Jandira Feghali
Rosto à mostra e uma câmera na mão. Verdadeiramente, não há como definir um cidadão neste perfil, durante a filmagem de um protesto, como um provocador oportunista e perigoso à ordem. A ação da mídia independente brasileira desafia o olhar tradicional da grande Mídia e o faz de forma criativa, moderna e o mais importante: livre.
Os protestos fluminenses trazem suas pautas sociais, como mais saúde e educação, passando pelo campo dos direitos humanos, como o sumiço do pedreiro Amarildo na comunidade da Rocinha, na Zona Oeste do Rio, a violência sexual contra as mulheres e a homofobia. Mas será que os temas que ecoam nas ruas chegam a todos nós? E se chegam, será que nos alcançam em sua versão real e não editada?
Os grupos de mídia livre aparecem exatamente aí. É quando surge a sigla mais ativa neste processo, desmembrada em “Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação”, ou, simplesmente, NINJA. Sua ação se inicia por coletivos de mídia independente do País que ampliam o debate sobre a exposição das notícias, a forma de retratação sem tendência, onde a câmera do celular de última geração é um gigante na luta pela democratização da informação. São aparatos simples, porém com tecnologia avançada, fruto de uma modernidade cada vez mais acessível ao cidadão brasileiro. Os Ninjas são arteiros, inteligentes e ávidos pela realidade. Fazem isso sem segredo.
Um dos braços por trás da ação Mídia Ninja é o coletivo Fora do Eixo, que reúne jovens de todos os estados, inclusive das capitais Cuiabá e São Paulo, onde se concentram. Erra quem pensa que eles surgiram apenas nessas manifestações. O trabalho Ninja é um forte motor na divulgação e consolidação da cultura e diversidade brasileira. Esses comunicadores são responsáveis há tempos por reverberar o que ocorre, por exemplo, com os mais de 3 mil Pontos de Cultura do Brasil, da dança folclórica do Norte ao grupo de rock alternativo do Rio Grande do Sul. Das festas tradicionais nordestinas, dos encontros e debates universitários e de muitos temas que não são de interesse da mídia tradicional. Ninjas são soldados da realidade. Da que existe diariamente, não da que é comercializada em “pílulas”.
Nem todo mundo sabe ou está preparado para lidar com o real. E foi exatamente isso que aconteceu no Rio, na segunda-feira (22), durante os conflitos entre provocadores mascarados e a polícia militar. Enquanto um Ninja filmava da rua a ação da corporação, um policial o deteve com argumento inconsistente de “averiguação”. Revistou mochila, não encontrou nada, mas mesmo assim o levou para a delegacia do Catete, de forma arbitrária. Quebrava-se, naquele momento, o fundamental e constitucional direito e liberdade de imprensa. Prática indissociável do Estado democrático de direito.
O jovem fora solto após trabalho incansável de profissionais da Ordem dos Advogados do Brasil. Também busquei diálogo com a chefe da Polícia Civil, Marta Rocha, por telefone, defendendo o direito de comunicação do Ninja e sua libertação. Logo após a soltura, a Mídia Ninja e a sociedade reagiram efusivas. Foi assim na rua, como também nas redes sociais – um dos pilares dessa comunicação.
É dever do Estado e de todos nós, parlamentares ou gestores, dar formas de crescimento a este segmento. Há 20 anos que trabalho por isto e a própria Comissão de Cultura da Câmara, a qual presido, já caminha nesse norte. Nossa meta hoje é garantir novas formas de financiamento por bancos públicos e privados, políticas que fomentem seus pequenos grupos e o Marco Regulatório da Comunicação. Neste campo, ressalto, também entram rádios e TVs comunitárias, sites, blogueiros e webtv.
À primeira vista, os Ninjas podem parecer órfãos, mas possuem parceiros importantes nesta empreitada. Somos nós, a sociedade civil e todos aqueles que compreendem que a liberdade de ter um rosto à mostra e portar uma câmera na mão é a garantia de um País democrático também.
Jornal do Brasil
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