Luciano Siqueira
Quem é quem nas frentes partidárias? A pergunta circula entre militantes, ativistas e observadores da cena política – como geralmente acontece em todo período pré-eleitoral -, em tom de estranheza e inquietação. Isto quando se celebram alianças entre partidos de inclinação política e ideológica díspares, ou que até a véspera frequentavam palanques opostos.
“Misturar alhos e bugalhos pode dá certo?”
, pergunta um repórter que me entrevista sobre o novo cenário recém-instalado no Recife. Respondo que sim, sem pestanejar, e de pronto faço referência a diversas coalizões marcadas precisamente por acentuada diversidade, que produziram (e produzem) grandes resultados.
Eis um exemplo emblemático. Lula não teria realizado tanto como realizou se não tivesse a capacidade de unir forças as mais variadas para lhe garantir maioria parlamentar na Câmara dos Deputados e no Senado. Em 2002 e em 2006, a maioria dos parlamentares eleitos pertencia a legendas que na campanha apoiaram Serra e Alckmin, respectivamente. A governabilidade exigia alargar a base de apoio do governo, justamente agregando algumas dessas legendas.
Os índices de aprovação popular alcançados pelas duas gestões consecutivas de Lula, fruto da realização de mudanças reais, que repercutem sobre a vida da população, comprovam que, nesse caso, a coalização que parecia juntar “alhos e bugalhos” deu certo.
No governo Dilma ocorre algo semelhante, apenas com a diferença que a maioria parlamentar brotou antecipadamente das urnas. Mas a coalizão é igualmente ampla e diversificada, englobando partidos de todos os matizes, da esquerda aos de extração conservadora.
E, o que precisa ser assinalado em negrito, a “cara” da coalizão eleitoral e do governo é dada pelo programa que obteve a aprovação do eleitorado. Por mais multifacética que seja a aliança, o programa é que define a sua sua essência.
Demais, a presença numa determinada coligação de correntes que até ontem compunham o campo adversário há que se absorvida como positiva. Pode agregar contribuição à proposta de governo, além de acrescentar força no embate eleitoral. Errado seria interditar novos apoios por mero preconceito ou sectarismo, o que se assemelharia à insensatez de solicitar aos novos aliados que retornassem às hostes adversárias para, no campo da batalha, voltarem a nos combater!
Portanto, a análise deve ir muito além da percepção superficial do desenho da coalizão; precisa mirar o programa apresentado perante o povo – que, afinal, através do voto, o aprovará ou não.
Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
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