sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Existe Matança Útil ?


Uma Pátria Raivosa

stavares@tce.pb.gov.br

Individualmente a maioria nega, mas no coletivo há um sentimento de violência e desrespeito aos direitos humanos no Brasil, arraigado à nossa sociedade que permite excessos que em outros países seriam combatidos.

Preso bom é preso morto. Lugar de bandido é no inferno. São frases ditas no cotidiano de nossa vida sem que se pese que fazendo isso estamos avalizando a violência policial, a tortura e o assassinato oficial.

A dura repressão da polícia paulista aumentou a crise quando o povo foi às ruas e a violência foi respondida com violência dobrada, saques e depredações. Polícia e povo constituem duas entidades diferentes e incapazes de conviver juntas.

Parte disso vem de nossa miséria. De tanto ver e participar da vida miserável, onde não cabem sonhos nem esperança, boa parte da população adota essa postura cínica mesmo quando eles são as maiores vítimas. Matam-se mais adolescentes negros que brancos, mata-se mais pobres que ricos, e tudo isso é varrido para debaixo do tapete ou disfarçado em estatísticas que apresentam uma polícia cidadã e solidária. A polícia brasileira é a única a utilizar armas de guerra em operações de rotina. Nem nos Estados Unidos, a pátria das armas policiais que atendem casos comuns portam apenas uma pistola e somente os grupos de elite usam fuzis e metralhadoras.

Veja-se a matança de presos aqui na Paraíba. Quando são soltos, um dia ou dois depois amanhecem mortos de maneira bárbara. Não é um caso ou dois. São centenas, numa repetição que estabelece uma clara ligação entre quem prende e quem mata. Ex-presidiário é marcado para morrer, seja por inimigos de gangue, seja pela força policial. O mais lamentável disso é que toda essa violência é antes de tudo inútil. O crime continua crescendo, como crescem o tráfico e as misérias sociais que não podem ser combatidas a tiros.

Jornal da Paraíba


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