Divisão Social do Trabalho e Ideologia Burguesa
Emídio Quaresma (*)
Há milhares de anos atrás aconteceu a divisão social do trabalho e os meios de produção se tornaram privados, como vemos atualmente no capitalismo. A exploração do homem pelo homem se iniciou aproximadamente oito mil anos atrás; foi quando surgiu a classe dominante propriamente dita, que detinha e acumulava os bens necessários à vida, enquanto à classe dominada só restava a força de trabalho e esta passou a vendida ou trocada por suprimentos, como alimentos, roupas etc. Foi só no século XIV que a burguesia apareceu enquanto classe social e o capitalismo passou por três fases: capitalismo comercial ou mercantilista, capitalismo industrial e o capitalismo financeiro ou bancário. Na Revolução Francesa foi criado o Estado burguês, com sua democracia e o instituto das eleições burguesa, adotado até nossos dias.
A propriedade privada dos meios de produção, a exploração da mão de obra da classe proletária, o mercado, o lucro, o acúmulo de riqueza nas mãos dos burgueses (os ricos), a exploração dos ricos (minoria) sobre os pobres (maioria) ocupam o lugar central do capitalismo. O proletariado, a maioria dos seres humanos, é visto pelos ricos e os patrões apenas como energia de trabalho. Trabalham, mas o que recebe é apenas um salário que só dá para retornar ao trabalho enquanto escravo do capitalismo. Este trabalhador leva a culpa da miséria e da violência a que ele próprio e sua família são levados pelo capitalismo. Quem é que faz tudo na sociedade? O trabalhador proletário. Quem é que lucra na sociedade capitalista? O patrão. Aquele que trabalha não ganha pra viver com dignidade e o que não trabalha, o capitalista, ganha pra viver com ostentação!
Para compreendermos esta problemática, precisamos ir às causas, precisamos analisar o sistema político social e econômico em que vivemos – o sistema capitalista – o seu funcionamento, seus pressupostos e sua essência. Isto começa pela compreensão de que o Estado é uma organização social governada pela classe burguesa, que são: os donos do sistema financeiro, das fabricas, das terras. As instituições do Estado, como justiça, educação, religião, forças armadas, polícia etc. são controladas pelos ricos. O Estado burguês é um conjunto de atividades práticas e teóricas, a ideologia, as leis etc. que garantem aos ricos a sua permanência no poder, através da utilização tanto dos instrumentos de coerção (violência) como de consenso (ideologia, educação, leis, os meios de comunicação etc.) Enfim, com as suas instituições, garante a exploração sobre o proletário. Karl Marx disse que no capitalismo as idéias predominantes são as dos ricos. (burguesia ou classe dominante).
O conjunto das idéias e atitudes morais e religiosas, jurídicas, políticas e filosóficas que na sociedade firmam as pessoas em seus papéis, em função das relações sociais – chama-se ideologia. Essas idéias formam um sistema cultural que justifica e faz aceitar como natural a situação em que se vive. A ideologia serve para manter a exploração da classe dominante sobre a classe dominada, e assim consegue impor o sistema capitalista. Ela visa a que as pessoas se convençam de que este sistema é bom, de que não há outro possível (a burguesia nos fala pelos seus meios de comunicação querendo que nós acreditemos que o socialismo não existe mais, que foi um fracasso, e que os trabalhadores só servem para trabalhar e os burgueses para governar, de que o modo certo de trabalhar é assim, que é justo que o patrão fique com a maior parte.
A ideologia tem a função de adaptar os homens à sociedade em que vivem. Ela penetra de tal modo nas pessoas que elas passam a encarar esta situação de exploração como normal, ou seja, as pessoas não percebem que são exploradas e oprimidas e os que exploram e oprimem se acham com a consciência limpa. É interessante observar que a ideologia não é concebida como uma mentira que os indivíduos da classe dominante inventam para subjugar a classe dominada. Também os que se beneficiam dos privilégios sofrem a influência da ideologia, o que lhes permite exercer como natural sua dominação, aceitando como universais os valores específicos de sua classe. A função principal da ideologia é dissimular as divisões sociais e políticas; apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais por que participamos da idéia de humanidade, raça, nação, pátria, cidadania, etc. Somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades, de inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc.
As eleições burguesas são o consentimento que a maioria do povo dá para a burguesia continuar a explorar o povo e se perpetuar no poder, pois só através da violência física, econômica e ideológica isso não seria possível. A transformação da sociedade depende da nossa consciência de classe e do nosso compromisso de lutar e tomar o poder da burguesia. O poder burguesia é total- econômica, cultural, político, ideológico etc.- eles são donos das fabricas, dos bancos, das terras, governam o Estado burguês comandam logicamente a educação de uma forma bastante eficaz. E os governos burgueses usam projetos assistencialistas, denominados de ação de cidadania, para facilitar sua dominação sobre os mais pobres; e o pior é que ainda maltratam o povo, pois os que menos têm precisam dormir nas filas para pegar um número insuficiente de senhas com que serão atendidos por qualquer serviço público, ficando a maioria das vezes sem atendimento. É só propaganda política mentirosa.
Mas a história não chegou ao fim: a exploração, a opressão, a desigualdade não são dados eternos da realidade; o capitalismo não é o único, último ou definitivo modo de produção. A práxis é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. A práxis do proletário é o socialismo, alternativa ao capitalismo. A liberdade e a emancipação do proletário dependem do controle de seu próprio destino, de uma pátria livre do julgo burguês. O grande desafio que a história nos coloca é lutar contra os ricos que pretendem deter a nossa força de transformação revolucionária, como nos ensinam tanto o marxismo quanto o cristianismo libertador, o socialista marxista e o socialismo cristão. O compromisso político que desaloja os poderosos do trono custa suor, sangue e vida, isto é, a prática educativa emancipatória que requer do trabalhador uma tomada de posição classista pela missão histórica consciente e conseqüente de destruir o capitalismo que sustenta a exploração e privam o ser humano de seu pleno desenvolvimento.
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino de Deus. Felizes vós os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Mas ai de vós ricos, porque já tendes a vossa consolação.
(*) Emídio Quaresma é trabalhador em educação da SEDUC em Ananindeua, militante cristão e socialista.
Ponto de Pauta
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