terça-feira, 23 de junho de 2015
Cura para a intolerância e o obscurantismo
Michel Zaidan
Faria muito bem aos ministros das igrejas neo-pentecostais e pentecostais do Brasil que pesquisassem mais sobre as causas da intolerância e do preconceito contra as religiões, as opiniões e as orientações sexuais dos outros, antes de buscarem na literatura médica especializada uma "cura" para a identidade gay, lésbicas ou transexuais. Pode ser que esta pesquisa revele outra doença mais grave: a ignorância e a falta de tolerância para com o outro. Poderiam começar lendo o livro da escritora e filósofa Simone de Beuavoir, a companheira inseparável de Jean-Paul Sartre.
Segundo ela, não se nasce mulher, torna-se mulher. Em outras palavras, a questão da identidade feminina é de natureza cultural, é movel e múltipla. Tem uma natureza simbólica e social muito grande. Buscar fundamentos biológicos ou fisológicos para explicar a natureza humana foi o caminho que o fascismo e o nazismo – bem como as políticas de limpeza étnica – trilharam, quando propuseram a superioridade da raça branca, cristã e ocidental sobre as outras.
Ajudaria muito aos missionários pentecostais uma leitura da obra de Freud "Tres ensaios sobre a sexualidade", para que entendessem como se dá a genese e a evolução da sexualidade humana – suas tres fases: a oral, a anal e a genital – e como se deu a especialização genetial da sexualidade, de acordo com os imperativos da revolução industrial, tanto como a criminalização e medicalização da sexualidade polimorfa (chamada pelos conservadores de "perversa"). Interessante e oportuna seria também uma leitura da obra de Hebert Marcuse sobre a dessexualização que a sociedade do trabalho operou sobre o corpo dos trabalhadores, para que eles se concentrassem no trabalho.
E lessem o sociólogo alemão Max Weber sobre a "ética puritana do trabalho" e sua relação com o desenvolvimento do capitalismo. Tudo isso ajudaria muito a curar a ignorância e a falta de respeito pelos direitos civis e sociais das minorias. Sobre o modelo de família, tão apregoado pelos evangélicos, valeria apenas passar os olhos nas pesquisas de Malinoswski sobre as sociedades matriarcais das ilhas do Oceano Pacífico, sobre as transformações do código civil brasileiro e, acima de tudo, a obra "O poder da identidade", do já referido Castels que aborda as transformações do modelo atual de família, sob o impacto do movimento feminista e do movimento gay.
Se fôsse dizer a esse zelosos defensores da fé cristã que as pesquisas da Escola de Frankfurt mostraram que a personalidade autoritária, sobre a qual se erigiu o Estado nazi-fascista na Alemanha e na Itália, estava relacionado com esse modelo tradicional de família, com a forte repressão sexual da mulher e dos homossexuais, bem como com a acumulação de riquezas, eles com certeza enfrentariam uma crise de identidade. Desde muito tempo, sabe-se da etiologia sexual das neuroses da sociedade contemporânea. E a religião (cristã) tem uma elevada parcela de responsabilidade por isso. A misoginia e a homofobia andam de par com a religião, cuja mortificação dos sentidos e desejos vêm de longe. Dizia Nietzsche que a essência do fanatismo religioso estava na castração ou na infelicidade dos religiosos. Quanto mais infelizes e frustrados, mais inflexíveis, rígidos e intolerantes.
Se é para ser religioso (e cristão), adotemos então a formulação feuerbachiana da essência do Cristianismo: a religião é o suspiro da criatura oprimida, é a busca da sagrada família humana no céu. Ou seja, a sublimação dos melhores sonhos e desejos humanos. E adotemos a "ética do cuidado", da responsabilidade mútua de uns com os outros (esses outros bem diferentes de nós) e de todos com a natureza
Blog do Jamildo
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