quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A ameaça do higienista hipermoderno




Juremir Machado

O higienista hipermoderno é um pré-moderno acelerado.

Ele quer o mesmo que seus equivalentes do século XIX, mas usa uma linguagem ligeiramente mais suave, salvo quando despenca para o insulto. O higienista teme o outro. Teme a diferença.

É fanático por segurança. Quer cercar tudo para evitar o contato com o que chama de “marginália”, englobando nessa categoria tudo que o horroriza: homossexuais, drogados, pequenos delinquentes, negros pobres, gente da periferia, funkeiros, pagodeiros, moradores de rua, vagabundos, etc.

O higienista é um preconceituoso que se acha de alto nível. É o famoso homem de bem, o portador do bom senso comum, o monstro de olhos turvos.

Quer viver nas fortalezas dos shopping centers.

Adora grades nas janelas das casas e nas portas dos apartamentos. Há quem as use por extrema necessidade. O higienista sente prazer em gradear-se.

Defende pena de morte e prisão perpétua para quase tudo.

Nem todos os higienistas são racistas ou homofóbicos. Quase todos.

Os higienistas costumam ser de direita, de extrema-direita, de ultradireita, mas têm por hábito assegurar que não há mais direita e esquerda, embora, dito isso, nunca mais parem de desancar a inexistente esquerda.

O higienista acredita nas aparência. É a pessoa que teme os mal-encarados, que escolhe funcionários pela “boa aparência”, que acredita na transparência da “alma” no rosto de cada um. O higienista quer limpar o mundo.

Quer varrer a “sujeira” da sociedade – esse outro incômodo – para longe. O higienista conserva algo – mesmo sem saber – das teorias deterministas do século XIX. Muitos acreditam que a criminalidade é genética e que a tendência para o crime aparece nas feições, no tipo de crânio, na estampa da pessoa.

Claro que nem toda pessoa que defende, por exemplo, o cercamento do Parque da Redenção é um higienista racista e determinista. Mas, nos argumentos que muitos enviam, há claros sinais disso. É gente que sonha com uma cidade asséptica, fria e brilhosa como o piso de um shopping, mas na qual se possa, se a preguiça exigir, jogar papel pela janela do carro poderoso.

O higienista hipermoderno é um primitivo que se vê como elite.

Quer que todos sejam educados desde que o Estado não tenha de pagar por isso. Defende serviços públicos de primeira qualidade e imposto zero.

O higienista é um idealista negativo.

Quer tudo para si e nada para os que considera o “rebotalho”.

Esse higienista descrito aqui é caricatural.

Na vida, muitos são bem melhores.

Outros, muito piores.

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