Raquel Rolnik
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Recentemente estive em Caruaru, no agreste pernambucano,
para participar de um evento e, na ocasião, tive a oportunidade de visitar um
empreendimento local do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) que tem sido
muito elogiado por seu projeto arquitetônico. Trata-se do residencial Wirton Lira, desenhado pelo escritório Jirau Arquitetura, da própria cidade. O projeto foi um dos selecionados para representar o Brasil na 14ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, realizada no ano passado. Quem vê as fotos do projeto realmente se surpreende, dada a completa mesmice da maior parte dos empreendimentos do tipo, que apenas reproduzem o mesmo modelo. As áreas que foram destinadas a ruas e espaços públicos, como mostram as fotos do dia da visita, são a imagem do abandono, com acúmulo de entulho e lixo. Faltam equipamentos e serviços públicos e as oportunidades de emprego e de acesso à educação, lazer e cultura estão bem longe dali. Isso mostra que arquitetura desvinculada de urbanismo não funciona e que montar uma máquina de produção de casas – vem aí o MCMV 3! – sem sequer considerar a absoluta inexistência de qualquer política ou programa que apoie a produção de cidade não levará a resultados de qualidade. Obviamente, isso não é responsabilidade do escritório que elaborou o projeto, mas mostra que continuamos reproduzindo um modelo de produção de habitação social totalmente incapaz de atender os requisitos de uma moradia adequada, que incluem o projeto da residência, sim, mas vão muito além disso. |
Correio da Cidadania
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