolverde

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