O FOTOGRAFAÇO E A REPRESSÃO
Ademir Alves de Melo*
O Comitê Pró Candidatura Dilma Rousseff da UFPB convocou a comunidade universitária para um “fotografaço” nas primeiras horad da tarde desta quinta-feira, 16, na Praça da Alegria do CCHLA.
Como todos os que lutam pelo avanço do processo de mudanças com distribuição de renda e empoderamento social no desenvolvimento soberano do país, lá cheguei à hora aprazada. A ideia era de juntar as pessoas em uma jornada festiva marcada por fotografias, para o registro do encontro, respeitando rigorosamente a draconiana lei eleitoral.
Para surpresa geral a Justiça Eleitoral antecipou-se aos membros da comunidade, certamente convocada por algum “democrata” saudosista dos tempos da ditadura. Com os fiscais do TER também vieram numerosas viaturas policiais da PMPB. Os policiais postaram-se colados à parede do corredor fronteiriço à Praça, portando armas pesadas, revólveres, algemas e outros aparatos próprios para a confrontação em situação de tumultos com marginais.
Aos poucos foram chegando grupos de alunos, professores e técnicos administrativos e juntando-se aos demais, a comentar o desproporcional aparato de repressão montado dentro da UFPB. Fato inédito. Teriam entrado no campus universitário sem prévio entendimento com a Reitoria? É difícil de acreditar.
A indignação com a cena inabitual foi tomando conta de todos, sem que se encontrasse explicação lógica para tamanha demonstração de força, até que, de repente, um jovem estudante de Pedagogia subiu ao banco para protestar, porém, levado pela emoção, usando de palavras inapropriadas contra os fiscais do TER. Foi o suficiente para que os policiais avançassem para cima do mesmo, atropelando na arrancada quem estivesse pela frente, para dominá-lo, jogando-o ao chão para, em seguida, conduzi-lo algemado em direção a um camburão estacionado nas proximidades. Essa brutalidade acendeu os ânimos dos, até então, atônitos militantes, que esboçaram uma tentativa de impedir a consumação da prisão.
O que era para ser uma pacífica manifestação de solidariedade com a reeleição da presidenta Dilma Rousseff tornou-se um fato político de maior envergadura, extrapolando todas as expectativas de mobilização e despertando consciências adormecidas.
Para apaziguar os ânimos e estabelecer negociações com as autoridades, entrou-se em contato com o vice-reitor Eduardo Rabenhorst, tendo em vista a ausência da Reitora Margareth Diniz, momentaneamente fora do estado em reunião da ANDIFES. Rabenhorst mostrou solene indiferença às ocorrências a poucos metros de seu gabinete refrigerado. É um registro que envergonha as páginas da gestão universitária. O vice-reitor omitiu-se a resolver uma questão conflituosa que poderia ter tido desdobramentos piores, e sequer teve a dignidade de enviar um emissário, como o Procurador Jurídico ou um pró-reitor ao seu alcance. O sentimento geral de revolta com a repressão e contra o deplorável comportamento do vice-reitor parece fundir-se como peças de um mesmo drama.
Felizmente, a ex-diretora do CCHLA e atual secretária de Estado, Cida Ramos, teve a iniciativa e fibra de enfrentar os policiais, enquanto o presidente da ADUF, Jaldes Menezes, se apresentava para acompanhar o estudante até à sede da Polícia Federal, suprindo assim a ausência da autoridade universitária, omissa. O vice-reitor lavou as mãos, mas a água suja respingou em toda a comunidade acadêmica. A UFPB não merece um dirigente desse talhe.
Definitivamente, a UFPB merece uma missa. Ou talvez algo mais eficaz: um trabalho na encruzilhada.
* Professor doutor do Centro de Ciências Jurídicas
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