Na última semana, a Universidade de São Paulo foi objeto de várias notícias, desde sua queda brusca em um ranking internacional de avaliação até a invasão da reitoria por alunos. Diante dessas situações, nosso reitor achou por bem estabelecer um amálgama perguntando, em entrevista concedida a esta Folha: "Há alguma universidade muito bem classificada nos rankings mundiais em que aconteçam tomadas violentas de espaço, como as que voltaram a ocorrer na USP? Obviamente que não".
Sim, ele tem razão. Por isso, nunca entendi por que nossos reitores costumam chamar policiais militares munidos de metralhadora e bomba de gás lacrimogêneo para mediar conflito com estudantes. Também sempre me perguntei se não seria terrível para nossa reputação ter imagens nos jornais internacionais de policiais dispersando manifestações estudantis com balas de borracha.
Creio que a reputação ficaria ainda pior se alguém se perguntasse por que os estudantes se manifestam periodicamente: por uma estrutura acadêmica mais democrática. Pois há uma relação entre democracia e qualidade acadêmica.
Uma instituição mais democrática ouve sistematicamente seus professores e alunos, permitindo que as decisões fiquem mais próximas das reais necessidades de pesquisa e ensino. A luta por democracia na universidade não é estratégia para criar uma instituição mais corporativa, como alguns gostam de acreditar. É defesa de uma instituição mais racional em suas decisões e mais representativa das condições de trabalho que permitam o desenvolvimento de seus corpos docente e discente.
Por exemplo, na sacrossanta questão da internacionalização da USP, há prioridades que mereceriam um debate com nossos pesquisadores. A universidade gasta prioritariamente na concessão de bolsas para alunos de graduação, além de ter dispensado grande energia na abertura de escritórios em Londres, Boston e Cingapura, que ainda não demonstraram sua real função.
Não são poucos os pesquisadores que acham mais racional compreender que a USP chamará alunos estrangeiros quando suas pesquisas e pesquisadores forem melhor conhecidos em outros países. Isso exigiria priorizar não a graduação, mas a pós-graduação, pois é lá que está a pesquisa. Por outro lado, se a citação de artigos é uma questão que pesa de maneira decisiva nos rankings internacionais, melhor seria priorizar linhas de financiamento para a tradução de artigos acadêmicos de nossos professores, como várias universidades não anglófonas fizeram.
Em uma instituição mais democrática, a decisão sobre questões dessa natureza seria tomada por quem realmente trabalha e vivencia o "chão de fábrica" da academia.
Folha SP
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