quarta-feira, 24 de junho de 2015
Movimento propõe reformas no PT
Najla Passos
O PT perdeu a grande oportunidade de transformar seu 5º Congresso, realizado em Salvador (BA), de 11 a 14/6, na mola propulsora para operar as mudanças que sua militância e o país tanto cobram do dito maior partido de massas da América Latina. Não se reavaliou, não mudou seus já mais do que desgastados procedimentos internos, não repensou seu projeto para este Brasil que não é mais – até por mérito do próprio partido - aquele da época da sua fundação.
A notícia boa é que viu nascer dentro de si uma força poderosa que clama por este movimento mais do que necessário para lhe salvaguardar do lugar comum na desgastada política brasileira. O movimento “Mudar o PT para continuar mudando o Brasil” foi chancelado por mais da metade da bancada de deputados federais da sigla, tem o apoio público de senadores petistas, de lideranças dos movimentos sociais e daquela parcela mais orgânica da sua militância.
No Congresso, ainda prevaleceram as diretrizes dos caciques de sempre e da militância mais institucionalizada. Como os delegados que tiveram direito à voz e ao voto foram escolhidos lá atrás, em 2013, em um outro contexto da política nacional e do próprio partido, é natural que suas decisões pouco expressem os humores da base petista mais indignada com esta última guinada à direita, que resultou no polêmico ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy e na manutenção da cada vez mais falida política de alianças.
Ainda assim, a nova força pró-mudanças conseguiu abarcar 40%, até 45% dos votos dos delegados em várias deliberações. Conquistou correntes inteiras do partido e nomes que transitam em pelo menos seis delas. Não é pouca coisa. Resta saber se continuará coesa e articulada para enfrentar a luta com aqueles que preferem manter tudo como está. Se conseguirá reinventar o PT enquanto ainda é tempo.
Essa nova força parte da avaliação de que o PT precisa de autocrítica e mudanças com urgência. Atualizar seu programa partidário e, principalmente, recuperar sua capacidade de pensar o país e dar respostas aos grandes temas nacionais. “O PT foi, gradual e aceleradamente, perdendo a capacidade de formular e de pautar, por si mesmo, o debate nacional, a disputa política e ideológica na sociedade. A ponto de ser comum a cobrança da militância frente à nossa incapacidade de interferir nos rumos de nossos governos”, diz o manifesto deste novo movimento.
Mesmo reconhecendo as conquistas dos 12 anos de governos petistas e sem propor qualquer espécie de ruptura com o governo da presidenta Dilma Rousseff, reivindica o direito de ser consultado sobre a adoção de políticas polêmicas, como o ajuste fiscal em curso, de caráter visivelmente neoliberal. “Este reposicionamento adota políticas de caráter recessivo, com aumento de juros que provoca desaceleração econômica e desemprego. Este é um debate que o PT precisa fazer de forma profunda, responsável e solidária, sem se omitir para ser ouvido”, enfatiza o texto.
A nova força avalia que o partido que encantou o Brasil e o mundo, ao longo do tempo, perdeu algumas das suas boas práticas internas, em especial a da formação política. “Os núcleos de base foram esvaziados e o debate político e ideológico foi empobrecido. As eleições internas passaram a ser marcadas por vícios que sempre combatemos nas eleições gerais. A exemplo de outros partidos, criou-se uma crescente dependência do financiamento empresarial”, critica o manifesto.
Por isso, o movimento reivindica, além de um novo esforço para repensar qual deve ser o modelo de desenvolvimento do país, mudanças profundas dentro do próprio PT. Mudanças que inibam a participação dos seus quadros em práticas de corrupção, que minimizem o poder do dinheiro nas decisões internas, que primem pela transparência na utilização dos recursos arrecadados, que fortaleça sua disposição de lutar em conjunto com os movimentos populares e demais forças de esquerda, que reveja a política de alianças partidárias.
Os caminhos apontados começam pela realização de um congresso constituinte em novembro deste ano. Nas palavras do próprio documento: “para reafirmar nossos compromissos com o Brasil, para fazer um balanço partidário, para atualizar nosso programa, para revisar nossa organização interna e para eleger uma nova direção”.
Passa também pela mudança do processo interno de eleições diretas. O entendimento é que em um partido de militância institucionalizada há mais de 12 anos, com tendência de crescimento mesmo frente à forte crise interna, devido principalmente ao potencial de cargos nos governos, vence quem consegue mobilizar mais gente para as votações, inclusive com uso do poder financeiro, do que aqueles que apresentam as melhores teses ou propostas para o país.
O movimento “Mudar o PT para continuar mudando o Brasil” perdeu a batalha do 5º Congresso, mas na avaliação dos seus principais articulares, tem força suficiente para crescer e reinventar o partido. “O PT é uma ferramenta de luta que, como uma faca qualquer, com o tempo foi perdendo seu corte. Mas esse movimento gerou, no Congresso, uma polarização enorme que ainda pode vir a gerar mudanças”, avalia o deputado Paulo Teixeira (SP), um dos que subscrevem o documento.
Carta Maior
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