terça-feira, 28 de outubro de 2014

O Retrocesso foi evitado. Agora é preciso Avançar


Wadih Damous 


Se a presidenta negociar a frio com essa gente, sem apoio popular, figuras como Renan, Collor, Eduardo Cunha e companhia, vão colocar a faca no seu pescoço

As urnas falaram. Dilma Roussef e o PT ganharam um novo mandato e, por mais quatro anos, vão governar o Brasil.

Nas ruas viu-se um espetáculo de que já estávamos nos desacostumando: a militância petista com suas bandeiras vermelhas. Diante do risco da eleição de Aécio Neves, ela reapareceu e teve papel decisivo na vitória. É bom que não seja esquecida novamente.



O resultado eleitoral livrou o país de um grande retrocesso. Mas é preciso que se diga: muitos eleitores sufragaram o nome de Dilma para evitar uma volta ao passado. O não quer dizer, no entanto, que estejam plenamente satisfeitos com o presente.

O que se avançou nos governos de Lula e Dilma foi muito importante. O Brasil continua com uma estrutura social injusta, mas, certamente, menos injusta do que há 12 anos. Mas isso é insuficiente.

O retrocesso foi evitado. Agora é preciso avançar. O Brasil espera as reformas que foram prometidas e têm sido adiadas.

Espera por uma reforma política, que ponha fim ao predomínio do poder econômico nas eleições e na política brasileira e que constitui a fonte maior da corrupção.

Espera por uma reforma tributária, que taxe as grandes fortunas, pese mais a mão nos impostos diretos e faça com que os ricos paguem mais, desonerando os pobres.

Espera por uma reforma agrária, uma urgência de 500 anos.

Espera por uma democratização dos meios de comunicação de massa, especialmente os eletrônicos, pondo fim ao inconstitucional monopólio que existe no setor.

Essas e outras reformas mexerão com interesses dos poderosos. Mas isso não deve ser razão para postergá-las. Há um limite para que se avance sem contrariar interesses. Chega um momento em que é preciso tomar decisões, mesmo sabendo que haverá resistência. Como diz o ditado popular: ou o veado morre ou a onça passa fome.

Além do mais, faz-se necessário reconquistar a classe média, ou parte substancial dela e melhorar a prestação dos serviços públicos.

Essas mudanças são urgentes e necessárias. E são demandas do povo brasileiro.

Esse mesmo povo espera que Dilma não se transforme em refém da maioria conservadora no Congresso. Que, se necessário, recorra à sua participação direta, sob a forma de plebiscitos – demonizados pela mídia conservadora, mas previstos na Constituição – para livrar-se do jugo do Centrão e dos eternos donos do Legislativo.

A maioria do Congresso, formado por parlamentares de siglas sem definição política ou ideológica, vai querer cobrar seu preço para apoiar Dilma. Que ninguém se iluda - será um preço alto e indecoroso. Essa gente vai exigir cargos e vantagens no governo. Sabe-se bem para quê.

Aceitando ou não a participação desses partidos numa coalizão governamental, Dilma não pode ficar refém deles. Ou então, não fará qualquer reforma substancial. E, além disso, estará sujeita a se ver diante de mais e mais episódios de corrupção. Nesse sentido, o estreitamento de laços com os partidos e setores progressistas e de esquerda é mais do que desejável. É uma necessidade. O PT precisa voltar para as ruas. O governo deve dialogar de forma permanente com os novos movimentos sociais e não fazer coro com a sua criminalização. Não ter medo das manifestações populares é atitude que se impõe.

Se a presidenta negociar a frio com essa gente, sem apoio popular, figuras como Renan, Collor, Eduardo Cunha e companhia, vão colocar a faca no seu pescoço.

Por isso, não há outro caminho: Dilma e o PT precisam mobilizar a sociedade, compartilhando com ela as grandes questões nacionais e buscando nela apoio para as reformas. Ou o Congresso é mantido sob pressão, ou o governo não realizará as transformações estruturais prometidas durante a campanha presidencial.


*Presidente da Comissão da Verdade do Rio e da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB

Brasil 247

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